Da vida e de suas antíteses

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Vida e morte é a antítese mais verdadeira que existe.

Há relutância em escrever sobre um tema que é muito caro para todos: a morte. Mas é um tema necessário. Falar e escrever sobre a morte é assunto que circula em todas as redes sociais, sejam elas online ou presencial.

A pandemia potencializou essa temática.

Com a chegada do Natal e do final de ano, a morte de entes queridos deixa de ser uma ideia, a morte se materializa.

Sim, se materializa. Na ausência de alguns na mesa posta para ceia. Na carga de sentimentos como saudade, recordação, arrependimento, compaixão, apego, paz, amor, alegria, tristeza, compreensão, tolerância, intolerância, solidariedade, medo, angústia, ansiedade, piedade, ressentimentos, perdão, raiva, ódio, compaixão, gratidão…

Essa lista de sentimentos é infinita porque se trata das vivências terrenas.

Caro leitor(a), o acréscimo de sentimentos fica por conta do que se leva no coração e na alma. Depende de sua postura no mundo. De sua religiosidade ou de seu ateísmo. Do crescimento espiritual e intelectual. De seu posicionamento político. De sua classe social.  De sua dimensão humanista ou não… A lista é cheia de antíteses. Porque vida e morte é a antítese mais verdadeira que existe.

Vejo amigos e amigas vivendo essa antítese de várias formas. Eu também. Há quem perceba a morte como processo da própria existência dos seres nesse plano. Para esses, a morte é um até logo.  E, há aqueles que compreendem a morte como perda. Ambos, diante do inevitável fato, sentem ao seu modo. A dor do adeus ou do até logo não se mede.

Sabedores disso é que a corrente do “meus sentimentos”, “sinto muito”, “paz e luz”, “abraço fraterno” e “gratidão” se intensificou. A morte, provocada pelo vírus mundial e letal, despertou muito isso. Há um sentimento de injustiça que circula nesse evento, devido principalmente pelas desigualdades econômicas dos povos. A humanidade tende a se materializar, pois descobrimos o quanto de desumanidade carregamos. É uma tendência. Que bom!A melhor atitude notada nos últimos tempos, em relação à antítese vida x morte é o exercício da gratidão. E não é aquela palavra ao vento, dita de qual quer forma, é sentimento verdadeiro a quem fez a passagem. O melhor conforto é pensar no ente querido com o coração grato em ter a oportunidade de conviver. Acertar e errar. Aprender ou não. Amar ou não.                                                                               

Portanto, celebremos a vida! Qualquer vida. De todos os seres vivos de nossa convivência.

Para finalizar esta reflexão de forma carinhosa, diante de um tema não tão “leve” como a morte, resgato um fato ocorrido com uma prima.

Por ocasião da morte de parente de uma amiga, ela foi ao velório. Como o falecido não fazia parte de seu convívio, sequer o conhecia, tampouco seus familiares, exceto sua amiga, sua mente não estava focada no passamento, ao chegar na sala mortuária se dirigiu a pessoa que estava próximo ao caixão, estendeu a mão para o cumprimento e soltou um sonoro: PARABÉNS!!

Constrangimento total.

Hilário o fato. Mas trago a reflexão: – Por que não dizer parabéns?

Afinal, a vida merece um PARABÉNS!!

Somos vocacionados para a vida. Não deixemos que a morte nos recolha de uma vida sem sentido. Não deixemos que outras forças nos retirem o sentido de uma existência verdadeiramente humana, solidária, comprometida com todas as formas de vida. A curva biológica da nossa existência é muito curta para ser pequena. (Dirceu Benincá) Leia mais: https://www.neipies.com/o-ser-a-morte-e-a-vida/

Autora: Marta de Fátima Borba.

*Marta escreve regularmente em seu blog. Confira mais publicações de sua autoria: https://www.ditosenaoditos.com.br/

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