Quanto mais escura a cor da pele, menos renda, menor o grau de educação,
menores as chances de crescimento profissional e as oportunidades.
O inverso também é perceptível, quanto mais clara for a cor da pele,
maior a renda, o grau de educação e as oportunidades.

 

O Brasil foi o último país da América que aboliu a escravidão. O processo de abolição da escravatura foi gradual e começou com a Lei Eusébio de Queirós de 1850, seguido pela Lei do Ventre Livre de 1871, a Lei dos Sexagenários de 1885 e finalizado pela Lei Áurea em 1888.

Ou seja, fazem menos de 150 anos que negros e negras foram postos para fora dos locais onde eram feitos de escravos e largados no mundo, literalmente sem eira nem beira, para aproveitar ‘essa tal liberdade’ que só aparecia mesmo nos papéis assinados.

 Na prática, negros e negras não tinham qualquer oportunidade e continuavam tendo que servir brancos com dinheiro.

Alguns estudiosos afirmam que a escravidão nunca foi abolida no Brasil, já que seus reflexos gritam nas estatísticas que diariamente mostram qual o lugar do povo negro na sociedade atual.

Autor Lázaro Ramos chora ouvindo depoimento de professora Diva Guimarães sobre educação e racismo no Brasil.

Quanto mais escura a cor da pele, menos renda, menor o grau de educação, menores as chances de crescimento profissional e as oportunidades. O inverso também é perceptível, quanto mais clara for a cor da pele, maior a renda, o grau de educação e as oportunidades.

De acordo com o Atlas da Violência 2017 a população negra, jovem e de baixa escolaridade totaliza a maior parte das vítimas de homicídios no país.

De cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.

A cada 23 minutos um jovem negro é morto no país. De 2003 a 2013 o índice de mulheres brancas assassinadas caiu enquanto o de mulheres negras subiu 54%. A cada 4 pessoas com diploma de curso superior, somente uma é negra.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios em 2015, os negros e pardos representavam 54% da população brasileira, mas sua participação no grupo dos 10% mais pobres chegava a 75%. Pretos ou pardos estão 73,5% mais expostos a viver em um domicílio com condições precárias do que brancos.

Isso tudo e muito mais reflete diretamente na qualidade de vida destas pessoas e, consequentemente, nos dados apontados pelo Mapa do Encarceramento, que no período analisado de 2005 a 2012 constatou mais presos negros do que brancos no país.

 

Djamila Ribeiro é a convidada do Saia Justa e fala sobre o lugar de fala do outro e a diferença das pessoas. Confira!

Em 2005, considerando-se a parcela da população carcerária para a qual havia informação sobre cor disponível 58,4% era negra.

Já em 2012 mais de sessenta por cento da população prisional era negra. A equação é simples e injusta: quanto maior a população prisional no país, mais cresce o número de negros encarcerados.

Quando falamos de educação, a desigualdade racial é evidente. De acordo com dados educacionais organizados pelo movimento Todos pela Educação a taxa de analfabetismo é 11,2% entre os pretos; 11,1% entre os pardos; e, 5% entre os brancos.

A partir dos 15 anos, entre os brancos, 70,7% dos adolescentes de 15 a 17 anos estão no ensino médio, etapa adequada à idade, entre os pretos esse índice cai para 55,5% e entre os pardos, 55,3%. Já no terceiro ano do ensino médio a diferença aumenta: 38% dos brancos; 21% dos pardos; e, 20,3% dos pretos têm o aprendizado adequado em português e 15,1% dos brancos; 5,8% dos pardos e 4,3% dos pretos têm o aprendizado adequado em matemática.

Pensa comigo: morando em um país que a maioria da população é negra, quantos professores negros você teve? Quantos colegas negros na escola e quantos colegas negros durante a faculdade, a especialização, o mestrado?

A abolição da escravatura foi há 130 anos! Historicamente isso foi ontem e até hoje o povo negro sofre com o peso dos grilhões, que hoje aparece na face da desigualdade, e nada mais justo que a sociedade reparar essa dívida histórica seja através de cotas, seja através de outras políticas públicas que cumpram com este papel.

O sistema de cotas não é uma benesse, é a forma de o Estado, num trabalho de formiguinha, corrigir a negligência com o negro e com o pobre.

E não me venha com discurso de meritocracia, pois esse só vale quando você compara dois pontos de partidas iguais. E né, fica fácil defender o mérito quando em uma corrida de 100 metros você parte logo dos 50 metros enquanto o povo negro sai esbaforido da largada.

 

“Na minha pele” entrevista com Lázaro Ramos.

 

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