Quando a arte e as histórias se impõem

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Gabriel Cavalheiro Tonin, jovem, descobriu a contação de histórias como motor de sua vida.

Aventurou-se com a escrita do seu primeiro livro infantil Roda Pião, editado pelo Projeto Passo Fundo. Em agosto daquele ano (2016), iniciou jornada levando o livro por algumas escolas de Passo Fundo, com uma proposta simples: contar histórias e a escola, em troca, permitia que vendesse seus livros por lá.

Descobriu sua identidade com a arte e a literatura, com o passar do tempo. Entre apresentações em dupla (com a parceria de uma ex-colega de teatro) e sessões solo, tornou-se contador de histórias. De lá para cá, participou também da fundação da Casa Drum Música e Arte, em Passo Fundo, espaço multicultural que congrega várias manifestações artístico-culturais. Neste espaço foi criado o Festival de Contação de Histórias de Passo Fundo. Contou histórias brasileiras no Centro Ricreativo La luna ai bambini, na cidade de Ancona, na Itália, onde morou em 2019. Participou do 5º Festival de Contadores de Histórias de Ponta Grossa/PR e da 65ª Feira do Livro de Porto Alegre, na Mostra de Contadores de Histórias, coordenada por Celso Sisto.

No ano de 2020, publicou seu segundo livro infantil, Uma aventura pra lá de doce; foi selecionado para o 5º Funcultura de Passo Fundo, com o projeto Conta Gaúcho, que levará sessões de narração de lendas gaúchas e exposição de artes visuais a escolas municipais e participou da 34ª Feira do Livro de Passo Fundo como contador de histórias. Em 2021, foi o vencedor do Concurso Literário Vai Passar – por um mundo repleto de esperanças e boas atitudes, promovido pela Giostri Editora, que publicou o meu livro A abelha Donatela e seus amigos tagarelas, sua terceira obra para crianças e foi selecionado para compor a Antologia de Crônicas do Prêmio Off Flip, com a crônica intitulada Cinco e meia.

Fez faculdade de Direito e é professor de Língua Italiana.

Conheçamos mais Gabriel Cavalheiro Tonin por ele mesmo.

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SITE NEIPIES: Como, quando e porquê o universo das artes e da literatura tomaram um lugar importante na tua vida e na tua trajetória?

Gabriel Cavalheiro Tonin: Acredito que minha vida sempre foi permeada pelas artes e pela literatura. Primeiro, ainda criança, era muito sozinho, vivia meu mundo particular de imaginação. Nessa época dois eventos foram fundamentais: a minha alfabetização, que foi realizada pela minha irmã, em casa, quando tinha três anos de idade e a presença de meu pai contando histórias; ali se abriu o portal das descobertas para mim.

Aos poucos, de maneira natural, esse espírito curioso e inventivo foi tomando conta de mim. Quando me enxergava adulto, quando me perguntava “o que quero ser quando crescer?”, esse era o horizonte que vislumbrava. Alguém que ensina, conta histórias, atua, escreve. Cá estou, fazendo tudo isso!

SITE NEIPIES: Quais são suas maiores realizações como contador de histórias e como escritor e quais são também seus maiores desafios?

Gabriel Cavalheiro Tonin: Contar histórias, seja narrando oralmente ou mesmo escrevendo, dois ofícios que exerço, exigem comprometimento e entrega total. Costumo dizer que um contador de histórias é um agente que desperta emoções, possui o poder de instigar, acalentar, fazer refletir. Logo, o maior desafio é justamente esse: estar comprometido com a palavra e a forma com a qual ela é expressa, de modo que essa manifestação artística seja a mais verdadeira possível.

Por isso que, quando penso nas minhas maiores realizações nesse ofício, imediatamente me vêm à mente todas as vezes em que minhas histórias impactaram o público. Poderia citar várias, mas um caso é emblemático. Certa vez estávamos, Beth e eu, narrando histórias em uma escola municipal de Passo Fundo. Realizamos várias sessões ao longo da tarde para as turmas e ao final de tudo, estávamos já nos ajeitando para sair, uma professora bate à porta com seus alunos: encantados que estavam, ao voltarem à sala de aula, resolveram desenhar aquilo que mais havia lhes tocado da narrativa e queriam nos presentear. Foi um momento muito especial. E mais especial ainda ficou quando uma menina nos abraçou forte e disse: “gostei muito da apresentação de vocês. Quando eu crescer quero ser contadora de histórias”. Para mim essa é a maior conquista que poderia ter.

SITE NEIPIES: O que mais fascina um contador de histórias? Por que é tão difícil dissociar tudo o que fazes com contação de histórias?

Gabriel Cavalheiro Tonin: Creio que as histórias fascinam porque somos constituídos por elas. O ser humano é, por essência, um ser que necessita narrar, expor seus medos, angústias, manifestar a sua inquietação diante do mistério incompreensível que é a vida.

No meu caso, há um episódio crucial que delineou de modo marcante o meu entendimento sobre essa arte e a necessidade narradora do homem. Na minha primeira viagem à Itália encontrei com uma senhora já muito idosa, dona Anna Maria Emendabili, também escritora, havia recém lançado as memórias de seu falecido marido, um homem ligado à política da região. De repente, em nosso diálogo, ela me lança uma pergunta: de onde vem tua inspiração para escrever?

Confesso que fiquei sem reação, sobretudo pelo fato de que nunca havia pensado no assunto. Quando queria escrever eu escrevia e pronto. E ela, com toda a sabedoria possível, olhou-me e disse: “não é preciso ir muito longe para se inspirar. Se formos à praça encontraremos várias pessoas, todas elas com histórias incríveis. Cada pessoa é uma fábula”. Essa última frase me tocou de tal maneira que se tornou meu lema de vida. E, depois disso, não olho mais o mundo com os mesmos olhos; agora, mais do que nunca, eu e as histórias que vivencio, escuto e narro somos cada vez mais uma só entidade.

SITE NEIPIES: O que representam as tuas importantes participações e premiações em concursos literários, feiras e projetos como o Funcultura e Projeto Passo Fundo?

Gabriel Cavalheiro Tonin: Quando me decidi por ser contador de histórias profissional, sempre imaginei o meu trabalho chegando longe, atingindo mais pessoas. E, nesses cinco anos de jornada, ainda passos pequenos diante da vastidão do que há para se fazer, tive a oportunidade de participar de eventos dos mais importantes, o que sou muito grato. A sensação é de que há algo ali que impacta, provoca, acende uma centelha. Por isso alguns de meus projetos, textos, obras acabam sendo premiados, contemplados em editais. Sinto-me feliz pelo reconhecimento.

SITE NEIPIES: Fale-nos um pouco como se deu a fundação da Casa Drum Música e Arte, em nossa cidade? Qual é o propósito desta iniciativa?

Gabriel Cavalheiro Tonin: A Casa Drum é um marco na minha vida e na cena cultural da cidade. E isso devemos a uma mulher: Jaqueline Drum. Essa moça, musicista por formação, dava aulas de música em seu apartamento (sendo que eu também fui seu aluno, e imaginava criar um espaço onde convergissem as mais diversas manifestações culturais. Aos poucos a ideia de oferecer novos cursos foi ganhando forma, com a abertura de oficinas de desenho e pintura, ainda no seu espaço pessoal.

No ano de 2018, a necessidade de um espaço físico maior fez com que aquela equipe (já eram três integrantes) se mudasse para um prédio no centro da cidade. Nascia a Casa Drum Música e Arte, oferecendo aulas e oficinas e promovendo eventos culturais, e foi aí que meu caminho cruzou novamente com o da Jaque. Entusiasmado com o projeto dela, fui visitá-la; ela, então, convidou-me para trazer histórias na inauguração oficial e para desenvolver uma oficina de escrita criativa. Dali em diante foram três anos de intensa colaboração, como professor e agente cultural. Juntos realizamos sessão de histórias homenageando Machado de Assis, criamos o Festival de Contação de Histórias de Passo Fundo, saraus literários, na parte literária, e outros eventos como saraus musicais, vernissages e exposições. Vale ressaltar o pioneirismo de algumas dessas iniciativas em âmbito municipal.

Atualmente a Casa Drum continua com suas atividades a pleno vapor, com uma equipe maior e extremamente qualificada. Inclusive recomendo que procurem conhecer o espaço e o que ele oferece; a Casa é um oásis de arte e cultura em nossa cidade.

SITE NEIPIES: Como foi morar na Itália e como é estar hoje num estado brasileiro tão diferente do Rio Grande do Sul, o estado de Tocantins? Como vês a diversidade cultural?

Gabriel Cavalheiro Tonin: Morei na Itália por pouco tempo, mas foi uma experiência riquíssima. Primeiro porque a Itália é berço dos meus antepassados, país do idioma que ensino, ou seja, era um reencontro com as origens; segundo porque estar tão longe e se ver desafiado a viver como um cidadão de lá, fazendo compras, dialogando com eles, interagindo, é um exercício maravilhoso para te fazer compreender as próprias capacidades.

Hoje estou passando uma temporada de estudos e trabalho no Tocantins (estive recentemente em Goiás realizando oficinas e outras funções), realidades absolutamente diferentes do Rio Grande do Sul. Não posso fazer uma análise tão profunda tendo em vista que ainda vi pouco de tudo o que há nesses estados onde circulo; mas um ponto que muito me agrada é compreender, na prática, como o Brasil é rico, variado e gigante.

A cada viagem, em cada cidade onde desenvolvo meus projetos, percebo que o nosso país ainda se conhece pouco. Nós não temos ideia da dimensão efervescente que o Brasil possui, não apenas das riquezas como das carências, os modos de ver e viver a vida, as crenças, as limitações e potencialidades. Há muito ainda escondido e não explorado, e isso me fascina.

SITE NEIPIES: Teu mais recente projeto é Gabito – Contador de histórias? Que ideia é essa?

Gabriel Cavalheiro Tonin: O Gabito nasceu lá atrás, em 2016, quando publiquei o primeiro livro, Roda Pião. Queria estar na história também e me transformei em personagem, o professor Gabito. Esse nome fez muito sucesso e passou a ser meu apelido. Muita gente me chama assim. Como hoje estou voltado à produção de materiais e espetáculos de contação de histórias, resolvi transformar o Gabito na minha marca profissional. É, portanto, o núcleo onde congrego todas as minhas atividades.

SITE NEIPIES: Qual é a marca de tua arte? O que pretendes afirmar como contador de histórias e escritor de livros infantis?

Gabriel Cavalheiro Tonin: Desde o meu encontro com a Sra. Emendabili, a minha concepção sobre a arte e as pessoas é outra. Atualmente sei que meu trabalho deve se destinar a um propósito: despertar a fábula que existe dentro de cada pessoa. Fazê-las encontrar a si mesmas em cada texto, cada livro, cada história narrada, cada compartilhamento de vivências. Se, no meio desse percurso, houver uma repercussão, um impacto social, uma ressonância maior, ficarei feliz.

SITE NEIPIES: Quais são teus contatos? Onde a galera pode te encontrar?

Gabriel Cavalheiro Tonin : Quem quiser acompanhar de perto meu trabalho pode acessar as seguintes páginas:

Facebook: https://www.facebook.com/gabitocontadordehistorias

YouTube: Gabito Contador de histórias: https://www.youtube.com/channel/UC0KVtps4cIVR3Ky1qDMfw0g

Site: https://gabrielpf95.wixsite.com/gabito

Aproveito a oportunidade pata divulgar o meu novo projeto, intitulado Contação de Histórias Itinerante – um mundo de leituras. Esse projeto já foi inscrito nas Leis de Incentivo à Cultura, mas ainda está pendente de aprovação – a burocracia é sempre muito grande!

Com isso, criei uma vaquinha online para quem quiser contribuir com a iniciativa. A cada determinado valor arrecadado uma escola pública receberá gratuitamente uma sessão de contação de histórias comigo. O colaborador, além de oportunizar que crianças de lugares carentes tenham acesso a livros e um produto cultural diferenciado, ainda ganha um agrado preparado especialmente por mim. Para acessar a vaquinha basta clicar no link:

Vaquinha: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/contacao-de-historias-itinerante-um-mundo-de-leituras

Edição: Alex Rosset

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