A arte e seu poder transformador

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O ensino da arte na escola tem um poder transformador, pois amplia a capacidade de solucionar problemas, há um melhoramento da criatividade, aumenta a autoestima, faz o aluno provocar seus limites e cresce seu repertório cultural e estético.


Adaptados nesta nova realidade, na qual tudo é feito e resolvido através de recursos online e as relações são baseadas em aplicativos, não paramos para pensar nem apreciar o suficiente sobre arte.

Pode-se dizer que na arte existem inúmeros pontos não resolvidos, uma vez que não há uma definição clara sobre sua composição, o que torna o fazer arte uma tarefa angustiante. Mas toda atividade humana tem seu momento de angústia e, como dizem, “o antagônico da angústia é o sucesso e a vitória”.

Tenho angústias como todos nós seres humanos e elas ocorrem muitas vezes diante de possíveis indagações a respeito dos meus critérios no instante de fazer aquilo que se chama criação artística. 

Fernando Pessoa considera que a criação artística implica na concepção de novas relações significativas, graças à distanciação que faz do real. O poeta parte da realidade, mas distancia-se, graças à interação entre a razão e a sensibilidade, para elaborar mentalmente a obra de arte.

Na criação da arte, é fundamental haver liberdade e sensibilidade. Como artista plástica, não uso raciocínio lógico na criação, me perco nas linhas, nas curvas que se encontram e alteram significados, que compõem imagens, figuras incomuns e que são constituídas pelas cores e pela ausência delas. Eu crio com liberdade e emoção, pinto aquilo que me emociona, que me é significativo e sobre tudo que me apraz. Geralmente abordo questões do feminino porque, como já dizia Frida Kalho, “é o assunto que conheço melhor”.

Em trabalhos passados abordei a dor emocional, a força e resiliência das inúmeras mulheres que apesar de despedaçadas encontram coragem para se reestruturarem e colocam toda sua energia na tarefa de criar seus filhos, com delicadeza e sorriso no rosto. 

Há quatro anos me debrucei sobre os movimentos do corpo, algo tão simples que fazemos todos os dias sem pensar, sem refletir, sem dar a devida importância para essa engrenagem genial que é o nosso corpo.

Devo confessar que só parei para contemplar esse fenômeno do corpo em movimento quando meu pai sofreu um AVC e teve todo o seu lado esquerdo do corpo paralisado. Sem um corpo completo coisas simples como comer, ir ao banheiro e beber agua passam a ser movimentos extremamente difíceis.

No último ano, voltei as minhas origens e me encontrei fascinada pelo Sagrado Feminino, em minhas leituras percebi que na mitologia de muitos povos a mulher tem papel fundamental através de uma Deusa-Mãe, representada como a deusa geradora da vida, da natureza, das águas, da fertilidade e cultura.

Na maioria das civilizações pagãs as deusas são as criadoras do Universo, conhecidas como qadesh (sagrado), elas são apresentadas como responsáveis por gerarem vidas, culturas, a linguagem e a escrita. Na mitologia grega a Deusa-Mãe ou Mãe-Terra é personificada como Deusa Gaia, a primordial geradora de todos os deuses, um dos primeiros elementos que surgiu no despontar da criação, junto com o ar, o mar e o céu.

Como professora não desvinculo o meu fazer artístico do meu dever de ensinar, por isso me encontro novamente angustiada. Para ensinar Arte é preciso ensinar a ler textos sem palavras, explorar fotografias, pinturas, ilustrações e charges, é preciso saber a gramática própria que rege a linguagem visual e contextualizar as condições de produção de cada obra estudada.

Assim como os grafites nas ruas, os comerciais da TV, as pinturas em livros e as obras de arte são formados por sinais, por elementos que formam a linguagem visual que precisam ser decodificados, lidos, para serem compreendidos. Expressões artísticas com características próprias precisam ser dialogadas com as turmas para que sejam realmente lidas e não “adivinhadas”.

 Hipóteses sobre o significado:

  • A composição é abstrata ou figurativa?
  •  O espaço é bidimensional, tridimensional ou plano?
  •  Existem linhas na imagem?
  • De que tipo: retas ou curvas, finas ou grossas?
  •  A opção por um tipo de cor (quente, fria, clara, escura) está ligada ao horário do dia ou estação do ano?
  •  E quanto às texturas: alguma camada passa a sensação de maciez, dureza, lisura ou aspereza?
  •  O trabalho é complementado com a análise de outros elementos formais da linguagem visual – formas, luminosidade, técnicas, gênero (retrato, paisagem, natureza-morta) e estilo a que a obra pertence. 

Somados aos textos verbais, essas linguagens ajudam os alunos a interagir com o mundo e a se expressar melhor.   “Colocar os alunos para produzir com os conhecimentos adequados das obras artísticas, surgem atividades de contextualização”.

As atividades artísticas são na verdade o contato mais direto do aluno com a arte, pois são inúmeras possibilidades de experimentações das linguagens artísticas como o desenho, a pintura, a escultura, o teatro e a musica, e compete à arte-educadores uma reflexão mais intensa em relação à aprendizagem de arte nas escolas, embasada nos procedimentos artísticos.

O ensino da arte na escola tem um poder transformador, pois amplia a capacidade de solucionar problemas, há um melhoramento da criatividade, aumenta a autoestima, faz o aluno provocar seus limites e cresce seu repertório cultural e estético.

O que é mais significativo do processo de aprendizagem é o momento em que o aluno, com autonomia, começa a admirar o trabalho artístico, interpretando e identificando suas características.  O aluno também passa a consumir arte de forma natural, seja através de filmes, vídeos, música, internet ou até mesmo ao observar a arte ao seu redor no cotidiano.


Autora: Clea Batezzini, professora e artista plástica.

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