As crianças e os animais: uma relação de afeto

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As crianças nunca devem perder o afeto pelos bichos e para isso os pais e professores precisam ensinar-lhes a amá-los incondicionalmente. Para isso é bom que desde cedo a criança tenha em casa um animalzinho doméstico seja gato ou cachorro.

O poeta Vinícius de Moraes na sua obra “A arca de Noé” nos deixou um grande ensinamento de como ensinar as crianças a amar os animais. Nos seus mais diversos poemas dessa obra tão maravilhosa, podemos encontrar um poeta que procura passar para as crianças o amor e cuidado que devemos ter para com os animais não somente os domésticos, mas todos eles.

Muitas vezes as crianças são levadas a um pensamento errado de que apenas aqueles animais com os quais convivemos devem ser amados e os que vivem nas florestas são perigosos e não merecem os nossos cuidados. Este ensinamento não deve ser passado para nenhuma criança. Todo animal merece amor e respeito independente da espécie.

Parece que quanto mais feio for o animal, mais dizemos às crianças que não devemos amá-los. Isso ocorre com os emboás, as cobras, os ratos e, principalmente, as baratas e os ratos. Claro que não queremos esses bichos dentro das nossas casas, mas isso não é motivo para ensinarmos as nossas crianças a odiá-los. Vemos tantos filmes com ratinhos e tantas músicas bonitinhas com baratas que muitas vezes nem percebemos os males que lhes fazemos quando nos pegamos cantarolando uma dessas canções.

O filme “O pequeno Stuart Little” traz o personagem “Stuart” um ratinho extremamente carinhoso que não tem nada de nojento assim como podemos ver também no desenho animado Tom & Jerry que animaram muitas crianças nas décadas de 70 e 80.

Temos também os ratinhos preferidos da Disney que toda criança e adulto amam Mickey e Minie Mouse. Acredito que todos estes personagens tentam buscar nas crianças a inocência do amor pelos animais e despertá-las para um cuidado sem pré-conceitos estabelecidos pelos adultos de que este ou aquele animal não deve ser amado por transmitir doenças ou por nos fazer mal.

Para alguns adultos que produzem filmes, esses animais são os mais amados pelas crianças e os que mais aparecem nas telas de cinema e televisão. Isso porque eles precisam ser respeitados e amados.

Todo ser vivo necessita de amor. Deus criou todas as coisas. Se amamos a Deus devemos amar todas as coisas que foram criadas por Ele independente de feio ou bonito. A mesma coisa ocorre com as baratas. Temos tanto pavor às baratas que acabamos passando esse medo para as crianças, muitas vezes causando-lhes pânico e traumas para a vida adulta.

A música “A baratinha” da Galinha Pintadinha é a coisa mais linda do mundo para animar a criançada. Já pensou em como a sua criança vai gostar de uma música que fala de baratas se ela tem pânico delas?

A Baratinha – Galinha Pintadinha 1 – OFICIAL

O problema dos adultos é que eles não percebem o mal que fazem quando passam para as crianças todos os seus problemas, traumas e medos. As crianças, em fase de aprendizagem e imitação do que veem, tendem a receber todas essas informações e guardam dentro dos seus pensamentos para mais tarde colocarem para fora seja através de um pesadelo ou de um xixi inesperado na cama.

Toda criança ama animais. Elas não fazem distinção de que bicho faz mal para elas ou não. Elas nascem inocentes e só perdem essa inocência por nossa causa, ou seja, porque existem adultos que vão sorrir delas se continuarem inocentes quando crescerem.

Certa vez, presenciei na casa da minha tia o meu priminho de dois anos de idade a brincar com um emboá na palma da sua mão. Ele apertou tanto o bichinho que acabou o matando. Depois nos disse que só queria cuidar dele e apertou com força para que ele não caísse no chão e morresse. O garoto não teve um pingo de medo do emboá enquanto a mãe, minha tia, fez o maior espanto. Assim somos nós, adultos, nos espantamos com tudo que é diferente e estranho.

As crianças nas suas inocências não acham nada diferente e tendem a não criar categorias sobre as coisas. Tudo é igual para elas. Tudo merece amor e cuidado. Tudo é lindo aos seus olhos de descobertas e curiosidades. Era para gente ser assim, mas não somos. Acho que nunca mais seremos assim. A gente até esquece que foi assim na infância. Todo bicho da natureza deve ser respeitado como se fosse um ser único com vida própria, costumes e habitats diferentes. As crianças devem aprender sobre essas características em casa e na escola. É preciso que as ensinemos que há animais domésticos e selvagens, e que também há aqueles que entram nas nossas casas sem serem convidados e por diversos motivos.

As baratas, os ratos, os escorpiões são perigosos para a nossa saúde isso todos nós sabemos. Mas, se ensinarmos as crianças que não devemos nos aproximar desses bichos e que elas precisam chamar imediatamente o papai ou a mamãe caso vejam alguns deles em casa e nunca se aproximar elas terão cuidados e saberão agir no momento necessário. Nada de chineladas, vassouradas, cadeiradas ou coisa parecida, isso só demonstra a nossa violência em relação ao mundo animal. O ideal é que matemos esses bichos longe das crianças.

Algumas pessoas em bairros mais pobres tendem a colocar ratoeiras, armadilhas para matarem ratos, em alguns locais da casa. Isso é muito perigoso tanto para a criança quanto para o próprio adulto. Armar uma ratoeira exige cuidados e muitas vezes acabamos nos machucando. Também exige cuidados o local onde as vamos colocá-las, pois devem estar longe do alcance das crianças. Já vi criança com dedos quebrados por causa de ratoeiras. Isso é muito sério. A pobre criança ainda teve que ouvir que foi mexer onde não devia.

Da mesma forma é quando colocamos veneno para matar ratos, baratas e até mesmo os famosos cupins. Todo cuidado é pouco no manuseio de venenos. Na verdade, nem devíamos usá-los nas nossas casas, principalmente, aquelas que têm crianças e idosos. Até mesmo os adultos acabam se atrapalhando muitas vezes com os rótulos e ingerindo-os sem querer.

Não estou querendo dizer aqui que devemos deixar as nossas casas cheias de ratos e baratas, longe de mim tal coisa, mas que devemos manter a higiene e o cuidado necessários para que eles nem cheguem até os nossos lares. Se limparmos as nossas casas diariamente, mantermos os lixos em locais seguros, e tivermos bons vizinhos que pratiquem esses mesmos hábitos nunca precisaremos de venenos ou de ratoeiras.

Tudo é questão de conscientização e harmonia entre as pessoas que moram próximas. Saber que tais animais são prejudiciais à saúde todos nós sabemos, e as crianças também precisam saber disso, mas espalhar pânico nunca.

Sobre os animais selvagens também devemos mostrar as crianças que são belos e merecem o nosso amor e cuidado. Alguns animais estão em extinção no mundo devido, principalmente, a caça predatória. Elefantes, zebras, hipopótamos, leões, onças são os que mais os caçadores gostam. É necessário dizer as crianças que muitos animais não podem ser caçados e que esse tipo de lazer não é legal, pois matar animais nunca é uma coisa boa mesmo que seja de forma esportiva e que eles não sirvam para quase nada além de habitarem as nossas florestas.

O homem é o maior predador dos animais do planeta. Se ele não mata diretamente consegue matar de forma indireta com queimadas e desmatamentos das florestas onde centenas de animais são mortos pelas fumaças e fogo.

Ainda bem que atualmente não vemos mais animais em circos como acontecia antes, na minha infância era comum ver elefantes, macacos e leões participando de espetáculos nesses locais. As autoridades perceberam que lugar de animal selvagem é na floresta e, em alguns casos, nos abrigos com profissionais preparados para cuidarem desses bichinhos. Dois desses profissionais são veterinários e biólogos. O médico veterinário é quem deve medicar os animais selvagens e mais ninguém.

Todo bichinho selvagem é predador de um outro bichinho e isso faz parte da cadeia alimentar, por isso é importante ensinar as crianças para não deixarem de gostar de um leão porque ele come coelhinhos, por exemplo. São coisas da natureza. Faz parte da sobrevivência de cada bichinho e também é importante ensinar as crianças que todo animal sabe se proteger dos seus predadores, mas muitas vezes não resistem e acabam sendo comidos por eles.

No Brasil temos a nossa famosa onça pintada, que corre risco de extinção. Com o desmatamento e as queimadas das florestas, temos visto nos noticiários esse animal passeando pelas avenidas de algumas cidades e invadindo casas que ficam próximas de matas atrás de comida e proteção. As pessoas ficam apavoradas, mas isso é fruto da própria ação do homem.

Sem florestas, os animais tendem a ir para as cidades, ficam desorientados, famintos e acabam atacando as pessoas. O mico-leão-dourado também corre risco de extinção, este animal tão importante à natureza, pois se alimenta geralmente de frutos e joga as suas sementes pela terra contribuindo assim para o florestamento. Perto da minha casa tinha uma florestinha cheia desses bichinhos, mas a floresta foi queimada e muitos deles morreram no incêndio.

Eu gostaria de abrir um parêntese para falar de dois animais que são abatidos de forma violenta em muitas casas do nosso país na frente das crianças: os porcos e as galinhas. É muito triste ver um animalzinho ser morto. É algo que a gente guarda na alma e mesmo depois de adulto nunca esquece. Os adultos devem abandonar esse hábito e matar os seus animais longe das crianças, o melhor mesmo era que não os matasse.

Se todo mundo pudesse virar vegano assim como eu seria maravilhoso. Na minha infância vi muitas galinhas serem mortas e trago essa lembrança até hoje. Alguém pode dizer que galinha é para ser morta mesmo, que alguns bichos a gente cria para comer, mas não é esse o meu pensamento. Acho que as galinhas são animais maravilhosos no terreiro de uma casa, pois elas põem ovos e nos protegem de outros animais que podem nos machucar como os escorpiões.

Já que muitas pessoas não conseguem viver sem comer carne de bicho, quem sabe tirar um dia na semana para evitar esse costume seja bom para o mundo animal e para a natureza. Um dia apenas. Trocar a carne do bicho pelos legumes e verduras ou para quem não resiste, comer carne de soja com os mesmos temperos da carne comum. Quem come muita carne de gado corre o risco de ter sérias doenças cardíacas, ainda mais aqueles que comem a carne cheia de gordura como é a de porco.

Tem pessoas que não perdem um churrasco e se empanturram de carne sem se dar conta do sofrimento que aquele animal passou na hora da sua morte. Sei que hoje alguns abatedouros se preocupam com a forma como abatem os animais para que eles sofram menos na hora da morte, mas são poucos no Brasil que pensam assim. O ideal era que não tivéssemos abatedouros em lugar nenhum do mundo e que ninguém comesse carne de animal.

Tem tanto livro infantil com personagens que são bichos escritos pelos mais diversos autores nacionais e internacionais que a gente levaria anos para contar todas as histórias existentes às nossas crianças. As fábulas de Esopo são um exemplo disso. Sem contar que elas ainda trazem um ensinamento moral à criança. Alguns professores não gostam do ensinamento moral, não tem problema, melhor ainda que a criança possa refletir e tirar a sua própria aprendizagem.

Uma das histórias mais belas que já li em toda a minha vida traz dois coelhos como personagens sendo intitulada “Adivinha quanto eu te amo” de Sam McBratney. Conta a história do coelho pai com o coelho filho dizendo o quanto um ama o outro. Acho que todo mundo devia ler esse livro para refletir sobre o amor entre os povos e os bichos. Os coelhos que os homens adoram caçar no nordeste brasileiro.

Preciso falar um pouco das aves, esses animaizinhos que são tão perseguidos pelas crianças e presos pelos adultos em gaiolas. As crianças das regiões mais interioranas aprendem desde cedo a como criarem um alçapão e armarem em locais onde os pássaros gostam de pousar para os prenderem neles. Muitos adultos têm viveiros de pássaros nas suas casas para comercialização em feiras livres e na internet, o que é considerado crime ambiental. As crianças não são ensinadas que não devem jogar pedras nos ninhos das aves e que não devem maltratá-las. Alguns homens ainda caçam arribaçãs com espingardas.

Os homens vivem infringindo as leis ambientais. É muito triste tudo isso. Mais triste ainda é ver uma criança com um estilingue pronto para abater um passarinho que não faz mal a ninguém e vermos esses mesmos estilingues serem vendidos em feiras livres e lojas comuns de mercados locais. A criança que faz isso tem por detrás dela um adulto sem noção do que é uma vida animal. Os pombos têm as suas asas cortadas para não poderem voar.

Os pardais não podem mais procurar comidas nas ruas porque correm o risco de serem machucados por uma pedra. Lembro-me de quando era criança e a minha vó cantava para mim a linda canção que dizia mais ou menos assim “Passarinho lá na gaiola voou, voou, voou / E a menina que gostava tanto do bichinho chorou, chorou, chorou…” Eu ficava na torcida para que o passarinho nunca mais fosse pego pela menina e nunca que quis ser essa menina.

O nosso Deus misterioso e cristão, antes do dilúvio, pediu para que Noé juntasse um casal de animais na sua arca de forma que assim conseguiu salvar de extinção cada espécie de bicho depois que as águas tomaram conta do planeta terra. O homem devia temer a Deus e nunca afrontá-lo matando e maltratando os animais.

As crianças nunca devem perder o afeto pelos bichos e para isso os pais e professores precisam ensinar-lhes a amá-los incondicionalmente. Para isso é bom que desde cedo a criança tenha em casa um animalzinho doméstico seja gato ou cachorro.

Assim, aprenderá, logo na tenra infância, a cuidar e respeitar os bichinhos. É sabido que crianças que têm contato com animais conseguem se recuperar mais rapidamente de doenças, como podemos ver tratamentos médicos que usam cavalos e outros animais.

Tem um poeta que foi pastor de ovelhas e amou a natureza chamado Alberto Caeiro heterônimo de Fernando Pessoa. Os seus poemas sobre a natureza são belíssimos. Deixo vocês com o meu poeta predileto nesta manhã onde escuto lá longe um pássaro cantar e aqui perto o meu cachorro late me chamando para brincar. Assim diz Alberto Caeiro “Eu nunca guardei rebanhos, / Mas é como se os guardasse. / Minha alma é como um pastor, / Conhece o vento e o sol…” Que todas vocês possam guardar rebanhos dentro dos vossos corações, crianças.  

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

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