Resistência: uma forma de viver

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As humanidades ainda se impõem, apesar do sutil e sofisticado patrulhamento ideológico. A ideologização funciona porque a sociedade, as famílias e as escolas estamos deixando de estimular e incentivar pensantes mentes brilhantes.

Vivemos tempos onde ocorrem sucessivas avalanches políticas e sociais, eventos que destroem, sem pudor e sem piedade, tudo o que dignifica as humanidades e o que promove humanização. Por isso, urge que sejamos Resistência, sempre e em todo lugar, em toda e qualquer circunstância em que seja possível afirmar a dignidade, a criatividade e a liberdade humanas.

O sistema, o mundo, tenta destituir, ao máximo, a ideia de que todos somos Sujeitos. Sujeitos são aqueles que promovem ou organizam a sua ação. Por mais que os ambientes e contextos sejam hostis, carregados de arrogância, uivados de medos e de repressão, os sujeitos se insurgem, se impõem, mesmo que não apareçam, imediatamente, seus protagonismos. Os sujeitos agem, mesmo à margem dos caminhos traçados. Trata-se de uma teimosa e corajosa resiliência, que estes alimentam para não sucumbir e não morrer, a partir da negação da dignidade, liberdade, criatividade e criticidade.

Uma das estratégias mais bem elaborada que se vê por aí é transformar os sujeitos em manada, em bando, em seguidores, em meros reprodutores de informação. Nada de pensar, de organizar, de questionar, de perguntar.

Sujeitos precisam, então, ser evitados ou controlados, mas sem antes passarem pelo crivo do alijamento, anulação e desprezo.

Estes tais sujeitos não morrem, quando deveriam assumir condição de serem apenas consumidores, sem perturbar ou incomodar ninguém. Quem pensa mais, compra menos.

Sujeitos se tornam fortes e mais perigosos quando organizados, quando somam-se em diferentes lutas e causas, quando se juntam a outros para demonstrar o poder e a capacidade que têm as suas ideias. Mais do que nunca, as sucessivas avalanches sociais e culturais destituíram e deslegitimaram todas as formas de organização social.

Muita coisa é mera retórica, longe do necessário protagonismo que todo ser humano deveria exercer em sua existência. Agora se fala em protagonismo, autonomia, liberdade de escolhas, novos tempos, projetos de vida, futuro de aprendiz, flexibilização, reestruturação, aprendizagem significativas, metodologias que ativam, sujeitos aprendentes, …

Nada, ou muito pouco do que se anuncia por aí, tem essência libertadora. Tudo é muito manipulado, maquiado, pré-estabelecido.

As humanidades ainda se impõem, apesar do sutil e sofisticado patrulhamento ideológico. A ideologização funciona porque a sociedade, as famílias e as escolas estamos deixando de estimular e incentivar pensantes mentes brilhantes.

Por que resistem, os sujeitos têm sua existência sempre questionada. E são severamente temidos e combatidos.  Apesar de tudo, entretanto, muitos sujeitos agem nas sutilezas e brechas do sistema.

Até quando existirão sujeitos? Até quando os mais sensatos, sábios e destemidos lutarem por eles. Até quando eles próprios não cansarem de resistir e lutar pela sua existência.

Sabem em quem estou pensando agora? Estou pensando em mim, em ti, em muitos e muitas de nós que ainda alimentam sua centelhas de esperança numa humanidade livre, liberta e transformadora a partir da valorização dos diferentes protagonismos. Estou pensando que os sujeitos necessitam, por demais, de um encorajamento, de uma sacudida, de um terremoto ou de um tsunami que os acorde da dormência e do cansaço das recentes lutas.

O apelo “ninguém solte a mão de ninguém”, faz-se necessário entre os que acreditam no empoderamento dos sujeitos como mola propulsora das transformações sociais necessárias para o enfrentamento dos desafios do nosso tempo histórico.

O sistema é cruel e a resistência tornou-se uma nova forma de viver. Quem viver, verá!

DICAS DE APROFUNDAMENTO:

Um amigo, ao fazer leitura desta reflexão, sugeriu indicações de autores que poderiam ampliar o entendimento sobre a importância de sermos sujeitos. Vejam o que ele escreveu: Roland Barthes se encaixa no teu texto. Edgar Morin, Canguilhem, Bauman de A arte da vida… Paulo Freire, de Pedagogia da Solidariedade… Ulrich Beck, também pode ser visitado.

Autor: Nei Alberto Pies

Edição: Alex Rosset

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