Filosofia para quê?

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Num mundo marcado pelo descontrole e pela irracionalidade, talvez um pouco de filosofia seja apropriado para pensarmos sobre a forma de vida que estamos vivendo e talvez concordar com Sócrates que “uma vida não examinada, não merece ser vivida”.

Tinham razão os gregos quando “inventaram a filosofia” de que o “pensar bem” se traduz em “viver bem”. Tanto um quanto o outro podem ser equivocadamente interpretados em nossos dias: muitos atribuem o “pensar bem” como sendo uma bem orquestrada estratégia para montar um grande negócio, ou encontrar uma fórmula infalível de “sair-se bem”, escolher uma prestigiada profissão, ou ainda ter encontrado “pessoas certas” para projetar-se num futuro pleno de sucesso e de uma “vida bem sucedida”.

Na mesma direção muitos levianamente confundem “viver bem” com uma vida repleta de “conforto”, dinheiro, poder, prestígio. No entanto, se tivermos um olhar que ultrapassa a “vala comum” do pensamento, nos daremos conta que no sentido grego, tanto o “pensar bem” quanto o “viver bem” não se reduz a essa simples condição material.

“Viver bem” no sentido grego pode ser interpretado como “vida boa” e não se confunde com “êxito social”.  “Vida boa” nos tempos iniciais da filosofia no solo grego significava, no dizer do importante filósofo contemporâneo Luc Ferry (2004), “empenhar-se na busca de um princípio transcendente, de uma entidade externa e superior à humanidade, que lhe permitisse apreciar o valor de uma existência singular”.

Avaliar se uma vida teria valido a pena tê-la vivido, implicava em adotar um critério sobre-humano, ou seja, algo que pudesse ser utilizado como uma espécie de balança capaz de medir a “densidade da vida”.

O termo filosofia, em nossos dias, é concebido como sendo um conceito extremamente amplo e polissêmico. Fala-se que empresa X possui tal “filosofia”; que fulano tem uma excelente “filosofia” de trabalho; que a cultura Y tem uma “filosofia” de vida formidável; que o novo gerente, ao assumir a empresa Z, implantou uma “filosofia” radical; ou de que a “filosofia” da escola W visa a tais e tais princípios.

Se observarmos todos esses conceitos, parece que “filosofia” tem a ver com uma concepção e, pois, com um “saber de direção, aquilo que alguns filósofos chamam de “filosofia espontânea”, “senso comum”, ou “concepção de mundo”.

Me proponho do decorrer na coluna quinzenal deste ano escrever e refletir sobre isso. Convido a todos os leitores a acompanharem algumas reflexões sobre essa forma espontânea de pensar a filosofia. Num mundo marcado pelo descontrole e pela irracionalidade, talvez um pouco de filosofia seja apropriado para pensarmos sobre a forma de vida que estamos vivendo e talvez concordar com Sócrates que “uma vida não examinada, não merece ser vivida”.

A filosofia se coloca, mais do que nunca, na perspectiva inter e transdisciplinar do conhecimento, principalmente na área de Ciências Humanas, como uma atitude filosófica, como uma postura crítica diante da vida e dos fenômenos, como um viés investigativo/científico e crítico da realidade social, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. (Nei Alberto Pies) Leia mais: https://www.neipies.com/por-que-filosofia-e-importante-na-educacao-basica/

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: Alex Rosset

4 COMENTÁRIOS

  1. Boa tarde DR. Altair.

    Coincido con usted en el papel que debe cumplir la Filosofía y demás ciencias humanas y sociales en el análisis y reflexión de lo que significa tener o lograr una “Buena vida” o ser “exitoso”. Desafortunadamente, la palabra Filosofía y su concepto han sido denigrados o modificados por parte del sistema económico y político capitalista para hacer creer a la sociedad que una empresa tiene una “Filosofía de trabajo” o que tiene responsabilidad social y ambiental.
    En una sociedad marcada por la búsqueda de la felicidad a través de la acumulación material y de riqueza económica, parece que la Filosofía, Historia, Antropología, Arte y demás ciencias humanas y sociales no tienen cabida, pero, es todo lo contrario, hoy, desde mi particular opinión, estamos viviendo una nueva etapa de oscurantismo, semejante a la de la Edad Media, sólo que esta vez no es la iglesia católica la que crea los dogmas o lo que las personas deben creer, hacer o pensar; esta vez son las nuevas tecnologías de la información y comunicación (internet, Facebook, twitter, whatsapp) quienes junto con los tradicionales medios de comunicación, determinan lo que debe ser considerado como válido o verdadero. El poder de la llamada Cibercracia es tan grande que determinan lo que debe ser divulgado o no.

    Es un interesante tema Dr. Altair, le comento que un servidor también esta reflexionando y escribiendo en torno al papel de las ciencias sociales en la sociedad actual y el por qué son ciencias que aportan conocimientos y reflexiones valiosas para reestructurar el tejido social, económico, cultural y político de las sociedades humanas actuales, caracterizadas por el nuevo oscurantismo promovido desde la cibercracia, la destrucción de la naturaleza, la violencia, el incremento de personas en condición de pobreza y sobre todo, el calentamiento global.

    Saludos cordiales Dr. Altair

    • Gracias Nicolás por tu comentário! creo que haces una profunda reflexión sobre la cibercracia. Un tema que me gustaria escribir en breve. És un honor recibir tu palavras. Te envio un gran abrazo de Brasil. Estamos vivindo un momento muy dificil. Mas creo que poderemos tener un cámbio el proximo año. Un gran y afectuoso abrazo Altair

  2. Importante reflexão, que nos confronta e provoca a localizarmos o que realmente buscamos ou concebemos como sucesso, realização e modo de vive com satisfação. Nisso reside uma intima enterface entre as relações humanas , subjetivações e representações.

    • Grato Evania pelo comentário. O desafio da sociedade atual é não se deixar abater ou naturalizar por uma forma perversa de convivência que alimenta o ódio, a mentira, a violência, o machismo, a xenofobia, o feminicidio, o racismo … essas formas doentias de relações humanas não podem ser NATURALIZADAS. Precisam ser combatidas. Eis a grande tarefa da educação invocando Adorno: QUE AUSCHWITZ NÃO SE REPITA.

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