Evans-Pritchard e Meyer Fortes: o sistema político e social das civilizações tribais

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O processo biológico do indivíduo é nascer, crescer e morrer. Se ele não dá continuidade a sua vida, o sistema social se acaba porque não vai ter pessoas para se relacionarem umas com as outras. O essencial é que essa continuidade esteja sempre presente e que ao envelhecer o indivíduo já tenha criado vários laços de parentesco dentro da tribo.

O sistema político de Evans-Pritchard é uma série em expansão de segmentos opostos a partir das relações dentro da menor seção tribal até as relações entre tribos e estrangeiros, pois a oposição entre segmentos da menor seção parece-nos ter o mesmo caráter estrutural que a oposição entre uma tribo e seus vizinhos Dinka, embora a forma de sua expressão seja diferente. Muitas vezes não é nada fácil decidir se um grupo deve ser considerado como uma tribo ou como o segmento de uma tribo, pois a estrutura política possui uma qualidade dinâmica.

Nas tribos maiores, os segmentos reconhecem uma unidade formal, porém pode haver pouca coesão real. O valor tribal ainda é afirmado, mas as relações concretas podem estar em conflitos com ele já se que baseiam em lealdades locais dentro da tribo e, em nossa opinião, é nesse conflito entre valores rivais dentro de um sistema territorial que consiste na essência da estrutura política.

O autor sugere, ainda, que os grupos políticos Nuer sejam definidos, em função dos valores, pelas relações entre seus segmentos e por suas inter-relações enquanto seus segmentos de um sistema maior numa organização da sociedade em determinadas situações sociais, e não enquanto partes de espécie de uma moldura fixa dentro da qual vivem as pessoas.

Pelo que eu entendi a estrutura social dos Nuer se dá com a ausência de órgãos de governo entre eles, a ausência de instituições legais, de liderança desenvolvida e, em geral, de vida política organizada. O estado por eles formado é um estado por parentesco e acéfalo, e somente através do estudo do sistema de parentesco é que se pode compreender como se mantém a ordem e como se estabelecem e se conservam as relações sociais em amplas áreas.

A anarquia ordenada em que vivem combina muito bem com seu caráter, pois é impossível viver entre os Nuer e conceber a existência de pessoas que os governem. Seriam relações difíceis e complexas, mas que conseguem conviver conforme os seus rituais e tradições, ou seja, as suas próprias tradições e rituais que de uma certa forma organizam a “bagunça” da tribo.

A estrutura social do Evans-Pritchard se aproxima da definição de estrutura social do Radcliffe-Brown quando os dois partem do princípio de que essas estruturas se dão conforme a complexidade das relações entre as pessoas. Sendo assim, essas relações apesar de terem uma estrutura complexa conseguem manter a ordem e estabelecer a convivência das pessoas numa mesma tribo.

A anarquia organizada seria aquela que apesar de não ter um governo ou alguém que estabeleça normas e leis a serem seguidas, os Nuer conseguem conviver dentro das suas tradições e rituais entendendo que cada pessoa da tribo tem a sua liberdade e ao mesmo tempo a tomada dela conforme o que fizer contra o seu outro ou aquilo que seja considerado errado dentro dos princípios determinados pela tribo. Seria uma espécie de convivência a base de regras ditadas pelas próprias pessoas da tribo e que são seguidas de uma forma organizada, mas que não são governadas por nenhum órgão oficial.

Os Nuer têm as suas tradições e rituais, sendo neles que são estabelecidos os princípios pelos quais as pessoas da tribo devem ser regidas, mas sem nenhum sistema de governo oficial para determinar ou não o que deve ser feito. É uma ausência de governo, mas ao mesmo tempo uma presença na cabeça de cada pessoa da tribo da sua responsabilidade para a boa convivência com os demais.

O fator tempo, segundo o que ficou entendido, é que Meyer Fortes está preocupado com as mudanças que ocorrem entre as pessoas e as suas consequências para o bem comum de todos.

Essas transformações individuais podem afetar o social e muitas vezes o indivíduo é influenciado pelo seu tempo de vida e a sua experiência adquirida ao relacionar-se com os demais a se comportar de diferentes formas ao longo de um tempo não somente cronológico, mas de um tempo de mudanças que se baseiam em vivências e experiências com o outro.

O que é necessário para que esse sistema social se mantenha é a sua efetivação, ou seja, que os indivíduos possam dar continuidade as suas vidas através dos seus parentescos. O crescimento e o desenvolvimento físico do indivíduo é importante para a antropologia, pois para manter um sistema social é necessário que a tribo tenha filhos e os veja crescer e se reproduzir. A continuidade da tribo precisa ser estabelecida de alguma forma e isso deve ser levado em consideração por todos que dela pertencem.

O processo biológico do indivíduo é nascer, crescer e morrer. Se ele não dá continuidade a sua vida, o sistema social se acaba porque não vai ter pessoas para se relacionarem umas com as outras. O essencial é que essa continuidade esteja sempre presente e que ao envelhecer o indivíduo já tenha criado vários laços de parentesco dentro da tribo.

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

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