Brincando com a vida

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Sonhei que havia chegado meu marca passo. Um helicóptero pousou no meu quintal. Sonho meu!

O coração que recebi de minha mãe era perfeito, mas por tempo uso, nervosias, temperamento, gordura e outras dificuldades impostas por mim, começou a se mostrar incapaz. O alívio foi no sonho pois, ao me acordar, percebi, e mais senti, que deveria continuar esperando.

Por estes dias de aflição, consegui falar um bom tempo com um amigo cardiologista. Me falou da dificuldade de depender do Estado. Afirmou que a entrega do precioso material está sendo de uso restrito em razão de o Estado pagar pouco. Não falta o coração artificial, falta outro tipo de material, o vil metal é que também está em jogo. Eu fico nessa luta de interesses, pensando quanto vale meu coração.

Foi me dito, depois de o exame Doppler mostrar, que eu havia rodado: minha força física original havia se esgotado. Eu mesmo constatei e diagnostiquei: se as alterações do impulso elétrico demorarem ainda mais para impulsionar os batimentos… babaus minha vida.

É verdade, já vivi um bom tempo. E muitos vão dizer: ele já deu o que tinha que dar, ainda que, naturalmente, não concorde.

Se puser numa balança os prós e os contras, acho que tenho direito de um bonus a mais. Um tempo de prorrogação e aí o juiz pode dar pelo jogo terminado. Afinal deixei um resultado social, ao menos nota 7, se não mais.

Posso mostrar o quanto procurei ajudar no curso da vida dos mais velhos por estas bandas no norte do Estado. Acho que ajudei também a melhorar a qualidade de ensino num projeto institucional.

Ia esquecendo: ajudei a criar o curso de psicologia. Só esse curso bastaria para dar meu tempo de prorrogação.

Mas bá tchê… tem ainda mais: até ajudei a criar ensino superior no Sul do Piauí.

Por tudo isso, e pelos milhão e meio de aulas, me deem um tempo para usufruir desta primavera, dos amigos, de minha casa, e das letras que ainda sou capaz de redigir. Buenas se não for assim, tchau! Já começo a me cansar. Todavia, caprichando no português,… ser-lhes-ei, amici mei, eternamente grato.

Autor: Agostinho Both

Edição: A.R.

1 COMENTÁRIO

  1. Para mim um mestre da literatura como o senhor sempre será eterno e que o seu coração ainda pulse que muitos e muitos anos pois ainda temos muito o que aprender através da sua literatura.

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