O novo jornalismo, o jornalismo do século 21,
será feminino, muito mais atrevido,
menos óbvio e discriminador.
As mulheres vão reinventar
o jornalismo.

 

Vou dizer o que me leva a acreditar que as mulheres vão salvar o jornalismo.

“Temos que empoderar as mulheres”, afirma jornalista.

Há quase 20 anos, a jornalista Eliana Simonetti decidiu que me levaria para São Paulo para que eu a ajudasse a resolver um bom problema da Veja.

Veja não era ainda o que acabou se transformando. Eliana me queria na Editoria de Economia, como subeditor dela, porque Veja havia sido tomada pelas mulheres.

Era preciso arranjar homens para a revista, e os homens estavam faltando porque aqueles eram os tempos malucos da corrida para a internet.

Os sites eram a nova Serra Pelada. Os jornalistas estavam sendo contratados por altos salários para trabalhar em portais de todo tipo. Alguns achavam que ficariam ricos. Houve uma debandada nas redações.

Eliana me explicou que os chefes tentavam recuperar o equilíbrio num ambiente sempre dominado pelos homens. A presença das mulheres estava tornando as pautas, as abordagens, os textos excessivamente femininos.

Pode-se dizer hoje, numa análise simplista e demagógica, que essa seria uma questão de machismo. Não era. Era uma tentativa de reequilibrar até mesmo a linha editorial da revista (deu no que deu…).

O salário seria mesmo de Serra Pelada, mas eu resisti. Não tinha mais idade para sair por aí. A vaga que Eliana me ofereceu foi logo depois ocupada pela minha amiga Denise Ramiro. As mulheres continuaram avançando.

O que se viu a partir dali foi a ocupação das redações pelas mulheres, assim como os cursos de jornalismo, professoras e alunas.

Hoje, os melhores textos do jornalismo de fôlego, das grandes reportagens, são de mulheres. E a melhor coisa no jornalismo é o “excesso” de mulheres, que fazem hoje o que a repórter Celia Ribeiro já fazia nos anos 60 e 70. Elas já são maioria nas redações.

A imprensa ainda machista (e que se revelou mais golpista do que em 64) mantém rígidos comandos masculinos em postos chaves, que estão acima das redações.

Apesar da mulher ter conquistado as redações das mídias nos últimos 20 anos, ainda está longe o cenário da paridade. E se assim é nos patamares mais baixos da profissão, nas hierarquias de decisão o vazio é quase total. Um tópico que mereceu um debate neste 4º congresso dos jornalistas portugueses.

O novo jornalismo, o jornalismo do século 21, será feminino, muito mais atrevido, menos óbvio e discriminador. As mulheres vão reinventar o jornalismo.

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