Da sala de aula para o mundo

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Há 31 anos trabalhando como educadora, Ana Delise leva consigo o amor por ensinar, muitas histórias e agora o título de Professora Emérita 2021

(Matéria Jornalista Andressa Wentz)

“Deixa a gente voltar pra cá, Ana”, é o que dizem os alunos para a diretora Ana Delise quando saem da Escola Municipal de Ensino Fundamental Daniel Dipp para cursar o Ensino Médio. Ana Delise Cassol, a menina que entrou para o magistério com 15 anos por conta de um desejo da mãe – que sempre quis a sua independência –, hoje carrega consigo 31 anos na educação, o título de Professora Emérita de 2021, e a pedagogia freireana.

A mãe do Marcelo e do Gabriel, e esposa do Jaime, é natural de Entre-Ijuís, graduada em Estudos Sociais, pós-graduada em Geografia e especialista em Gestão Escolar. Foi em um primeiro de março que Ana chegou ­à Passo Fundo, no ano de 2004, após ter sido aprovada em um concurso da Prefeitura. Antes de encontrar a Daniel Dipp, a professora havia passado pelas EMEFs Professor Arno Otto Kiehl e Antonino Xavier. Embora fossem escolas diferentes, seu objetivo sempre o mesmo: fazer com que os alunos construíssem seu próprio espaço. “Olhar nos olhos, não de cima”.

Seu envolvimento com a equipe diretiva da Daniel Dipp começou quando foi convidada pela professora Leonise Cola para ser sua vice-diretora, mas havia uma condição: Ana só aceitaria se pudesse trabalhar diretamente com os alunos. O que sempre quis foi fazer parte de suas histórias. “Foi um trabalho constante para que os estudantes gostassem da escola, sentissem que ela é a casa deles, e que é da comunidade”.

Até então, não se percebia por parte dos alunos um amor pelo local… Quem buscou construir esses afetos foi a direção. A aproximação foi acontecendo aos poucos, por meio do diálogo e da confiança, criando um espaço onde quem estudasse na Daniel Dipp pudesse sentir que lá existe um lugar para chamar de seu. Um lugar para voltar e dizer que sente saudades – e é o que acontece. “Que escola você quer deixar para o seu filho? Eu e Nadia – sua vice-diretora e companheira – dizemos a eles quando não tomam o devido cuidado com o ambiente escolar. Mas a mão que puxa a orelha, também é a mão que afaga.”

Uma escola colorida

No Dipp, não há sala da diretora. A direção é um espaço amplo, onde todos podem estar. Fazer com que os alunos sentissem medo da equipe diretiva nunca foi a intenção de Ana Delise, pelo contrário, ela acredita em conversas abertas e em dar chances. Embora seja firme – uma ‘tigra’ – quando é preciso. “Quando o aluno tem medo da diretora é porque a única metodologia utilizada é a da ameaça. Nesses casos, não existe liberdade para o estudante”.

Quanto à inclusão, essa também é uma de suas bandeiras. Não só de Ana Dê – como é chamada pelos amigos –, mas de toda a Daniel Dipp. Para a diretora, o essencial está no olhar com carinho, na socialização em sala de aula – sem separações –, e em permitir que os alunos evoluam dentro de seu próprio tempo. Afinal, no Dipp tem lugar para todos. E todas.

Sala de aula construída pelos alunos, escadaria literária, reformas no ginásio, ambiente acolhedor para professoras e professores… Muitos foram os projetos desenvolvidos pela atual gestão. A Escola Colorida foi um deles, onde a proposta se baseava em colorir paredes e espaços físicos para que ficassem com a cara dos estudantes e dos educadores, captando aquilo que mais gostassem. Colorir por fora aquilo que já estava sendo pintado por dentro.

Para Ana Delise, mudar o mundo físico dá trabalho, mas transformar a mente das pessoas dá mais ainda. É aí que entra o papel da educação. “Tem uma frase do Piaget que eu gosto muito, é a seguinte: “O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas, e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram””. No fim das contas, pode-se dizer que educar e transformar são sinônimos.

Mas nenhuma mudança teria conseguido realizar sem sua equipe diretiva, ela conta. Foi em conjunto da vice-diretora Nadia Bolzan, das coordenadoras Angela Santos, Camila Santos e Vera Lucia Mazuco e da orientadora Maria Andreia Reginato que construiu o Daniel Dipp de afetos que existe hoje.

Porém, não é só com o carinho dos alunos, da gestão e dos professores com o qual Ana pode contar. E também não são só os alunos que sentem falta do Dipp. O professor Tiago Machado sente a mesma saudade. Para o professor de História e atual diretor administrativo do CMP Sindicato, nos dois anos em que esteve na escola encontrou um dos melhores ambientes para desenvolver sua ação docente. Um privilégio. E, em grande parte, o local tão receptivo se deu pelo trabalho do grupo da direção. “Quem conhece a professora ‘Ana Delícia’ sabe que a mesma é uma grande educadora, administradora e defensora do ensino público de qualidade”.

A verdade é que o que Ana Dê sempre quis foi deixar um legado. Deixar marcas nos estudantes. Hoje, sempre que um deles entra em sua sala carregando uma florzinha amarela – dessas do campo – para dar a ela de presente, pensa que não há algo mais precioso que seu trabalho.

Créditos fotos: Andressa Wentz

Edição: Alex Rosset

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