O entreguismo fardado

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Há uma total falta de visão estratégica por
parte dos generais que hoje formam um “exército”
de mais de 100, nos ministérios e autarquias
do governo Bolsonaro.

O protagonismo dos militares na vida política brasileira, data da Proclamação da República. Como avaliou o historiador Celso Castro, “a história escrita pelos protagonistas do golpe de 1889 deixou inscrita na história política do país a visão de que um grupo ‘esclarecido’ de militares pode ‘salvar’ a Nação, em seu nome.”

Em 1922, a oposição dos quartéis ao regime oligárquico, representou a revolta da classe média contra os desmandos da elite café com leite. Os tenentes, pretendiam dotar o país de um poder centralizado, com o objetivo de educar o povo e seguir uma política vagamente nacionalista.

Este nacionalismo ganhou força entre os militares ao longo do período Vargas que levou à criação da Petrobrás no segundo governo de Getúlio, 66 anos atrás. Este mesmo compromisso com uma economia nacional produziu a Embraer há 50 anos.

Com a ascensão dos militares em 1964 foi retomado o nacional desenvolvimentismo getulista burguês, com duas modificações capitais: a associação com o com o capital externo, para o financiamento da expansão industrial interna, e a substituição do mercado interno pelo externo para a realização de parte da produção nacional, conforme o historiador Mário Maestri.

Enquanto funcionou o “desenvolvimentismo militar”, recuou a submissão semicolonial, sob a hegemonia das classes burguesas dominantes, representadas pelos generais no governo.

Maestri em seu livro Revolução e Contra-revolução – 1530-2018, falando sobre os militares que defenestraram os castelistas ligados aos EUA e ao capital financeiro, assevera que, “desejavam um ‘Brasil Grande’, capitalista, direitista, com uma forte indústria civil, naval , bélica, etc.”

A mais resistente e consistente ordem escravista colonial americana. Uma longeva monarquia despótica, centralista e escravista, de caráter semi-colonial, com as classes dominantes dirigindo o país sob o tacão econômico da Inglaterra. A liquidação do reformismo abolicionista pela contra-revolução republicana, elitista, oligárquica, federalista e nem um pouco democrática. O caráter regional da industrialização e o nacional-desenvolvimentismo burguês getulista, com recuo relativo do status semi-colonial do país. As sequelas da hegemonia estalinista e populista sobre o jovem proletariado brasileiro.
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Geisel, em 1977, não teve dúvidas em romper o acordo militar Brasil-EUA, mostrando uma postura de defesa da soberania nacional.

Em meio a prisão e morte de sindicalistas, estudantes, jornalistas, etc, fundaram grandes empresas nacionais e as ampliaram. Abriram mercados na África e na América Latina. Para o pavor dos EUA queriam fazer uma bomba atômica. Enfim, representavam a ideia do grande capital nacional.

Ao assistir a delapidação atual da economia brasileira, é preciso lembrar que nos anos 1970, chegamos a ter praticamente o mesmo perfil estrutural da indústria de países desenvolvidos, herança deixada por Vargas e desenvolvida por JK.

Hoje, ao contrário, estamos assistindo ao entreguismo fardado. Depois da Embraer e da Base de Alcântara, o monopólio do urânio está por um fio. Há uma total falta de visão estratégica por parte dos generais que hoje formam um “exército” de mais de 100 aboletados nos ministérios e autarquias do governo Bolsonaro.

Tais generais, sem nenhum pudor, estão jogando no lixo os compromissos com a defesa da soberania e do patrimônio nacional, enquanto o capitão bate continência para o pavilhão norte-americano.

Os versos de Vandré voltam a ter todo o sentido: “Há soldados armados, amados ou não/ Quase todos perdidos com armas nas mãos/ Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição/ De morrer pela pátria e viver sem razão”.

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