Estamos nas mãos deles

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Nossa estrutura de saúde pública,
que Bolsonaro tenta destruir, pode nos salvar.
E os americanos não têm o suporte da saúde pública.


Pensadores que se antecipam ao que vem aí, como o Nobel Paul Krugman, advertem para o que parece óbvio: o mundo finalmente se dará conta, com o alastramento da pandemia e quando tentar sair dos escombros, que os americanos são governados por uma pessoa despreparada intelectual e emocionalmente.

E que essa constatação, tardia só para alguns, valerá para outros povos sob liderança assemelhada, o que inclui o Brasil. Também temos, por imitação, o nosso Trump, mas finalmente teremos uma vantagem.

Nossa estrutura de saúde pública, que Bolsonaro tenta destruir, pode nos salvar. E os americanos não têm o suporte da saúde pública.

Os americanos (e os brasileiros que moram lá e fingem ser americanos) terão uma experiência dolorosa. Todos, incluindo os ricos, sofrerão as consequências do desamparo dos pobres e miseráveis.

A China, tão depreciada pelos americanos que se acham superiores, parece ter contornado o pior momento e empurrado o dilema para os espertos de Washington.

O país cantado pela capacidade de igualar oportunidades (o que é grande farsa americana) vai conviver com a chance de ver muita gente ficar quase igual.

Ricos sob a ameaça do vírus não serão necessariamente igualados a pobres e miseráveis. Mas sentirão os seus medos. Estarão mais vulneráveis do que chineses, brasileiros, russos, porque o país nunca quis saber dos desprotegidos.

O americano médio nunca quis ser solidário diante de propostas concretas de criação de uma rede de saúde pública. O que há são remendos. Cuba tem uma estrutura de assistência universal que os EUA nunca tiveram.

Mas existe uma saída: os ricos se fecharão em casa para fugir, não só dos europeus, mas dos seus pobres sem assistência que ameaçam agora contaminá-los.

Krugman lembra que Trump nega a realidade de um país sem estrutura de saúde ao atribuir todos os males a conspirações sinistras.

Também é desconfortável nessas horas perceber que parte das esquerdas adere, para copiar a extrema direita, às teorias de que a peste foi fabricada.

Circulam longos textos com ‘embasamentos’ político e econômico sobre o que o vírus representa como algo que foi gerado para acabar com os inimigos.

A esquerda, que há horas tenta imitar a direita, por achar que assim vencerá a guerra da comunicação pelo Whats e pelo Twitter, assume suas piores feições. Trump e Bolsonaro estão bem acompanhados.

As teses sobre conspirações sinistras não são uma tentação apenas das ignorâncias consagradas, mas das ignorâncias em formação.

Quem acredita que beber querosene imuniza contra o vírus não é o mesmo que está certo de que Washington é quem distribui o vírus pelo mundo. Mas são da mesma turma. O disseminador da tese da conspiração pretende apenas ser mais sofisticado.

Que ninguém se esqueça, enquanto as teorias se propagam, que os americanos são liderados por Trump e que nós estamos sob a liderança de Bolsonaro, Paulo Guedes, Damares, Araujo, Weintraub, Sergio Moro.

Moro disse no programa Central GloboNews que o importante agora é lavar as mãos. Moro apresenta-se como um dos estrategistas brasileiros contra a pandemia. Estamos todos nas mãos desses caras.



Publicado originalmente em Blog do Moises Mendes

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