Foi num 20 de setembro…

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Neste 2023 não poderia deixar passar este tal de 20 de setembro. Afinal, estamos diante do caos climático, onde muitos gaúchos perderam suas pilchas para as caudalosas águas das chuvas. Haverá poucos festejos, talvez com menos fandango, menos carne assada, menos cavalgadas não sobre algum tempo a mais para reflexão.

Imaginem vocês há 188 anos atrás acordando em Porto Alegre –  de 15 mil habitantes –  com uma tropa de farrapos cruzando a ponte da Azenha, dando tiros.

Porto Alegre ficou tomada por eles. Mesmo que os imperiais tivessem retomado a capital já em 1836, ficou sitiada por mais de 4 anos, sob Bento, Canabarro, Netto e João Antônio da Silveira.

Havia dois governos. Porto Alegre e seu povo pouco tinham a ver com as demandas concretas dos revolucionários. Claro, havia o tema da República e dos escravos, especialmente para os primeiros farrapos que fundaram o Partido Farroupilha, como o Tenente Alpoin, que nem gaúcho era. Mas de lado a lado, mantiveram seus escravizados.

E a República virou ficção na bravura de Netto, como na Constituição nunca votada. A demanda dos farrapos tinha mais a ver com os criadores de gado, com os impostos sobre o charque, questões que não atingiam o citadino.

Logo, mesmo com o título outorgado à capital pelo Imperador, não se tratava de lealdade de fato.

A vida e a sobrevivência, como os interesses econômicos de uns e os pessoais de outro, era o que contava.

Por que não se discutem as façanhas de sobrevivência a um cerco de quatro anos? Por que não se debate a falta de alimentos na capital? Por que não se fala de gado e cavalos roubados não só de estancieiros, mas de outros bem menores?

Por que quatro famosos generais com quatro vezes ou mais soldados foram repelidos por uma minguada tropa imperial na capital? Simplesmente porque o povo ia às trincheiras para a defesa do que era seu, a cidade. Por que não se fala de Chico Pedro, o Moringue, que nem soldado era, mas formou um exército em defesa da capital, tirando-a da fome com investidas aos sitiadores?

Por que será que se esquecem dos adversários?

Chico Pedro foi, ao final da Guerra, usado pelo Duque de Caxias para dar combate em Porongos. Afinal, foi ou não foi um massacre?  Nem neste infortúnio ele é lembrado.

Até hoje não se vislumbram as razões.  Até porque nem aos mais sérios e empenhados historiadores chegaram documentos para deslinde de certos pontos nebulosas desta Guerra.

Aos poucos vamos encontrando alguns espaços de debate. Mas nunca vi nem ouvi num CTG onde a Guerra nem perto chegou alguém se fazer esta pergunta: aqui, a Guerra não chegou, então por que tanto alarde neste 20 de setembro? Na Guerra Civil de 1893-95 as pelejas já foram quase gerais, mas na dos Farrapos não foi assim.

Neste 2023 não poderia deixar passar este tal de 20 de setembro…Afinal, estamos diante do caos climático, onde muitos gaúchos perderam suas pilchas para as caudalosas águas das chuvas.

Haverá poucos festejos, talvez com menos fandango, menos carne assada, menos cavalgadas não sobre algum tempo a mais para reflexão.

Muitas façanhas ainda a deslindar!

Autor: Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito. Autor da crônica “Os gaúchos”: https://www.neipies.com/os-gauchos/

Edição: A.R.

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