Vida docente na perspectiva humanizadora

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Para que/quem você educa?
Para qual modelo de sociedade?

Como nasce um professor?

14 anos que me encontrei com essa profissão.

Em 2004 comecei como professor, contrato emergencial no Estado do Rio Grande do Sul. Tinha 22 anos, estava no quinto semestre da graduação (Ciências Sociais UFRGS). No meu primeiro dia fui barrado por não estar com o uniforme da escola pública. Ou seja, fui confundido com aluno.

Minhas primeiras turmas foram incríveis, me senti em casa. O Colégio Estadual Padre Rambo de Porto Alegre foi minha casa até 2009, quando abri mão do contrato para entrar no mestrado na PUCRS com bolsa.

Porém, essas primeiras turmas ecoaram em todas as demais turmas que vieram na minha trajetória e que tive a honra de ser professor.

NUNCA fui tão valorizado como professor em sala nas escolas públicas, nunca fui tão reconhecido por ser mais que professor na instituição que trabalho atualmente (Universidade de Passo Fundo) e me acolheu desde 2013.

Entre minha primeira experiência e a que estou atualmente, conheci o mundo (Timor-Leste em 2012), vivi a realidade das periferias e escolas públicas de diferentes cidades e regiões do Brasil (como palestrante, assessor pedagógico e formador de professores), botei o pé-no-barro em ocupações, comunidades e periferias que me moldaram como um educador.

Não existe caminho fixo, dicas, ou receitas de bolo. Existem caminhos, eu trilhei experiências que não cabem no peito. E foram elas que me fizeram nascer e me tornar quem sou. Mas principalmente, foram meus alunos e alunas que me fizeram o professor que sou. Minha mãe e meus irmãos professores que me deram exemplos e experiências compartilhadas.
Em um dia como hoje eu digo: todos vocês que lembram dos seus professores, mais que nos enviar mensagens, que são importantes, lutem e apoiem eles nas suas lutas.
Nos sentimos sozinhos nas lutas, sejam gratos lutando ao nosso lado. Nossa bandeira é a construção de educação que o Brasil merece.

Professor Universitário

Como professor, que jamais pode imaginar que seria professor universitário algum dia na vida, todos os dias tento tornar consciente onde cheguei e onde ainda quero chegar.


Forço a mente para não naturalizar minhas experiências e conquistas. Torno consciente todas as vezes que alguém me chama de professor. Essa prática me faz JAMAIS esquecer da luta que travei comigo e com o mundo (interno e externo) do que abri mão para chegar até aqui, e das inúmeras conquistas cotidianas que recebo hoje por ter escolhido e conquistado esse espaço profissional.

Ao mesmo tempo não me furto da responsabilidade de JAMAIS perder minhas raízes. Lembrar de onde vim e que foi exatamente a simplicidade, a humildade e a amizade com o mundo, que tornou quem sou. E essas características eu não posso jamais perder e abandonar.

Não sou melhor que ninguém, não sei mais do que ninguém, optei desde que me entendo por gente, pelo lado dos oprimidos. E essa posição jamais mudarei. Sou assim, essa posição torna tudo que faço recheado de sentido. São linhas raízes. E você? Quais são suas raízes?

Mas… quando somos apenas fruto das experiências que a vida te permitiu ter?

Somos mais resultado do meio que protagonistas da nossa própria existência. Deveríamos aproveitar o tempo de vida que nos resta, já que nunca saberemos o quanto marcamos os que ficam.

Tenho saudade de tudo que já vivi, anseio por viver na saudade do que ainda vou viver, aí tudo terá sentido.

Quem somos?

Somos a única espécime que é definido por um verbo. Não existe ser cachorro, ser cavalo, mas o humano é definido por ser humano. Nunca seremos 100% humanos, uns possuem trajetórias mais e outros menos humanizadoras.

 A pobreza, miséria e falta de acesso á saúde, educação e moradia, são exemplos de condições desumanizadoras. A ação de se humanizar não depende das escolhas do indivíduo, mas das condições dadas pelo contexto social de vida e trajetória.

Qual o tipo de ser humano que você seria se todas as condições mínimas de humanização te tivessem sido garantidas? E se o mesmo ocorresse com toda a população de um país? Em quanto tempo teríamos um Brasil melhor e mais justo?

Qual o papel do professor? Qual o compromisso ético envolvido na educação da próxima geração?

Tenho certeza que o ensino de conteúdo não pode mais ser considerado um fim da educação. Conhecimento e reflexões são meios, para a construção de novas formas de pensar, ver e entender o mundo. Se nesse processo oferecermos direitos a aprendizagem e desenvolvimento de habilidades e competências, teremos feito nosso papel com maestria.

Para que/quem você educa? Para qual modelo de sociedade?



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Senso comuna
Sociólogo, professor da UPF (Universidade de Passo Fundo, RS)

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