Tempo de refletir e discutir política

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Enquanto nos omitimos em participar
(tomar parte) na política, outros o fazem por nós.


Estamos em campanha eleitoral e, a partir da nossa fé e compromisso de cidadãos, devemos nos envolver neste processo, mesmo não sendo candidatos a cargos eletivos, exercendo o direito de todo o cidadão domiciliado no Brasil.

Nosso envolvimento será profundo através da escuta, discernimento e escolha dos representantes, uma vez que o voto é uma forma de promover o bem comum, finalidade da política. Desta campanha depende o futuro legislativo e executivo dos municípios que terão em 2021 novos vereadores e prefeitos.

Lembremos que é um debate importante pelo momento decisório que se avizinha. Entretanto, não está desconectado da necessidade de constante discussão política, o que foi marcante na sociedade grega, de onde se origina o termo (pólis – cidade), que diz respeito à arte de governar a cidade. Infelizmente, ainda reduzimos a política apenas ao período pré-eleitoral. Seu sentido é mais amplo e profundo.

A política está em tudo e muitas coisas dependem da política. Diz respeito ao cuidado e proteção da vida de todos. Logo, não podemos nos omitir em participar da política.

O fundamento dessa participação é uma expressão sugerida pelo Papa Pio XI (1857-1939), referenciada tanto pelo Papa São Paulo VI (1897-1978) e, também, pelo Papa Francisco que define a política como “a forma mais sublime de caridade porque busca o bem comum” (EG 174).

Infelizmente, por parte de muitos cristãos e a partir de um escrúpulo equivocado, buscou-se fugir do debate e da participação política. Afirma-se de forma errada que o “bom cristão” não deve se envolver com política. Está no senso comum das pessoas a desculpa que “não se metem em política porque ela é suja”. Contudo, isto é um equívoco ainda não superado e que traz muitos malefícios. Enquanto nos omitimos em participar (tomar parte) na política, outros o fazem por nós.

A política, como tema de debate e de ação, precisa fazer parte do nosso cotidiano. É responsabilidade maior dos cristãos que seguem o homem de Nazaré, o Filho de Deus. Ele, politicamente, começou a sua missão na Galileia, contexto de periferia, e não em Jerusalém, centro político, religioso e econômico da Palestina. Ali estava uma decisão política de Jesus a qual ele assumiu até as últimas consequências, assim como os seus desdobramentos. Politicamente, Ele se pôs em diálogo com os diferentes grupos sociais, contudo, a partir de um critério: o Reino de Deus e sua justiça (Mt 3,15; 4,17).

Em fidelidade a Jesus e ao Reino por Ele anunciado a Igreja compreende a necessidade do agir político.

Fundamenta este princípio no Compêndio de Doutrina Social publicado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz (2004) e, anteriormente, nas diversas manifestações dos Papas em exortações e encíclicas.

Contudo, é consenso a orientação para o não envolvimento, especialmente, dos ministros ordenados em cargos de poder nas diferentes esferas de Estado. O agir da Igreja em sociedade, na qual atua a partir do princípio da fé cristã, se dá na esfera civil.

A Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, sustenta este princípio ao afirmar: “A Igreja em razão da sua finalidade e competência, de modo algum se confunde com a comunidade política e nem está ligada a nenhum sistema político, é ao mesmo tempo sinal e salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana” (GS 76).

A Igreja também defende a necessidade do fortalecimento da educação civil e política, para que todos possam desempenhar o seu papel na vida da comunidade política (cf. GS 75).

O agir político do cristão compreende a luta contra a injustiça, a intolerância ou a opressão; volta-se ao bem de todos com sinceridade e retidão e jamais em vista de benefícios particulares ou grupais.

A política é um instrumento importante do agir cristão. Devemos compreender este exercício como direito e dever. É um processo permanente de participação em vista do bem comum, que adquire especial relevância nestes tempos de tomada de decisões.

 

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