Economia circular

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O desafio maior, num mundo marcado pela
escassez de matérias e energia, é popularizar a ideia
de que nada precisa ser descartado;
afinal, tudo pode ser reaproveitado.

Jamais deixar resíduos durante a fabricação de um produto ou mesmo depois de fabricado. Se não for possível reciclar, faz-se necessário inventar um modo de reutilizá-lo ou transformá-lo em algo útil, de tal maneira que, na medida do possível, e usando toda a criatividade imaginável, nada se perde, tudo se aproveita, nada se descarta, tudo vira algo útil.

Esse é o objetivo da “economia circular”, modelo pelo qual, essencialmente e num breve resumo, tenta aproveitar todos os insumos utilizados na fabricação de um produto, sem produzir lixo.

A ideia nasceu da percepção de Ellen MacArthur. Por esse método, não existe desperdício – diferente, portanto, do método de reciclagem. Para difundir sua ideia junto à empresas, universidades, governos e ONGs, Ellen MacArthur criou uma Fundação que leva seu nome.

O exemplo da Renault

            A fabricante de carros francesa Renault, em parceira com a Fundação Ellen MacArthur criou uma fórmula pela qual reaproveita 85% da estrutura de automóveis velhos ou danificados na fabricação de novos modelos, segundo reportagem publicada por Veja (ed. 2462 – 27/jan/2016, p.86).

            O exemplo da Renault está dividido em três etapas: 1) Descontaminação – Nessa etapa, são preservadas 10% da estrutura do carro, após peças como baterias e catalisadores, além de acionadores de air bags passarem por todo o processo de descontaminação, uma vez que determinadas peças contém elementos tóxicos; 2) Remoção – espumas das poltronas, vidros e revestimentos de metal do painel – num total estimado de 5% – são reaproveitados em outros componentes; 3) Britagem – cerca de 70% das peças de metal, como a lataria, após processo de separação e fragmentação, são reprocessadas, transformando-se em novas peças.

O ganho financeiro

            Ainda de acordo com a citada reportagem, os ganhos financeiros com a adoção da “economia circular” são significativos. Relatório produzido pela consultoria McKinsey & Company, em parceria com o FEM (Fórum Econômico Mundial), apontam que a adoção desse estilo de “desperdício zero” pode gerar economia de 380 bilhões de dólares para a iniciativa privada no momento inicial da transição da economia linear (a atual, baseada no descarte) para a economia circular.

Uma vez adotada de forma ampla, os cortes chegariam a 600 bilhões de dólares. Fora isso, a demanda por mão de obra para as fábricas que adotarem o princípio da “economia circular” faria com que surgissem, somente na Europa, 1 milhão de empregos.

            O desafio maior, diante da necessidade suprema de implantação da “economia circular”, num mundo marcado pela escassez de matérias e energia, é popularizar a ideia de que nada precisa ser descartado; afinal, tudo pode ser reaproveitado.

Em outra publicação, também afirmamos que: “… é preciso dizer algo mais: transformar a economia dos homens significa, sem fazer uso de palavras vazias, propor a radical mudança do ritmo frenético de produção e consumo globais e, a partir disso, reconstruir o metabolismo ser humano-natureza, buscando igualmente reconstruir a própria economia de produção”.
Economista, ativista ambiental e Mestre em Integração da América Latina pelo Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina (PROLAM), da Universidade de São Paulo (USP). Autor de Economia destrutiva (CRV, 2017) e Civilização em desajuste com os limites planetários (CRV, 2018). prof.marcuseduardo@bol.com.br

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