A criança autista e a necessidade de compreensão

2025

Cuidar de uma criança autista exige amor, respeito e sensibilidade para com as suas diferenças. Ela vai sempre precisar da sua ajuda em momentos de crise e de cobranças por parte daqueles que desconhecem o seu transtorno.

Trago o poeta Vinícius de Moraes com o seu poema intitulado “Menininha” um dos que mais gosto e leio quase todos os dias para minha mamãe de setenta e oito anos de idade e que é minha menininha mais peralta. Nos seus versos lindos, o poeta nos diz

Menininha que graça é você / uma coisinha assim /
começando a viver / “.

Toda criança é linda e uma graça se vista pelo olhar de quem sabe o que é o amor, o cuidado e o respeito aos limites e subjetividades de cada indivíduo no seu mundo próprio ou real. É preciso deixar as pessoas viverem como se o amanhã fosse o hoje já, pois não há tempo de espera para o ontem, há tempo de plantio.

Cada um de nós nasce com um jeito de ser e não somos iguais por mais que queiram acabar com as diferenças isso não é possível. Pensamos diferentes, falamos diferentes e temos a nossa subjetividade que nos torna únicos no mundo. Isso é tão bonito, gente! O ser humano é tão perfeito que vocês nem imaginam!

Outro dia, numa consulta à minha cardiologista pude ouvir os meus batimentos cardíacos e fiquei tão feliz ao sentir que estou viva, que posso fazer o que quiser, que moro num país livre de censura e que tenho uma família linda e amigos maravilhosos! Saí do consultório da minha médica querendo ouvir os batimentos dos corações de todos os meus amigos!

Quando um coração bate é sinal de vida, mas para que essa vida seja plena e cheia de alegrias precisamos aprender a respeitá-la. Respeitar os nossos próprios limites e respeitar também os limites das pessoas que estão ao nosso redor. Talvez não seja fácil para muitos pensar no outro, se colocar no lugar do outro, o que chamamos e está em moda hoje em dia de empatia. Fala-se tanto nela, mas não a exercitamos.

Cada vez mais pensamos somente em nós. Isso tem tornado o mundo um lugar chato para se viver porque o homem desde os primórdios da civilização aprendeu a andar e conviver em grupos. Como nos separar de uma hora para outra? Somos tão diferentes assim? Creio que não e deixo o meu pensar acima em dúvida.

Estou querendo falar das pessoas com deficiências e problemas mentais.

Elas ainda são chamadas de loucas, ainda brincamos de chamar os nossos parentes e amigos de loucos ou dizemos a nós mesmos que estamos ficando loucos. A loucura é uma coisa tão séria! Deveria ser discutida e debatida em todos os lugares, principalmente nas escolas assim como todas as outras deficiências e problemas de saúde mental.

Tantas pessoas sofrem com as incompreensões de suas deficiências ou problemas de saúde mental. Não sabemos lidar com essas pessoas. Achamos que elas são “coitadinhas”. Temos “peninha” delas como dizemos aqui na região Nordeste. Muitas vezes essas pessoas nos surpreendem e saem melhor do que nós em muitas coisas, não é porque sofrem de algum problema mental ou deficiência que são inválidas. Há sempre algo de especial que podemos fazer por nós e pelo mundo ao nosso redor.

O ser humano na sua complexidade e boniteza sabe se cuidar, mas precisa também de cuidados externos. Ele precisa ser amado e respeitado. Ele precisa saber que existe alguém com quem pode contar e confiar. Um ponto de equilíbrio. Um lugar para ir quando se sentir sozinho. Um amor. Um carinho. Qualquer coisa que lhe mostre que não está sozinho no mundo, principalmente quando se tem uma deficiência física ou um problema de saúde mental que limita as atividades do dia a dia.

Assim, seguem os autistas de quem desejo falar nesta manhã de quinta-feira com cheiro de chuva no quintal e pássaros cantando nas árvores. Essas pessoas tão especiais que não são respeitadas na maioria das vezes nas escolas, nos shopping centers e até mesmo nos hospitais. E isso ocorre por quê? Por ignorância! Sim, ignorância aqui no sentido de falta de conhecimento e não brutalidade.

Não sabemos como lidar com as crianças autistas ou até mesmo os adultos, uma vez que com o estereótipo da doença reduzido e seus sintomas serem divulgados pela mídia e na Internet está cada vez mais fácil diagnosticar uma pessoa portadora do Transtorno do Espectro Autista (TEA). E muitos adultos conseguem descobrir que sempre foram autistas e por esses e outros motivos agiram sempre de diferentes formas, eram vistos como estranhos.

As crianças autistas necessitam de carinho, amor e respeito. Elas não são mais especiais do que as outras, é claro. Toda criança necessita de amor, mas sabemos de que as suas vidas são mais difíceis porque sentem muitas coisas que outras crianças não sentem e muitas vezes não sabem o que fazer, como se comportarem, para onde fugirem, a quem pedirem ajuda, para sentirem-se protegidas e longe dos sintomas dolorosos.

Um dos sintomas que mais machuca uma criança autista é o barulho.

Ela não consegue conviver perto de barulho. Ela deseja o silêncio assim como muitos de nós. O barulho incomoda o seu pensamento, o seu coração, a sua alma. Causa-lhe irritabilidade. Machuca e faz doer. Incompreendida, entra numa crise profunda e fica atordoada sem saber o que fazer. Perde-se dentro de si própria. Os pensamentos, o medo, a angústia e a forma como se expressa ficam confusas.

Precisamos aprender a respeitar o lugar e as pessoas que moram perto da gente porque muitas não suportam barulho. Eu mesma me incomodo com barulhos e ruídos. Para uma criança autista o barulho é um grande sofrimento, por isso se você mora perto de uma respeite-a.

Na escola, o professor ou professora deve ter cuidado com o barulho da criançada, gritando, correndo, pulando e até mesmo chorando, principalmente nos primeiros dias de aulas, quando estão se familiarizando com o ambiente, os amiguinhos e a equipe escolar.

A criança autista deve receber um cuidado mais apurado, pois ela pode se sentir uma estranha vendo todas aquelas crianças fazendo o que ela não consegue fazer ou até mesmo se sentir mal com a gritaria podendo entrar no colapso, ou seja, numa crise de gritos, choros e movimentos bruscos do corpo. A escola deve ser um ambiente sempre de socialização para toda criança e a autista não deve ser educada em separado, mas convivendo com as outras e aprendendo a brincar e estudar dentro dos seus limites.

Um outro sintoma muito característico da criança autista é a dificuldade de se expressar. Quando o grau de autismo é alto, há crianças que têm dificuldades na fala e não conseguem se comunicar oralmente. A sua fala é dificultada. Ela se comunica através de pequenos sons que canta ou que grita fazendo assim com que as pessoas próximas consigam lhe entender. Não é que ela não queira falar, é que ela não consegue.

No autismo, a criança também não consegue expressar as suas emoções. Ela fica quieta e não sabe o que fazer se vir alguém chorando, machucado ou pedindo ajuda. Não é que não queira ajudar ou não seja uma criança carinhosa e amável, é que não consegue mesmo expressar as suas emoções. É um dos seus sintomas mais difíceis de lidar. Quantos de nós não nos comovemos ao ver alguém chorando? A criança autista não sabe o que fazer diante de uma situação dessas.

Também deve ser respeitada a sua rotina e as coisas tudo no seu devido lugar. Qualquer movimento ou alteração dos horários costumeiros é motivo para ela poder entrar numa crise difícil porque está habituada a fazer tudo nos horários certos. A sua vida é impactada quando precisa mudar o caminho da escola, trocar de horários na prática do esporte, visitar o dentista, ir a uma consulta médica, acordar mais cedo do que o habitual. Ela não consegue lidar direito com essas coisas que precisa fazer vez ou outra na sua rotina.

Com efeito, nas escolas o professor ou professora deve respeitar a rotina da criança autista, e não impor a sua vontade mudando-a de lugar porque está se comportando de forma errada. Em tudo é preciso cautela. A criança também não pode ter o seu local de lanche trocado ou o que ela está acostumada a fazer todos os dias na escola não pode ser modificado assim de uma hora para outra sem o cuidado de adaptá-la a essas mudanças.

O que mais ocorre nas escolas públicas são reformas que se arrastam por meses levando a criança a outro prédio com mudança de caminho. Isso é difícil para ela apreender e aceitar sem sofrer um pouco ou até mesmo mais do que possamos imaginar.

Até mesmo nós ditos “normais” ficamos ansiosos e nos perturbamos quando alteram a nossa rotina porque já tínhamos tudo agendado e combinado horários conosco. Desmarcar um compromisso, remarcar outra data, cancelar um evento, ter que ir à uma reunião marcada de uma hora para outra mexe conosco. O mundo tecnológico e globalizado não permite que tenhamos uma vida com sossego, imagine você uma criança autista que sofre bastante quando a sua rotina é modificada.

Para que a criança não entra numa nova crise, os pais devem sempre evitar mudanças repentinas nas suas rotinas. Respeitar o horário da criança acordar e fazer as suas refeições. Permitir que ela trace os melhores horários para realizar as suas tarefas e poder assim sentir-se melhor e segura de que está tudo bem, sim porque para ela a confiança nas pessoas ao seu redor é necessária e fundamental para saber que o seu dia vai ser agradável.

No Transtorno do Espectro Autista (TEA), as crianças gostam de joguinhos sejam eles eletrônicos ou não. Elas podem passar horas entretidas num aparelho celular, jogando. Isso é bom para desenvolver o seu pensamento cognitivo e penso que através dos jogos a criança autista pode ser tratada e até mesmo reduzir os seus sintomas. Os jogos eletrônicos são saudáveis quando usados com moderação, principalmente por essas crianças. Também não devemos as colocar num aparelho celular o dia inteiro. Porém, acredito que eles são uma ótima ferramenta para distrair a criança em outro mundo senão o que ela cria à parte com o seu transtorno.

Dos diversos sintomas que a criança com autismo tem, existe um outro que é o de não conseguir olhar nos olhos da pessoa com quem está falando. Quando está conversando com alguém parece até que não está dando atenção, porque o seu olhar não fica no rosto de quem fala e parece distraída, mas na verdade ela está ouvindo tudo o que lhe dizem basta saber compreender que a criança não faz aquilo porque deseja, não é que seja mal-educada, faz parte do seu transtorno o olhar perdido e não fixo em nada.

Diante de tantos sintomas expressos acima, só nos resta nos colocar no lugar dessas crianças e adultos e podermos fazer alguma coisa por elas. De uns anos para cá, o autismo tem sido muito debatido nas academias universitárias, escolas, hospitais e outros locais. Os seus sintomas têm sido bastante difundidos para que mais crianças sejam diagnosticadas cedo, pois o quanto antes o diagnóstico melhor será o seu tratamento.

Há adultos que passaram a infância inteira sofrendo com os transtornos do autismo, mas por serem sintomas pequenos e leves eles podiam ter uma vida menos dolorosa, apesar da incompreensão por parte dos pais, da escola e até mesmo deles que não sabiam direito o que sentiam e como se comportavam diante das outras pessoas. Adultos esses que só vieram a descobrir o autismo com mais de 30, 40 ou até mesmo 50 anos quando em consultórios de psicólogos surpreenderam-se com o diagnóstico.

Não é fácil ser um autista num mundo cheio de incompreensões e falta de respeito. Outro dia mesmo, vi na televisão um caso em que uma criança num posto de saúde da minha cidade em meio a várias pessoas, barulho e calor começou a se sentir mal e entrou em crise se agitando, gritando e sem saber direito o que fazer com os sintomas que lhe arrebataram o corpo e o espírito, de repente. Os profissionais do posto de saúde também não souberam o que fazer com a criança que passava por uma crise repentina.

Na verdade, ninguém sabe o que fazer ao ver uma criança autista entrar em crise, muitas vezes nem os pais ou professores. É preciso paciência neste momento, acalmar a criança com palavras de conforto, deixar que ela expresse todos os seus sintomas e se sinta protegida até que tudo passe.

Não ter vergonha das pessoas ao redor, é uma das coisas básicas. Não impedir que a criança expresse o que está sentindo também é fundamental porque ela não vai sair de uma crise se for maltratada e forçada a parar. Ninguém entra numa crise de gritos, movimentos repetitivos intensos e bruscos e esperneios porque quer. Há sempre uma causa e é preciso discernimento por parte de quem está por perto para lidar com a situação ou problema, como queiram chamar.

As crianças com autismo são tão amáveis e carinhosas o quanto as demais. Elas podem até não saberem expressar esses sentimentos como as outras, mas os sentem com a mesma intensidade e boniteza que todos nós sentimos. Não são indiferentes às nossas dores e sofrimentos, sofrem conosco. Tudo o que elas querem é que as compreendamos que reagem de uma forma diferente.

Existem outros sintomas no autismo, mas os que eu citei acima são os mais comuns. Dentre eles, acredito que o barulho seja algo difícil de saber enfrentar, tanto para a criança autista quanto para quem cuida dela porque vivemos num mundo onde o silêncio foi trocado por paredões de som, fogos de artifícios, vizinhos que escutam som num volume altíssimo, casas de shows e eventos em lugares residenciais e tantos outros barulhos que acontecem perto de nós.

O barulho incomoda muito idosos, crianças, pessoas doentes de cama e até mesmo quem precisa se concentrar em uma ou outra tarefa. Devia ter uma lei mais rigorosa para quem passa dos limites de ouvir um som em área residencial, principalmente quando se tem pessoas sensíveis por perto. Eu mesma sofro com barulhos horríveis quando fazem festas perto da minha casa.

Imagine uma criança autista que entra em desespero com o barulho. O melhor seria que as pessoas fossem mais compreensivas e usassem da empatia uma vez ou outra, pelo menos.

Cuidar de uma criança autista exige amor, respeito e sensibilidade para com as suas diferenças. Ela vai sempre precisar da sua ajuda em momentos de crise e de cobranças por parte daqueles que desconhecem o seu transtorno. Ela vai sempre precisar de você quando for cobrada por algo que não consegue fazer.

A criança autista precisa ser respeitada em todos os lugares aonde chegar com profissionais e pessoas que saibam o que fazer se ela não se sentir bem ali e começar a sofrer com os seus sintomas entrando em crise, de repente.

Apesar do autismo ter os seus sintomas bastante divulgados e um dia de conscientização do transtorno com o símbolo do laço azul criado especialmente para ele, ainda assim são ações mínimas e que poderiam ser mais difundidas entre as pessoas moradoras de periferias, escolas e postos de saúde. Sei que nesses lugares, as crianças só são diagnosticadas depois de muito sofrimento e crises, ou seja, muito tardiamente. Isso dói na criança. Essa falta de informação que as mães e professores de escolas públicas mais carentes sentem, podem trazer sérias consequências à criança com autismo.

Ainda falta muito respeito também nos estacionamentos de shopping centers, supermercados e até mesmo nas clínicas de psicologia onde apesar do símbolo do laço azul pessoas ignorantes e insensíveis estacionam seus automóveis nas vagas reservadas para pessoas com autismo. Vivemos tempos difíceis e de ódio. Tempos em que o pensar somente em mim tem mostrado a sua cara feia de bicho papão.

No entanto, com amor podemos mudar tudo. O autismo é um transtorno sério que num grau elevado pode comprometer a vida da criança nos estudos e socialmente, por isso cada um de nós temos a responsabilidade de conhecer os sintomas deste transtorno e aprendermos a saber o que fazer quando alguém perto da gente entrar em crise ou colapso como escolhermos chamar o momento de aflição e desespero pelos quais passam os autistas no ápice dos seus diversos sintomas reunidos num só momento. Fazer o certo é o melhor para a criança não se agitar mais ainda.

E por fim, espero que com este pequeno ensaio você consiga descobrir que o autismo é um transtorno que pode incapacitar a pessoa, mas também pode levá-la a desenvolver qualquer tipo de atividade profissional dependendo do seu grau, como todo transtorno e doença.

O que vai facilitar a vida da criança autista é a nossa compreensão, aceitação e dedicação de cuidados a ela sempre que necessitar.

Se eu conseguir fazer com que você descubra se os sintomas da sua criança são parecidos com os listados aqui e com isso desperte a sua curiosidade para estudar mais sobre o transtorno ou conversar com algum especialista sobre o comportamento da sua criança isso certamente me deixará feliz porque sei o que é viver a infância inteira com sintomas de um transtorno e só vir a ser diagnosticado e tratado depois de adulto quando a melhor fase da vida ficou para trás cheia de dores, sofrimento e incompreensões.

Somos diferentes? O seu coração bate igual ao meu? Responda-me!

E para terminar deixo vocês com a letra da canção de Adriana Calcanhoto intitulada “Fico assim sem você” que nos diz nos seus versos lindos “Avião sem asa, / fogueira sem brasa, / sou eu assim sem você. / Futebol sem bola, / Piu-piu sem Frajola, / sou eu assim sem você.”  

Assista: https://youtu.be/iojYDSjKK00?t=18

Que toda criança possa ter alguém perto de si para amá-la e cuidá-la com a compreensão e sabedoria que merece, pois a vida na infância pode ser um avião sem asas se não soubermos como lidar com as dificuldades das crianças e as suas necessidades. Deixemos o avião voar nas asas da imaginação!

Autora: Rosângela Trajano

5 COMENTÁRIOS

  1. Que todos nós, enquanto humanidade, consigamos nos respeitar e amar, com as diferenças e afinidades que tivermos. Parabéns por abordar o tema, Danda Trajano. Gratidão

  2. Todos os autistas devem receber muito amor fazer com que eles se sintam amados e seguros devemos passar confiança.

  3. Texto muito elucidativo sobre as características da criança autista. Parabéns Rosângela. Deus te ilumine sempre.

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