Ser livre é difícil,
mas ter respeito não é.

 

Segundo a filosofia, liberdade é a independência do ser humano. Isto é o mesmo que ter autonomia, porém, na prática, restam os questionamentos de que liberdade é utopia. Sartre, Descartes, Kant e Marx tiveram o cuidado de questionar o conceito. No dia-a-dia fica evidente a nossa incapacidade de sermos realmente livres.

Há profissionais brilhantes completamente dependentes do que pensam as corporações à qual pertencem. Pode-se aplicar essa dependência a todos os campos da atuação humana. Como agem os médicos ante o poder dos grandes laboratórios e planos de saúde submetidos a interesses multimilionários difíceis de serem driblados? A atuação profissional, nesse contexto, leva em consideração só a vida dos pacientes?

Assim como os médicos, o pensamento de jornalistas fica limitado à corporação. Como movimentar-se frente a interesses que movem a mídia? É grave a limitação de que são vítimas pessoas, por vezes muito bem formadas, mas que, frente ao contexto pontual, devem mover-se segundo o que o órgão midiático a que pertencem acha conveniente no momento.

A liberdade de expressão é verdadeiramente exercida quando o profissional é manietado e aviltado em favor dos anunciantes ou da subserviência política?

Creio ser difícil ser livre. Temos limitações no sentido de sermos dependentes de interesses. O grande espaço de liberdade é o particular, desde que não sejamos dependentes financeiramente de espaços em que atuamos. Aí cabe o medo de retaliações, de julgamentos, que podem colocar em risco o nosso ganha-pão.

Quem pode dizer abertamente, dentro do seu estabelecimento, qual a sua posição política? Como expor sua ideologia? Melhor optar pela neutralidade?

No bem particular, dentro da nossa casa, somos totalmente livres? Penso ser o momento de pensar nisso, em um momento sensível do nosso país. Por que estamos tão limitados, sem forças para nos dizermos? Fazemos parte dos que julgam os outros, não permitindo que todos tenham direito a pensar? Somos daqueles que, ante uma notícia de que profissionais agiram fora do que julgamos certo, procuramos saber o que os moveu, para só aí tirarmos conclusões justas.

Ando bem cabreira sobre o quesito liberdade, preferindo pensar que ela realmente não existe, mas procurando consolo na categoria interdependência, essa sim, bem mais bonita.

Não conseguimos ser nada sem que nossa liberdade seja dependente da liberdade do outro.

Mas a extrema alegria é saber que o nosso pensamento é nosso, bem lá no fundo. Por vezes ele é impublicável, mas com o pensamento posso ser livre, mesmo que esteja em uma solitária. O pensamento não tem limites e merece viajar por aí sem fronteiras.

Com o pensamento alimentado todos os dias com o que vejo, leio, vivo, sinto, tenho a liberdade de formar o que, na prática, transforma-se em minha performance pessoal, personalíssima, convenientemente inserida na vida coletiva, onde não posso prescindir do que exijo para mim, que é o respeito ao pensamento. Ser livre é difícil, mas ter respeito não é.

DEIXE UMA RESPOSTA