Relembrando Chiara Lubich

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A Economia de Comunhão deve canalizar
capacidades e recursos para produzir riqueza
em prol dos que se encontram em dificuldades.

Ao contrário da economia consumista, baseada na cultura do “ter”, a economia de comunhão é a economia do “dar”. Isto pode parecer difícil, árduo, heróico. Mas não é assim, porque o homem, feito à imagem de Deus, que é Amor, encontra a própria realização justamente no amor, na doação. Esta exigência está no mais profundo do seu ser, tenha ele fé em Deus ou não. É justamente nesta constatação, comprovada pela nossa experiência, que está a esperança de uma difusão universal da economia de comunhão.

O distanciamento cada vez mais frequente entre as pessoas, a agressão sistemática ao meio ambiente em prol de um crescimento econômico sem limites, a consolidação de um modelo econômico que enaltece substancialmente o consumo conspícuo, a busca desenfreada pelo dinheiro como sinônimo de felicidade, o crescimento das injustiças econômicas e sociais e o desmantelamento dos princípios básicos que modelam a teia da vida.

Desnecessário afirmar categoricamente que a somatória disso provoca profundo descontentamento no cotidiano dos povos, e tem levado cada vez mais pessoas à reflexão em torno da mais absoluta necessidade de se resgatar os laços de sociabilidade e de afirmar um compromisso em prol de um mundo melhor; de um mundo mais justo e socialmente mais equilibrado; de um mundo social comum.

Nesse sentido, resgatando a possibilidade de se construir um mundo econômico e social menos injusto, que crescem ações para reverter essa tendência de distanciamento entre as pessoas, tentando aproximá-las pela prática da partilha, da comunhão (da comum união).

(Chiara Lubich, 1920 – 2008)

Tentativas de novos agrupamentos em favor de ações coletivas, cercadas de cooperação e união entre os membros tem se destacado com mais freqüência numa época em que os valores monetários, como é fácil perceber, têm se soerguido em relação aos valores éticos, morais e sociais. Uma tentativa nessa linha de atuação cooperativa que merece destaque é a chamada Economia de Comunhão (EdC).

A comunhão (comum união entre os membros) tem sido uma porta de entrada para a solidificação de um novo modo de fazer economia, no qual esteja presente a prática da comunhão-cooperação-fraternidade.

Em poucas e objetivas palavras, a Economia de Comunhão pode ser resumida como sendo a combinação de eficiência econômica com solidariedade, tendo como arrimo o princípio da cooperação.

A verdade é que a busca pela justiça social e um lugar para se viver em que “entre eles não haja necessitados” (lema da EdC) tem sido discutido amplamente entre aqueles que se põem a construir uma nova maneira de pensar a própria vida a partir das relações econômicas, tendo como elemento integrador desse sistema a participação das empresas.

Esse é o modelo da Economia de Comunhão que procura, por meio de redes (conjunto de pessoas ou organizações interligadas direta ou indiretamente) pôr a economia à serviço do atendimento aos mais pobres, uma vez que percebe claramente que os sistemas econômicos tradicionais têm sido incapazes de tirar a fome da boca de uma criança.

O ponto fundamental desse novo jeito de “pensar a economia” é a cooperação e a ajuda mútua (na prática é a cultura do “dar” e do “doar-se”) entre os agentes e o amplo e irrestrito apoio aos projetos de cunho social que enalteçam o papel das pessoas integrando-as no sistema produtivo.

Falando abertamente, o propósito é um só: levar a dimensão da fraternidade para a macroeconomia que dita, na essência, as políticas econômicas públicas. O objetivo? Fazer com que a teoria econômica tradicional seja sensível à economia social e faça valer o princípio maior dessa ciência social: proporcionar melhoria (bem-estar) de vida a todos.

Nas palavras de Chiara Lubich (1920-2008), ativista social italiana, criadora desse movimento a partir de uma visita feita às comunidades carentes em São Paulo, em 1991: a Economia de Comunhão deve canalizar capacidades e recursos para produzir riqueza em prol dos que se encontram em dificuldades.

Os lucros devem ser livremente colocados em comum, divididos em três partes, no seguinte sentido:

  1. Ajudar os pobres e dar-lhes sustento, enquanto não conseguirem um posto de trabalho;
  2. Desenvolver estruturas de formação de ‘homens-novos’, ou seja, pessoas formadas e animadas pelo amor, capazes de viver a ‘ cultura da partilha’;
  3. Incrementar e fortalecer a própria empresa. (CHIARA, L. em “O Movimento dos Focolares e a Economia de Comunhão”, Vargem Grande Paulista, Ed. Cidade Nova, 1999).

Nota-se com isso que algumas ações em prol da construção de um mundo melhor estão em plena atividade; resta, apenas, de nossa parte, uma maior participação, afinal, em se tratando de resgatar os mais nobres valores em torno da vida, isso não pode esperar por muito tempo.

Economista, ativista ambiental e Mestre em Integração da América Latina pelo Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina (PROLAM), da Universidade de São Paulo (USP). Autor de Economia destrutiva (CRV, 2017) e Civilização em desajuste com os limites planetários (CRV, 2018). prof.marcuseduardo@bol.com.br

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