A caixa de Pandora

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A Esperança. Hoje também, parece ser o que nos resta.
Talvez a única arma que teremos para lutar contra
o mal desatinado que foge ao controle de todos.

Segundo a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher da terra, criada por ordem de Zeus. Ela teve em seu poder um jarro contendo todos os males do mundo.

Conhecido como a Caixa de Pandora, esse recipiente não deveria jamais ser aberto. Pandora, no entanto, não resiste à curiosidade (talvez maldade ou ingenuidade) e abre a caixa. Uma vez aberta, não é mais possível impedir que o horror se espalhe pelo mundo.

A expressão “abrir a caixa de Pandora” costuma ser utilizada para se referir a uma ação que iniciamos, no sentido de pôr em movimento forças destrutivas, e que não somos capazes de interromper.

Ao longo de séculos, talvez milênios, a humanidade tem evoluído no sentido de inibir os seus instintos nocivos e incentivar a cooperação e a convivência em grupo. A civilização só é viável porque conseguimos manter sob controle a nossa tendência para o individualismo e para a aniquilação do outro.

Vivemos pacificamente e trabalhamos juntos de forma produtiva na medida em que somos capazes de conter nossa pulsão destrutiva. De tempos em tempos, algo escapa da caixa. São as guerras, genocídios, tragédias humanas de grandes proporções, e também as violências do nosso dia a dia.

Sem querer ser apocalíptica, observo os fatos dos últimos meses, no Brasil e no exterior, e sinto como se a terrível caixa estivesse novamente se abrindo. Agressões, apologia à violência, a situação dramática dos imigrantes, destruição, ataques motivados pela intolerância, parece que uma terrível energia negativa está entre nós.

E é cada vez mais comum ouvirmos aqueles que ocupam posições de liderança sugerindo que deixemos aflorar nossos instintos mais terríveis, ou relativizando o mal. Eles o libertam sem perceber que não serão capazes de conte-lo. Palavras não são só palavras, expressam pensamentos e motivam ações.

Diz a lenda que Pandora, ao perceber o equívoco de seu ato, consegue fechar a caixa. Porém o mal já havia sido libertado, estava fora de controle. Permaneceu na caixa apenas um de seus conteúdos: a Esperança. Hoje também, parece ser o que nos resta. Talvez a única arma que teremos para lutar contra o mal desatinado que foge ao controle de todos.



Em outra publicação no site, já afirmamos: Não basta seguirmos em frente cumprindo nossas tarefas. Sim, precisamos nos envolver. Precisamos denunciar a corrupção, enfrentar a violência, combater a intolerância, cuidar de todas as crianças, restaurar os prédios, recolher o lixo”.

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