Professor: não adianta olhar para o céu!

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“Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem
muito protesto pra fazer
e muita greve, você pode
e você deve, pode crer (…).”



“Eu não sou uma pessoa de fé e não costumo esperar que as coisas aconteçam por obra do acaso, ou de boas intenções alheias. Gostaria de poder escolher a passividade e esperar o desfecho de mais um enredo do qual sou personagem, mas não consigo.

Não posso me conformar com a segurança da minha rotina medíocre enquanto tudo em que acredito está sendo contestado: a dignidade, a democracia, a verdade, a justiça. Seria contraditório ensinar seres humanos para que tenham uma vida melhor por meio da educação e me acovardar diante da luta pela manutenção dos direitos que aqueles que lutaram antes de mim conquistaram.

Respeito os colegas que concordam com a opinião do comentarista Túlio Milman, que agora não é hora de fazer uma greve, pois prejudicaria o ano letivo e colocaria a sociedade contra nossa causa.

Contudo, questiono os professores: em que momento tivemos o apoio dos pais? Quais os predicativos usados para nos caracterizar quando dispensamos os alunos e vamos às ruas demonstrar nossa insatisfação e pedir socorro?

Sentirei na pele o que é comprometer o ano letivo, pois meu filho está concluindo o Ensino Médio. Por ser professora de escola pública e por valorizar meu trabalho, meu filho sempre frequentou a escola pública e sabe bem o que é ser prejudicado por projetos governamentais implantados e revogados conforme a ideologia mandante, pela desigualdade de condições em comparação à rede privada, em que a educação custa caro porque é considerada investimento, não gasto.

Portanto, atrasar a formatura do meu filho não é nada, principalmente porque sequer terei dinheiro para pagar sua matrícula numa faculdade. Grande ironia né: dedico minha vida a preparar adolescentes para, inclusive, ingressar no Ensino Superior, e talvez não possa garantir isso ao meu filho.

Motivos todos temos para aderir ou não a esta greve, e a ninguém cabe questioná-los. Eu estarei em greve porque não posso perder tudo que está em jogo no pacote anunciado pelo governador (no qual eu não votei).

Estarei em greve porque não estou mais conseguindo pagar minhas contas (comida, aluguel, luz, água e telefone), o que dirá fazer as comprinhas e tomar a cervejinha com as amigas. Viajar nas férias? Só se for na maionese.

Não adianta fazer greve? Provavelmente não, exatamente porque cada um tem seus motivos.”



E hoje chega mais uma paulada no RS: o fim da licença-prêmio, que eram três meses de afastamento remunerado a cada cinco anos, caso você não tenha faltas ao trabalho. E dava para vender e conseguir uns trocos. Agora querem que seja licença-capacitação. “Mas só no serviço público tem isso!”, alguém dirá. Pois bem, no dito serviço público não tem FGTS, não tem dissídio. (Dougas Pereto)

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