Professores sob ataque

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Nós, professores, continuaremos resistindo a
qualquer espectro ideológico, para que a
liberdade de pensar livremente, por mais absurdo
e contraditório que isso possa soar para alguns,
esteja sempre contemplada.


O episódio ocorrido recentemente no Colégio Marista Rosário, em Porto Alegre, envolvendo alunos, pais e um professor de Sociologia, revela que o obscurantismo ultrarreacionário de segmentos da direita em torno do discurso dogmático da Escola Sem Partido, continua sem o mínimo acanhamento a incitar a perseguição a professores.



Mas não são as crianças e adolescentes que violam as regras de compartilhamento de imagem de menores e de aulas de professores(as), adultos também o fazem e são os principais responsáveis pela viralização de vídeos dessa natureza em grupos escolares de Whatsapp, como nesse caso. (Aline Kerber, presidente Associação Mães e Pais pela Democracia)

Ensinar meninas e meninos a pensar por si mesmos é, na visão dos conservadores, algo impensável. Quem trabalha em escola sabe que famílias ( e professores ) conservadoras sempre existiram, que educação sexual, sobre racismo, diversidade, sempre os escandalizaram. Isto sempre foi muito natural nas escolas.

Entretanto, quando essas coisas deixam de ser consideradas naturais e passam a serem vistas com repúdio e desconfiança, é sinal de que a escola está sendo disputada por dentro. Há, então, um evidente sinal da tentativa de imposição de um pensamento único.

A escola é o local do pluralismo de ideias. Os defensores da Escola Sem Partido, na verdade, defendem um projeto educacional escancaradamente autoritário. Estes não tem o mínimo acanhamento de incitar a perseguição a professores e de se colocar como cruzados de uma guerra contra a liberdade de expressão.

A postura destes pais segue a linha do ministro da Educação Weintraub com seu comportamento de comediante frustrado de esquetes bobocas.

Ao saírem com faixas dizendo “Marista, sim. Marxista,não”, simplemente estão afirmando, contraditoriamente, que uma ideologia pode e que a outra não. Seria o caso de retrucar com “Marista, sim. Fascista, não”?

Sussurrei a meus botões: terão estas pessoas perdido de vez a capacidade de produzir sinapses no cérebro. Estaria este órgão adoentado e fragilizado pelo veneno diário de uma direita reacionária e pré-medieval?

A história mostra como sociedades com tendências totalitárias e autoritárias sempre atacaram a liberdade de pensamento. A luta pela educação, é preciso entender, não tem lado.

Educar para libertar, para formar cidadãos mais autônomos, é projeto que concede à escola o local que, de fato, ela merece. Já decorar hinos, fazer desfiles e registrá-los visualmente não forma pessoas mais prontas para a prática dos valores de cidadania, como muitos querem nos dias atuais.

Nós, professores, continuaremos resistindo a qualquer espectro ideológico, para que a liberdade de pensar livremente, por mais absurdo e contraditório que isso possa soar para alguns, esteja sempre contemplada.

Precisamos recuperar nossa inteligência, voltar a praticar a reflexão autônoma que é chave de tudo que a raça humana produziu de bonito e distinto na vida da espécie. Afinal, como assevera o sociólogo Jessé Souza, “tudo que foi feito por gente também pode ser refeito por gente”.



“À medida que a compreensão comum da realidade se desintegra, a política fascista abre espaço para que crenças perigosas e falsas criem raízes. Então fica fácil entender a razão de acabar com cursos de Filosofia e Sociologia. Estas disciplinas permitem a formação do pensamento crítico, essencial para qualquer sociedade se desenvolver”.

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