Um palco e uma passagem

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Aproveitemos, ao máximo,
o nosso único e maior palco,
sem desperdiçar oportunidades
de aprendizagem.


Se você já foi meu aluno, quero saber como você está.

Este foi o texto de um post em uma rede social.

Afinal, as últimas semanas deixaram grande vácuo. Causaram ansiedade e decepção a professores, pois não houve condições de medir e mediar a aprendizagem dos estudantes. À distância, sem trocas, ficou quase impossível saber, medir ou dar sentido às aprendizagens e conhecer resultados pelos esforços empenhados. Aí, parece, o trabalho do professor, agora à distância, perde muito em sentido e valor.

Respondendo ao meu pedido, alguns estudantes se manifestaram dizendo que estavam bem, que estão trabalhando, cuidando da sua família, que tem saudades de minhas aulas instigantes e provocativas para o pensar.

Lembraram que é preciso pensar bem, para viver melhor, como ensinaram os sábios gregos. Disseram também como a filosofia é importante para ajudar a refletir as coisas importantes da vida.

Outros destacaram o Ensino Religioso como uma disciplina que ajudou a cultivar o respeito das diferentes religiões, a partir do conhecimento. Disseram ainda que aprendendo os fundamentos de algumas religiões, fica mais fácil respeitar as religiões diferentes daquelas praticadas por cada um.

Mas o inesperado aconteceu. Um amigo, destes de rede social, comentou: “eu não fui seu aluno, mas todos os dias aprendo bastante com o Senhor aqui. Te considero também meu professor, mesmo nunca tendo frequentado tuas aulas”.

Pois é, edito um site, gravo vídeos e sou bem ativo nas redes sociais. Mas qual é o alcance destas ferramentas para a educação? Será que estes conhecimentos possuem também poder de nos humanizar, de nos tornar seres humanos melhores?

Decidido, voltei à rede social e postei: se você é meu aluno e eu ainda não sei, me avise: quero saber como você está”.

Agora, mais do que nunca, quero saber mais sobre esta ideia de ensinar sem saber que se está ensinando. Quero estar disponível para aqueles que ensino, mesmo sem saber.

Já aprendi que educar vai além da escola, pois ela não é o único lugar de aprendizagens significativas. Educar significa entender que sempre é tempo de aprender e de ensinar e que não há idade e nem espaços físicos ou sociais determinados para as aprendizagens relevantes para vida de todos nós.

Alivia saber que há possibilidades de educar fora das salas de aula, nestes tempos de isolamento físico e social. Salas de aula (presenciais ou virtuais) são importantes na vida dos estudantes e professores e jamais podem ser substituídas porque permitem relação direta, relacional e significativa entre estudantes e professores. Mas, …

Compreender as relações de aprendizagem fora das escolas é importante e necessário.

Vida e palco, escola e passagem se fundem na maior arte que é viver. Mas, quem é ligado à educação sabe que nunca sabemos tudo e sempre haverá muito o que aprender. Somos eternos aprendizes.

Assim já escreveu filósofo e professor Sérgio Sardi: “há muito mais entre o aprender e o ensinar que uma relação direta e linear possa dar conta. Há muito mais que as palavras possam dizer. O gesto unilateral que põe, de um lado, o ensinar e, de outro, o aprender, é míope com relação ao que mais importa: o inusitado, o encontro, o prazer que confere sentido humano ao tempo das nossas vidas”.

Aproveitemos, ao máximo, o nosso único e maior palco, sem desperdiçar oportunidades de aprendizagem.

Esta crônica fará parte do Projeto Flores de Quarentena

O projeto “Flores da Quarentena” surgiu em um encontro virtual da SPV – Sociedade dos Poetas Vivos. A ideia foi proposta pelo escritor e editor Pablo Morenno e formatado com a colaboração do escritor Aleixo da Rosa e demais escritores da SPV.
O principal objetivo é motivar os escritores do grupo a escrever e postar uma crônica na página homônima no Facebook. A crônica deveria ter até três mil caracteres e mostrar, real ou metaforicamente, uma flor do cotidiano da pandemia da Covid-19.
Além da publicação na página da SPV, os autores dos textos se submeteriam à avaliação crítica do grupo, em reunião virtual. Assim, o projeto transformou-se também em uma oficina literária.
É intenção do grupo publicar um livro, a princípio em formato de e-book e, posteriormente, em papel. Os autores que desejarem participar também do livro, que sairá sob o selo Trigais, submeterão os textos aos organizadores da antologia, com nova leitura e discussão de formato e linguagem.
O projeto é, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre a vida na pandemia, um exercício de escrita à luz da intersubjetividade, uma valorização dos escritores e da realidade local, e uma motivação à escrita literária.
Por fim, o editor Pablo Morenno pretende disponibilizar o livro em projetos de leitura em escolas, tendo jovens alunos como público-alvo.

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