A imagem, a verdade e o eu

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Para os adolescentes, o sentido das coisas é dado através da imagética. É a partir dela, mais do que das palavras, que eles organizam suas histórias.

Toda a imagem é o fragmento de uma história. Traz, em si, a potencialidade para uma narrativa. Uma sucessão de imagens forma um enredo e permite a construção do eu, tanto para o sujeito retratado quanto para os que o observam. No entrelaçamento das imagens, funde-se um olhar inusitado.

A imagem, na vida digital, tem valor de verdade. É instrumento para a constituição do eu. Percebe-se isso, principalmente, em relação às gerações mais novas. Para os adolescentes, o sentido das coisas é dado através da imagética. É a partir dela, mais do que das palavras, que eles organizam suas histórias.

Como exemplo, relato a experiência a seguir.

Quando iniciei a dar aulas na EMEF Daniel Dipp, ao deparar-me com uma aluna lendo, fotografei-a com seu livro e postei a foto em minhas redes sociais como forma de valorizar o ato da leitura. Na semana seguinte, vários outros alunos apareceram com obras literárias, exibindo-as.

A intenção era clara: eles também desejavam ser fotografados.

Desde então, quando encontro algum aluno lendo, convido-o para tirar uma foto. Alguns são tímidos e não aceitam. Notei, no entanto, que, após alguns estudantes terem aceitado, outros passaram, inclusive, a pedir para serem fotografados.

Não basta, assim, ler; é preciso que esse momento torne-se um fragmento imagético, postado nas redes. Visto pelos demais, ele é autenticado e passa a ter um status de “verdadeiro”.

É função da escola direcionar os alunos para formas saudáveis de uso das redes, bem como para a criação de bons espaços virtuais. Isso passa pelo correto direcionamento das imagens como forma de criação de relações assertivas.

Na vida digital, uma foto nunca é apenas uma foto. É uma afirmação do eu, algo essencial para qualquer um e, ainda mais, para um adolescente. Uma fotografia, quando postada, pode ser curtida, compartilhada, comentada ou ignorada — formas de acolhimento.

Os mais velhos, talvez, achem tudo isso estranho. Entretanto, em uma vida digital, as coisas funcionam assim.

Sorria para a foto, portanto.

Autor: Aleixo da Rosa, autor da crônica “Apenas dou aulas”: https://www.neipies.com/apenas-dou-aulas/

Edição: A. R.

1 COMENTÁRIO

  1. De repente com a imagem dessa aluna houve incentivo para colegas dela e muitos porque querem aparecer nas redes sociais e buscam formas de encontrar conteúdos que abranjam seu objetivo perante a sociedade através das redes sociais muitas pessoas usam esse meio para ganhar dinheiro este mesmo adquirem as redes sociais como profissão. E outros é mesmo por amor a leitura e aos livros como o caso da minha filha que seu hobby preferido é ler e a emoção maior é poder folhear o livro porque com a tecnologia de hoje poderia ler pelo celular, notebook, etc.

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