Cem anos de 1923

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O que para mim fica mais uma vez evidente são os estragos causados pelas nossas guerras, sim foram guerras, os autores usam tanto o termo “revolução” como “guerra”.

Revolução ou Guerra Civil? Pouco importa. O que importa é que se estude este fato, que haja pesquisa, que se escreva. Diante de tanto silêncio do Centenário deste episódio, finalmente podemos ler “Cem anos da Revolução de 1923 – História, mídia e cultura”,  editado agora pela Sulina o livro organizado por Álvaro Nunes Larangeira e Juremir Machado da Silva.

Além dos organizadores, temos textos de Larissa Caldeira de Fraga, Pâmela Chiorotti Becker. Taila Lopes Quadros, Beatriz Dornelles e o posfácio de Marcos Juliano Borges de Azevedo.

Pode ser falha minha, mas vasculho e pouco acho escrito até aqui. Dos atores, de então, temos a biografia de Zeca Neto, “A campanha de 1923”, do General Flores da Cunha. Dos historiadores daqueles tempos um livro citado pelos autores que é do Arthur Ferreira Filho, a “Revolução de 1923” é um escrito sério, porém sabemos que o autor era castilhista.

Poucos estudos mais sérios, de fundo, de pesquisa foram feitos que eu conheça.

Agora, em boa hora, cem anos depois, temos a busca do que se escreveu nos jornais daqueles tempos, como agiram os periódicos de fora daqui, como o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, o Correio Paulistano de São Paulo, até mesmo a revista Time, dos EUA. Pouco sobrou do jornal Gazeta do Alegrete, porém a Beatriz Dornelles consegue recompor boa parte dele e do pensamento de seus donos.

Temos uma lúcida análise de como o imaginário da revolução de 1923 aparece na parte III do seu clássico O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.

Não cabe aqui entrar num relato de cada capítulo, mas de instigar a leitura deste livro, louvando a atitude de Álvaro e Juremir, professores e jornalistas que tiveram o tino e capacidade de explorar o tema pelo viés tanto da história, como da mídia e da cultura.

O que para mim fica mais uma vez evidente são os estragos causados pelas nossas guerras, sim foram guerras, os autores usam tanto o termo “revolução” como “guerra”.

A Guerra dos Farrapos é cantada em prosa e verso, de forma ufanista, chegando criar um mito em torno das lutas nas coxilhas. Mesmo com alguns estudos sérios da Guerra Civil de 1893-95, tenta-se de todas as formas apagar as matanças e as degolas. Como também em 1923 se tenta passar a ideia de que foi “mais amena”. Comparativamente, foi menos dolorosa, mas no livro há passagens que mostram o ódio que reinava no Rio Grande do Sul.

Ainda se pede um estudo sobre como estes três episódios puderam contribuir para o  atraso do nosso estado em relação a outros estados da federação.

Neste livro temos uma ideia que não havia “santos” de nenhum lado. Mas fica evidente, mais uma vez, o autoritarismo do castilhismo e os roubos de eleições, feitas pelo borgismo.

Autor: Adeli Sell

Edição: A. R.

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