Batendo o tambor pra pedir respeito

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Terreiros fazem parte das periferias de todas as cidades brasileiras, sejam de umbanda, de candomblé ou de nação. Com ritualísticas diferenciadas, mas unidas pelas raízes africanas, a simplicidade ainda é item quase que obrigatório nos templos destas religiões.

Gosto de observar a relação que o ser humano tem com o sagrado. São crenças diversas, milhares de fés diferentes, que unem pessoas em torno de sentimentos de amor.

Enquanto algumas pregam a caridade e o amor ao próximo, outras defendem a relação direta com a figura que acreditam ser a representação do divino, seguir algumas regras pré-determinadas e isso basta.

Apesar de não ser grande devota ou frequentadora de qualquer religião, minha admiração pela resistência dos povos africanos me fez pesquisar a temática. Discorri sobre a representatividade da mulher no espaço do terreiro de umbanda e neste processo de observação e aprendizado pude presenciar a dedicação destas pessoas não somente à sua ritualística, como também para o bem-estar da humanidade como um todo, refletida no atendimento prestado a qualquer pessoa que se faça presente na celebração e no envolvimento destes religiosos em campanhas de solidariedade.

Terreiros fazem parte das periferias de todas as cidades brasileiras, sejam de umbanda, de candomblé ou de nação. Com ritualísticas diferenciadas, mas unidas pelas raízes africanas, a simplicidade ainda é item quase que obrigatório nos templos destas religiões. Mesmo com estruturas por vezes grandiosas, a essência ainda é a da benzedeira que tem um galho de erva e o coração cheio de amor.

Amor esse que parece incomodar os corações cheios de ódio e preconceito. Em cinco anos, as denúncias de discriminação por motivo religioso cresceram 4960%.  

Conforme dados publicados no Relatório de Intolerância e Violência Religiosa, da Secretaria Especial de Direitos Humanos entre os anos de 2011 e 2015, 27% das denúncias feitas nas ouvidorias eram de pessoas da religião de matrizes africana, diante de somente 16% de evangélicos, 8% de católicos e a 7% de espíritas.  Todavia, quando se trata da religião dos agressores, os dados apontam que 17% eram evangélicos, diante de 3% católicos.

Como praticantes da intolerância os religiosos de matriz africana ficam juntos aos Testemunhas de Jeová e Espíritas, com índice de 1%. Em 73% dos casos não foram registradas informações sobre a religião do agressor.



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Conforme dados do Disque 100, canal do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que recebe denúncias de discriminação e violação de direitos, foram registradas 213 notificações de intolerância religiosa a matrizes africanas, de janeiro a novembro de 2018. Os dados são 47% maiores que os registrados no ano anterior.

São agressões verbais, agressões físicas, pichações em casas de culto e até “guerra sonora” (quando os vizinhos utilizam o som em alto volume para que os religiosos não consigam dar andamento na cerimônia).

Há ainda a perseguição e morte de líderes religiosos de matriz africana, em diversos pontos do país. Em diversas periferias, traficantes ligados às religiões neopentecostais destroem terreiros, imagens e histórias “em nome do senhor”.

Uma violência presente e por vezes invisibilidade pelo tabu que os desconhecedores destas religiões replicam em suas piadinhas carregadas de preconceito.

Ainda que o artigo quinto da Constituição Federal de 88 diga que o brasileiro tem direito ao “livre exercício de cultos religiosos e tendo garantida a proteção aos seus locais de culto e às suas liturgias” poucas são as ações, em especial por parte dos estados, para diminuir os índices (que devem ser muito maiores, já que muitas pessoas não denunciam por saber que dificilmente se busque uma solução para a questão).

Mesmo com penas previstas no Código Penal para crimes de intolerância religiosa que incluem multa ou detenção, de um mês a um ano podendo aumentar em um terço caso se registre algum ato de violência, os povos que cultuam as religiões de matriz africana seguem batendo seu tambor com orgulho, buscando respeito, mas com medo que o seu terreiro seja o próximo a ser perseguido.

Saravá!



Ipácio Carolino e Tânia Mara Duda são parceiros na divulgação do conhecimento das religiões de matriz africana e Umbanda fazendo-se presentes em escolas da rede municipal de Passo Fundo, quando são convidados. O conhecimento das práticas e dos fundamentos permite aos jovens estudantes dos nonos anos do Ensino Fundamental atitudes de maior respeito e consideração às religiões de matriz africana.

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