Nada mais importante
do que livros e professores.
É hora de prestarmos atenção.
Porque se não reagirmos dançamos nós.

 

 

Um sujeito de chapéu e terno azul entra na sala de aula. Ele chega dançando e seus movimentos estão muito bem sincronizados com a música. Então a professora e os alunos o acompanham e dançam também.

A cena faz parte do comercial de uma grande empresa. É tudo de primeira: a fotografia, a montagem, a coreografia, a direção. Toda a estética contida em poucos segundos encobre o horror.

Vejamos. O dançarino não bateu na porta da sala de aula. Ele não pediu licença ao professor. Tomou conta do ambiente e fez do local seu palco. Pior: a professora se deixou contagiar e dançou. E todos dançaram.

É obvio que a grande empresa não teve intenção de humilhar ou denegrir ninguém. Ainda assim aprovou a publicidade que, de certa forma, reflete a cara da sociedade brasileira de hoje. A sala de aula não é tão importante assim. A alegria e a desenvoltura do sujeito de chapéu e terno azul se sobrepõem. A autoridade do professor foi para o brejo, sua aula pode ser invadida e transformada sem que isso pareça desaforo.

Não é de admirar. Hoje, de um modo geral, os professores apanham dos alunos, são espinafrados pelos pais e, conforme as direções, precisam se adequar aos novos tempos. No novo modelo, aluno não é mais aluno, é cliente.

Baseada na filosofia do “cliente tem sempre razão” a publicidade reforça o pensamento insuportável de que piada e descontração valem mais do que respeito a quem ensina e ao próprio Ensino. Está certo, professor não precisa ser carrancudo, mas poderia ter papel mais digno (sem mencionarmos como deveria ter melhor formação, salário e condições de trabalho) e a aula não deve ser um tormento, mas precisa ensinar.

Por que a publicidade não presta mais atenção às mensagens – nem tão subliminares assim – que espalha? Por que o sujeito de chapéu e terno azul não aparece lendo um livro? Nada mais importante do que livros e professores. É hora de prestarmos atenção. Porque se não reagirmos dançamos nós.

Como escritor, Luis Dill foi brindado com uma interpretação de conto seu. Confira a resenha e a história.

“Conteúdo”, baseado no conto homônimo de Luís Dill, conta a história de um adolescente que, na véspera do vestibular, tem sua vida transformada e deve tomar decisões sérias em relação ao seu futuro. A maneira como seus pais encaram a situação é fruto de uma relação familiar desgastada e preconceituosa, e revela a falta de comunicação. Realmente enxergamos quem convive conosco? Ou só vemos aquilo que queremos ver?

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