Pais na antessala da psicóloga

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Pais e mães devem admitir que especialistas de
comportamento e de alma podem intervir
positivamente com crianças e adolescentes,
com o objetivo de libertá-las de “amarras psíquicas”
que as impedem de viver plenamente.

Sempre difícil pais e mães acompanhar filhos e filhas em atendimento psicológico. O acompanhamento parece invocar sentimentos de impotência e incapacidade, mesmo daqueles pais e mães que já entenderam a importância de uma terapia.

A função de uma psicóloga pode ser definida nas frases de uma criança de 07 anos, após 10 sessões de terapia: “Sabe, pai, psicóloga é legal. Ela mexe com os sentimentos e a alma das crianças e, às vezes, muda o pensamento delas”.

Esta mesma criança, ao ser interrogada sobre superação de seus medos, seguiu adiante e disse: “Pai, estas coisas eu e a psicóloga conversamos só no consultório, lá dentro”.

A experiência de levar filhos para atendimento clínico terapêutico coloca pais e mães em outro lugar: na antessala. Talvez aí resida a chave do entendimento da terapia psicológica: permitir que outros, além de nós pais e mães, avôs e avós, professores e professoras possam ser suporte para que nossas crianças e adolescentes entendam seus sentimentos e aprendam a libertar-se de seus medos e incompreensões, através do diálogo, fala e escuta especializada.

Controlar a ansiedade e o desejo injustificado de controlar e dominar o mundo e o imaginário das crianças parece ser um dos grandes desafios de pais e mães que levam filhos ou filhas ao consultório de psicólogos ou psicólogas.

Pais e mães devem admitir que especialistas de comportamento e de alma podem intervir positivamente com crianças e adolescentes, com o objetivo de libertá-las de “amarras psíquicas” que as impedem de viver plenamente.

Conforme afirma a psicóloga Tanise Vieira, “para muitos pais, “a necessidade de recorrer a um psicólogo atesta a sua incapacidade como cuidador e criador, é como se fosse uma confirmação de “eu falhei”. A abordagem do meio da criança envolve as relações mãe-criança-pai-criança o que desperta sentimentos de responsabilidade e, as vezes, culpa. Quando o psicólogo entra nestas dificuldades e formas de conflitos, há uma tendência dos pais em querer manter o status-quo e conservar o padrão de relacionamento, fazendo os pais não colaborar, boicotar ou interromper o tratamento”.

Leia mais: https://www.neipies.com/aprendizagens-de-uma-psicologa-de-criancas-e-jovens/

Foi na antessala de um consultório clínico que escrevi esta reflexão. No vazio, no silêncio, na espera pelo término de mais uma sessão, brotou a vontade de compartilhar esta experiência única de aprendizagem como pai, acompanhante de filho, em terapia.

Escrevi também para encorajar pais e mães que têm crianças e adolescentes que convivem com ansiedade, medos e sintomas de depressão.

Queridos: nós não falhamos como pai e mãe quando não conseguimos ajudar nossos filhos em todas suas necessidades psíquicas e existenciais. Tenhamos, então, humildade para dividir esta tarefa com professores e professoras, psicólogos e psicólogas e psiquiatras. Estes últimos compõe a ajuda especializada que nós não estamos habilitados a oferecer a eles.



Sueli Ghelen Frosi, da Escola de Pais do Brasil afirma que pais e mães sempre são educadores e que devem ser parceiros da escola, para a humanização dos filhos. Os filhos são educados pela linguagem, pelas emoções, pelo respeito e pelos exemplos.



Falhamos mais quando insistimos que podemos responder sozinhos pela educação e formação de nossos filhos e filhas. Falhamos quando achamos que ninguém, além de nós, pode entender, compreender e orientar nossos filhos e filhas nas questões psíquicas e existenciais e educacionais.

Nossos filhos e filhas, neste século XXI, já podem contar com a ajuda de conhecimentos amplamente disponíveis na internet e nas redes sociais sobre como funcionam a alma humana e os comportamentos. E podem contar, também, com o esforço de seus pais e mães que agora entendem a complexidade deste momento histórico e de necessidades de seus filhos nesta fase de suas vidas.

O que mais afeta as gerações mais jovens são as incertezas do momento e a falta de clareza nas perspectivas do futuro.

A tarefa da educação e da formação humana deve ser, cada vez mais, resultado de um esforço conjunto de toda sociedade e de todos os sujeitos que agem com e sobre as crianças e adolescentes.



“O ser humano do futuro, provavelmente, será alguém com mais inteligência e com menos contato com outros seres humanos. Esta restrição aos espaços de convivência humana apresenta, entre as consequências, um espaço privilegiado para a psicologia, incluindo a necessidade de aperfeiçoar a sintonia entre o desenvolvimento cognitivo e emocional”. (Israel Kujawa)

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