Pedagogia do Natal

1980

Mas qual o sentido do Natal? Em que aspecto o Natal poderia ter um sentido formativo? No que o Natal se transformou? O que significa fazer a Pedagogia do Natal?

A proximidade do Natal sempre é acompanhada de boas recordações, principalmente da minha infância. Natal era carregado de uma magia, de uma expectativa vibrante, de uma espera ansiosa para a inesquecível noite. Não por causa dos presentes ou das festas, mas pela simbologia da espera. Natal não era associado a Papai Noel, mas ao nascimento de Jesus.

Até os 7 a 8 anos, acreditava profundamente que o presente não era comprado por meus pais nas lojas, mas vinha diretamente do Menino Jesus. Lembro que o presépio era preparado com carinho, com barba de bode, pinheirinho com decorações simples, reis magos, Nossa Senhora e São José, os pastores, ovelhas, a vaca, o jumento, a manjedoura.

O cenário para que o Menino Jesus viesse trazer os presentes de Natal. Eram tempos difíceis, em que a energia elétrica nem tinha chegado no interior de minha cidade natal de Vila Maria/Marau, mas mesmo à luz de vela, o Natal era mágico, encantador, espiritual, simbolicamente significativo. O religioso era preponderante em relação ao comercial; a pureza de coração era mais vibrante que a artificialidade das compras; o nascimento de Jesus na manjedoura de Belém ganhava mais destaque que os enfeites coloridos de luzes que gastam energia para além do necessário; a ostentação era mais tímida que as formas agressivas dos dias atuais.

A mecanização agrícola não tinha chegado na região, o trabalho era duro, intenso, interminável. Numa véspera de Natal, se não me engano em 1976 (na época com 8 anos), trabalhei (talvez hoje seria considerado trabalho infantil?) com meus pais e meus irmãos num sol escaldante na lavoura, capinando no meio do milho até o cair da tarde. Mas tudo aquilo não era sofrido, pois sabia que à noite iríamos para a cidade de Marau assistir a encenação de Natal apresentado em frente à Igreja; e ao chegar em casa o Menino Jesus já havia deixado os presentes na árvore de Natal.

Presentes simples, uma cestinha com alguns doces e um brinquedo. Mas para mim era a alegria de receber um presente do próprio Menino Jesus. Havia algo de simbólico, de sagrado neste acontecimento e na minha infantilidade acreditava que o Natal era o acontecimento mais bonito do planeta.

O Natal certamente continua sendo uma das festas mais tradicionais do planeta. No mundo todo o Natal continua sendo aguardado com elevada dose de expectativa, entusiasmo e emoção por todas as idades. Os preparativos começam no final de novembro, se intensificam no mês de dezembro e tem seu ponto culminante na Noite de 24 de dezembro. Presentes, ceia de Natal, decorações, luzes, árvore natalina, Papai Noel, anúncios comerciais de todos os tipos e formas, são alguns dos sinais que o Natal está se aproximando.

Mas qual o sentido do Natal? Em que aspecto o Natal poderia ter um sentido formativo? No que o Natal se transformou? O que significa fazer a Pedagogia do Natal?

Às vezes me dá a impressão que a grandiosidade do “natal comercial” está realizando uma metamorfose estranha em que mais se torna menos: mais presentes e menos autenticidade; mais luzes e menos fé; mais comida e menos espiritualidade; mais ostentação e menos solidariedade; mais riqueza e menos amor; mais economia e menos humanidade; mais superficialidade e menos profundidade.

Talvez precisamos educar as novas gerações para que possam compreender o sentido do Natal que está a quilômetros de distância da forma como foi transformado pelos interesses mercantilistas do “natal comercial”.

Talvez seja urgente e necessário ajudar nossas crianças a entender que o nascimento de Jesus numa gruta/manjedoura não é um simples folclore popular, mas um ato simbólico de que o NATAL (com letra Maúscula) não se materializa na ostentação, mas na simplicidade, na renovação das nossas crenças, na superação dos preconceitos, no dar-se conta que somos seres finitos, limitados e de que dinheiro e poder não podem e não são as razões principais para viver. E assim, talvez possamos viver um FELIZ NATAL.

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: Alex Rosset

2 COMENTÁRIOS

  1. Belíssimo texto, real, sincero, de profunda reflexão na comparação que faz do significado do verdadeiro Natal na mente infantil da há 50 anos atrás e o momento de hoje. O Natal tem perdido o seu significado, o Papai Noel substitui Jesus, eh o personagem principal, tudo muito bem trabalhado pela mídia.

    • Gratidão Gladis pelo comentário. Capturaste o essência do que queira transmitir num espaço tão curto. É urgente, necessário e vital que possamos ajudar as novas gerações e recuperar certos sentidos que se perderam no mercantilização da vida. Um grande abraço e um bom 2022

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