O mal-estar na civilização

1978

O ser humano moderno (civilizado) trocou uma porção de possibilidades de felicidade por uma porção de segurança. Esse é o preço que gera o mal-estar vivido por muitos de nós.

O mal-estar na civilização é um dos escritos mais importantes do pai da psicanálise Sigmund Freud (1856-1939).

Freud não é apenas o pai da psicanálise, mas o fundador de uma forma muito inovadora de pensamento, de um modo muito peculiar de produzir ciência e conhecimento. Suas investigações sobre a psique revolucionaram o que se sabia sobre a alma humana, instaurando uma ruptura profunda com toda tradição de pensamento ocidental. Seus estudos sobre a vida inconsciente, realizado ao longo de toda uma vida, produziu uma vasta obra que hoje se torna obrigatória para compreender os desafios da ciência, da filosofia e da própria educação.

Ler e estudar Freud possibilita “outra dimensão do olhar” não só para entender a psique humana e seus mistérios, mas também para compreender os problemas educacionais do presente e do futuro. É como se adquiríssemos outras lentes para ver o mundo, a relação entre as pessoas e principalmente o modo como os seres humanos se comportam e se relacionam entre si.

Como bom investigador da alma humana, perguntando-se sobre os critérios – ao seu ver equivocados – usados pelos seres humanos para eleger os valores centrais da vida e assim traçar o rumo da felicidade, Freud realiza uma instigante e provocativa reflexão sobre a origem da necessidade do sentimento religioso no ser humano, sobre as (im)possibilidades da felicidade e da tensão entre o princípio de prazer e o princípio de realidade na condução da vida humana.

Ao investigar por que ser humano é tão pouco dotado para ser e permanecer feliz, Freud revela que um dos principais e invencíveis obstáculos à felicidade é a constituição psíquica e a dificuldade de lidar com as próprias frustrações. No jogo da civilização você ganha alguma coisa mas, habitualmente, perde em troca alguma coisa. E é assim que ocorre a dinâmica da vida e é dessa mesma forma que se constituiu a civilização.

“A civilização”, diz Freud, “se constrói sobre uma renúncia ao instinto”, impõe grandes sacrifícios, a suspensão de profundos desejos e a “economia libidinal do indivíduo”.

Assim, a civilização é um compromisso, uma troca continuamente reclamada e para sempre instigada a se renegociar.

O ser humano moderno (civilizado) trocou uma porção de possibilidades de felicidade por uma porção de segurança. Esse é o preço que gera o mal-estar, essa situação incômoda que nos atrapalha, nos incomoda, mas é condição para viver em sociedade.

Não se pode fazer tudo o que se quer ou se deseja (embora alguns tentam esquecer disso), pois sempre existem consequências. Talvez o grande problema da condução da vida humana é que erroneamente fomos ensinados de que a felicidade pode ser conquistada ou adquirida definitivamente, quando não passa de um momento efêmero que precisa ser permanentemente reavivado e reconstruído.

Enganam-se aqueles que acreditam que a felicidade está em comprar coisas, em adquirir bens materiais ou atingir certas metas planejadas. Como horizonte, ela sempre nos escapa quando tentamos capturá-la. A felicidade não está nas coisas ou num lugar, mas na capacidade humana sempre inconclusa de viver intensamente a vida nas pequenas coisas.

Em outra reflexão publicada no site, escrevemos sobre Educar o Educador. ”… é necessário pensar projetos de formação que visem construir espaços de reflexão permanente sobre as próprias práticas dos professores que estão no cotidiano da escola enfrentando a árdua e imprescindível tarefa de educar”. Leia mais!

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: Alex Rosset

2 COMENTÁRIOS

  1. Concordo plenamente. Do pouco que li de Freud e do pouquíssimo que sei sobre educação, a sociedade vive reprimida de desejos e prazeres, vive ansiosa por causa disso. Eu mesmo, ingiro 2 comprimidos diários de drogas que me produzem uma reação química cerebral que eu deveria produzir de forma natural…

    Abraço.

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