Sociedade cruel

1166

A elite, do alto de sua superioridade,
acha razoável negar comida a quem
vive debaixo de um viaduto.
Já a classe média,
vê como correto humilhar alguém
por não ter um diploma superior.


Dois episódios recentes trouxeram à tona a insensibilidade de segmentos  de  nossa  sociedade. Bia Doria, primeira-dama paulista, em vídeo aconselhou os  espectadores  a não ajudar os  sem-teto  com comidas e roupas, pois, segundo ela, eles “gostam” de viver nas ruas.

Padre Júlio Renato Lancellotti, com 71 anos, é um grande defensor do povo de rua em São Paulo. Conheça entrevista que o mesmo já concedeu à jornalista Márcia Machado, em nosso site.



Um casal carioca, sem máscara, foi abordado por um fiscal que os alertou de forma  educada como “cidadãos”. “Cidadão não!” foi a resposta, “engenheiro civil formado. Melhor do que você”.

Estes episódios não causam espanto para quem conhece  nossa  elite. É sobejamente  conhecida a sua insensibilidade. Seus genes  egoístas  são bem poderosos. A educação e a cultura  travam, há séculos, um combate  duro  contra eles.

Para Jessé Souza “o desprezo secular e escravocrata pelas  classes  populares  ganha  um autoridade  inaudita  e passa  a ser usado  com  pose  de quem  sabe  muito.  Juntas, a demonização da política e do Estado e a estigmatização das classes  populares constituem  o alfa e o ômega  do conservadorismo  da sociedade  brasileira  cevado midiaticamente  todos  os dias  desde então”.

Estes  dois  revoltantes  episódios  revelam  a  opressão  que permeia  as relações  sociais  entre nós. É o mesmo descaso devotado aos escravos  no espaço  de 300 anos. O desprezo e a humilhação  que  essa  classe sofre  desde o berço, unindo socialização precária, que é o essencial  do seu aspecto de  classe, com o preconceito covarde e secular  contra  o escravo, que é  o seu aspecto de  raça, a levam  a fantasiar  sua realidade intolerável.

E aí surge o indivíduo que cai nas  drogas, especialmente no álcool. Para se transformar  em morador de rua  e  sem-teto,  é um passo. Seria porque “gostam” de  tal situação ??

“A elite do dinheiro tende a perceber seu privilégio como decorrente de uma superioridade inata. Já a classe média  tende  a imitar a elite  endinheirada  na sua  autopercepção  de classe como sensível e de bom gosto, mostrando  que  essa  forma  é essencial  para  toda a separação das classes  do  privilégio em relação  às  classes populares”, segundo Jessé Souza.

A elite, do alto de sua superioridade, acha razoável negar comida a  quem vive  debaixo de um viaduto.  Já a classe média, vê como correto humilhar alguém por não ter um diploma superior.

É o Brasil mantendo sua tradição de desigualdade, onde  a barbárie  foi incorporado  ao cotidiano.

Em outra publicação neste site, já escrevemos que “nossa sociedade é fruto de um pacto dos donos poder para perpetuar um modelo social cruel forjado na escravidão. A brutal desigualdade de renda continua a ser o traço que nos caracteriza. O atual governo veio para manter e consolidar esta infâmia”.

DEIXE UMA RESPOSTA