A arte e o imbecil

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Por quê? Por que matar a arte?

Sobre o brilho reflexivo da arte, derrubaram o manto ofuscado do preconceito e da irracionalidade. Aquilo que provoca tuas verdades, que derruba teu pedestal do elevado status social, que, mesmo impróprio, faz pensar na possibilidade de tua falta de propriedade, que escancara as tuas portas e revela tua alma carregada de falso moralismo, tudo isso que te toca, que te desloca, que te tira do lugar onde você se coloca, deseja obscurecer, com a tua mania de dizer o que é certo e o que é errado sem sequer saber ou aceitar, se certo ou errado possa estar.

Por que te assusta tanto a nudez, talvez o medo de revelar que por baixo das tuas vestes caprichosas esconde a igualdade que deseja negar e a diferença que não consegue aceitar porque nunca teve a coragem de ser aquilo que hoje condena?

Por que o teu Deus merece mais respeito que o Deus ou Deuses de outrem e até mesmo que o respeito pela defesa da ausência de um Deus? Talvez te seja conveniente manter as aparências porque te falta a capacidade de aceitar que não deve aceitar tudo e que, por isso mesmo, também não pode rejeitar tudo o que pode ser aceito por outro qualquer.

Por que tuas crianças não podem ser expressadas na dor que sentem, escondidas sob os luxuosos mármores frios da tua própria morada? Seria porque aquilo que os olhos não veem o coração não sente ou porque teu coração mente e, por isso mesmo, deseja que os olhares dos outros não possam ver para dentro do teu ou porque sabe que tua verdade é frágil que teu filho poder ser teu maior crítico e destruir teu reinado forjado sobre o lodo do teu conhecimento?

Por quê? Por que matar a arte? Talvez, porque a arte tenha, mais uma vez, cumprido sua missão: provocar a catarse humana, despertando em ti o que você guarda reprimido em si mesmo, a persona que é ocultada pelo personagem que você criou e vê, agora, ameaçado pela arte que te desvela.

Por isso, por tua fraqueza mórbida, por tua moralidade de “cueca suja”, por tua insegurança, por tua convicção ameaçada, por teus olhos estarem há tanto tempo acostumados à escuridão, é que, mais uma vez, sobre o brilho reflexivo da arte, você derruba o manto ofuscado do preconceito e da irracionalidade que te abate e te condena ainda mais que a própria arte que tua imbecilidade abate.


“Não é só de pão que vivemos, mas de poesia, como disse brilhantemente William Carlos Williams: “não é fácil encontrar novidades em poemas, mas homens morrem miseravelmente todos os dias por falta do que neles existe”. (Manoel Soares Magalhães)

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