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Redes, estádios e ruas: o Brasil e a pluralidade da democracia

Filhos e filhas do Brasil não fogem à luta e torcem pelo Brasil. A Copa do Mundo de 2014 é um evento festivo e esportivo onde será jogada a cidadania, o amor à pátria e um dos mais queridos e praticados esportes em todos os recantos de nosso país.

Concordo com a tese de muitos de que o futebol pode servir como forma de alienação do povo brasileiro, mas não é o evento da Copa que nos tornará alienantes ou alienados neste país. Critiquemos, pois, a forma com que o futebol vem sendo conduzido nos últimos anos no Brasil e no mundo.

Os brasileiros, no futebol, nas redes e nas ruas, descobrem-se novos sujeitos, capazes de reinventar a história e os destinos de seu país. Os estádios e as ruas sempre foram, essencialmente, espaços de construção de identidade, de cultivo de bons valores humanos e espaço para viver e experimentar os melhores relacionamentos.

Os brasileiros reinventaram-se pelas redes sociais. Os jovens encontraram uma forma legal, rápida e eficaz de comunicar os seus anseios e necessidades mais imediatas e concretas.

E fizeram das ruas o lugar, por excelência, de sua verbalização. Que coisa bem boa e bem feita!

O futebol brasileiro reflete as nossas diferenças, as nossas potencialidades, os nossos talentos, a nossa criatividade. O futebol é um dos espetáculos brasileiros que representam muito do nosso povo, de sua postura e de sua vontade de vencer e apresentar-se ao mundo.

O esporte é o lugar da superação, da disciplina, da projeção pessoal e coletiva, do descortinar. O Brasil sairá renovado desta Copa, independentemente dos resultados que forem alcançados por sua Seleção. Os brasileiros estão fazendo novas e importantes interpretações dos seus modos de ser, pensar e agir. O povo brasileiro acordou e permanecerá em vigilância pelas práticas decentes que nos farão superar a endêmica corrupção que corrói a política brasileira. O Brasil aprendeu também que não pode criminalizar quem luta de forma pacífica por mais cidadania, democracia e direitos humanos no Brasil, a partir das ruas.

Se o Brasil redescobre o poder das ruas, redescobre também o poder que tem o esporte e o futebol. Redes sociais, ruas e futebol devem ser lugares democráticos para a gente avançar a partir dos ideais e das práticas democráticas da maioria dos brasileiros.

Viva o povo brasileiro e a sua fibra de seguir vencendo!

Educar é cuidar

[quote_box_right]“Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança. Está sempre à procura de companheiros para brincar.” (Rubem Alves)[/quote_box_right]

As crianças, nos seus diferentes níveis, idades e particularidades, projetam nos adultos suas referências de vida. Os pais, mães, professores e professoras exercem papel fundamental na afirmação do mundo das crianças. Desta forma, ao afirmar o seu mundo de criança, consolidam também suas percepções do mundo adulto. As crianças também ensinam que a gente não deve esquecer o nosso mundo de criança.

Os professores e professoras já foram crianças e guardam na memória os cuidados e a atenção que lhes foram dispensados quando ainda pequenos. Por isso mesmo, exercem, pela educação, uma relação de confiança e trocas, que deve ser sempre pautada pela coerência, pelo compromisso e pelo exemplo. As crianças até perdoam erros por palavras, mas não erros por atitudes.

Os adultos não perdem seu mundo criança. Com o mesmo carinho e apreço que se referem às crianças, as autoridades da educação deveriam tratar os seus professores e professoras. Não para tratá-los como crianças, mas para fortalecer os esforços e a dedicação que estes exercem, cotidianamente, com todas as crianças.

Uma rede municipal de educação que declara como prioridade o cuidado com as crianças deveria fortalecer uma identidade maior em torno de suas escolas. O uniforme escolar dará uma identificação maior às crianças de uma mesma rede de ensino, o que não significa identidade. Mas o que dará a identidade para a nossa educação? O que poderia fortalecer ainda mais os laços e vínculos entre os pais, os alunos e os professores, em torno de uma rede municipal?

O cuidado com os professores e professoras é um dever das redes de ensino. O cuidado e o respeito às crianças é um compromisso de todos! Uma escola acolhedora, inclusiva e que promova os direitos das crianças é uma responsabilidade que os professores e professoras devem compartilhar com todas as autoridades e com as comunidades.

Educar é cuidar. Aprender é um direito! Cuidar das crianças é assumir compromissos com uma escola que seja lugar de vivência de direitos e lugar de significativas aprendizagens. A qualidade de ensino, nesta perspectiva, passa pela responsabilidade da gestão municipal. Esta qualidade deixa a desejar quando ainda há falta de professores e quando as crianças ainda não estão suficientemente acomodadas para brincar, aprender e ser feliz.

Democracia dos professores

[quote_box_right]”Os homens constroem paredes demais e pontes de menos.” (D. Pire)[/quote_box_right]

A escola pública e democrática, bem como as eleições que escolhem os representantes da categoria dos professores e professoras é hoje uma conquista institucionalizada, mas que, na prática, ainda está longe de ser realidade plenamente vivenciada nas escolas e nos sindicatos ou associações de professores. Embora os professores sejam as grandes referências para a cidadania e a luta por direitos para os seus alunos, nem sempre eles tem uma ação politizada eficiente quanto tratam de organizar os seus interesses e os interesses da educação.

A crítica maior que podemos fazer aos sindicatos de professores é que estes centraram sua atuação apenas nas reivindicações salariais, deixando de atuar de forma mais ampla na perspectiva da educação. Os sindicatos se transformaram em máquinas administrativas anti-governos, descuidando dos interesses mais imediatos e significativos da vida funcional dos professores e da educação, de maneira geral.

Não são mais os professores que debatem a educação. O descuido para com as questões mais amplas e mais complexas da educação gerou um grande vácuo, agora ocupado por outros especialistas, de outras áreas, como economistas, sociólogos, filósofos. É inegável que eles tenham algo a dizer sobre a educação, mas suas reflexões não refletem o cotidiano da complexidade do dia a dia da educação.

As escolas e as organizações sindicais são grandes laboratórios de exercício de poder. Cotidianamente, através das relações interpessoais, elas administram as suas tensões internas, fortemente influenciadas pelo poder externo (dos governos e da comunidade). E os professores, peças chave desta engrenagem, nem sempre são considerados em suas dimensões humanas e como sujeitos de sujeitos. Professores não são números. Professores são sujeitos, seres humanos, com suas opções pedagógicas e ideológicas. O exercício de seu ofício não lhes permite neutralidade, pois a educação é, por natureza, um ato político. Suas práticas pedagógicas resultam de suas trajetórias pessoais, de seus compromissos com o ser humano e de seus conhecimentos e aperfeiçoamento profissional.

Ao escolher os seus representantes sindicais, os professores deveriam escolher dentre aqueles que, além de competências técnicas e de organização sindical e política, sejam capazes de construir “mais pontes e menos paredes”. Que pensem o Sindicato ou a associação de professores como uma estratégia de valorizar seus professores, articulando-se com outras entidades a fins de promover mudanças substantivas na educação. Que utilizem o Sindicato para representar verdadeiramente os professores, não os interesses pessoais ou de partidos políticos. Que advoguem a causa da educação acima de qualquer outra causa ou interesse.

O exercício do poder democrático é um dever e um legado que os professores podem deixar para a sociedade como um todo; esta é sua contribuição para a consolidação da democracia no Brasil.

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