A democracia questionada

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A defesa da democracia precisa ser verbalizada,
assumida e defendida exaustivamente por aqueles e
aquelas que acreditam na liberdade humana e nas
relações interpessoais e instituições regradas pelo
Estado Democrático de Direito.

Pesquisa DataFolha mostrou que, desde 2018, caiu de  69% para 62% o apoio  à democracia. Pior. Subiu de 13% para  22%  a parcela  de brasileiros que não vê distinção entre democracia e ditadura.

Sou da geração que luta, desde a idade escolar, pela democracia. Quando tomei consciência de mim, como pessoa autônoma e como parte da comunidade, estávamos sob a tutela militar. Sei quanto avançamos.

Kant dizia que a busca do conhecimento não tem fim. A busca pela democracia, também não. 

Na prática, democracia, como um ponto final que uma vez atingido nos deixa  satisfeitos  e por isso decretamos o fim da política, não existe.   Existe é democratização, o avanço a um regime  cada vez  mais  inclusivo, mais representativo, mais justo e  mais  legítimo.

Os dados  da pesquisa  refletem  o que  vem acontecendo nos  últimos tempos  entre  nós. Temos um  presidente com um discurso  à  favor  dos  valores antidemocráticos, conquistando uma  audiência  imbecilizada que fez  do antiesquerdismo  uma  crença  sem conteúdo  afirmativo, fundamentalmente  definido  pela negação.

Um dos filhos do presidente, Eduardo, e  até um  ministro  acenaram com a possibilidade  de um  novo  AI-5, o mais ignóbil e violento dos  atos  baixados  pela ditadura militar. O curioso é que, segundo a pesquisa  DataFolha,  65%  dos  entrevistados  disseram nunca  ter ouvido falar  no  citado ato, mas  muitos aprovam  a sua  volta.  Uau!!

Muitos dos  beócios que  hoje  se  manifestam contra  a democracia  e, via redes sociais, pedem a volta  de uma ditadura  civil-militar, desconhecem  que bons e justos  argumentos  da  política  podem terminar  na mira dos fuzis.

Os valores democráticos sempre foram  considerados pela  direita reacionária  como perniciosos  fatores  de debilidade  e  de  caos  destrutivo.

Também é preciso considerar que quando as pessoas  se  sentem perdidas, desorientadas, desbussoladas, como neste momento, oriundo  da quebra de parâmetros  – vivemos  uma regressão civilizatória –, elas  podem  voltar  a uma  ação  anterior, a um reacionarismo.  E o reacionarismo  de mais  fácil acesso  é  o do caudilho, do pai, do coronel.


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As pessoas, muitas vezes, preferem  uma servidão  voluntária  a  uma liberdade  arriscada, uma liberdade  responsável.  Corremos o risco, se não reagirmos a  este governo de extrema  direita, a ter no lugar  das armas  da  República  o pau de  arara!

Qual a solução? Acredito que passa por estudar mais  história, basicamente. A sociedade precisa de historicidade, de conhecer  seu passado, de entendê-lo. Notadamente,  diante de um governo como este, que se  caracteriza pelo negacionismo.

Através da memória ativa, de um estudo mais consistente, mais  localizado, construiremos  uma memória ativa. Não uma memória sacralizada, museificada.

Também devemos passar à  ação. As grandes  democracias não são  países  estanques, monolíticos, de povos  submetidos  às decisões  das autoridades. As manifestações devem ser externadas e ouvidas. Ou agimos ou contribuiremos para a derrocada  da nossa  democracia que foi duramente  conquistada.


“As democracias estão cada vez mais sob pressão em todo o mundo, como mostrou também o Índice de Democracia, publicado pela empresa britânica de análise Economist Intelligence Unit (EIU) no começo do ano. De acordo com o ranking, menos de 5% da população mundial vive nos únicos 20 países classificados como “democracias plenas”. Leia mais aqui.

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