A volta do Index?

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Livros ajudam as pessoas a entender seu tempo
e tenham seu espaço na sociedade, questionando-se
e observando a si mesmos e aos outros de forma crítica,
pontua Ann Lee, escritora que teve seus livros
listados no Index.


Desde a posse de Jair Bolsonaro o desapego à lógica e à razão, o impulso emocional manipulador surgiram por trás da onda obscurantista. A negligência à ciência, o incentivo à violência e ao ódio, citações nazistas, o culto ostensivo da ignorância se tornaram corriqueiros.

O retrocesso civilizatório é assustador notadamente no campo da cultura. Não à toa, o Ministério dedicado ao setor foi extinto.

O ataque se dá em várias frentes. Na História, por exemplo. Como História, segundo a direita bolsominia, é coisa de comunista, maconheiro, esquerdopata e professor doutrinador, para que aprender com ela? Assim, repete-se estupidamente o passado.

A palavra “cultura” na direita tem uma recepção bem específica, se tomada positivamente. “Festas em que não se respeita a vida animal, aí sim, é cultura. Cantores populares que gravam mensagem de ódio também podem ser louvados. O mundo sertanejo é amado pelos bolsonaritas”, assevera o filósofo Paulo Ghiraldelli.



Em artigo no site, Paulo Ghiraldelli escreve: “esse projeto nos fez duplamente dominado: a dominação do homem pelo homem e a dominação do fetiche, do fantasma, sobre o homem. Dominação não em pensamento que passa, para nos dominar, pela cabeça, mas dominação que nos torna súdito por vivermos realmente numa situação de súditos. Súditos do homem pela técnica, súditos do homem pelo fantasma”.



Agora, em Rondônia, surgiu uma lista de livros proibidos, abrindo mais um capítulo na guerra à cultura. Foi ideia do governo Marcos Rocha, aliado de Bolsonaro.

Para o governo daquele estado – que negou a medida –, Machado de Assis, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Rubem Alves, Franz Kafka, Edgar Allan Poe e Euclides da Cunha, não servem para os alunos do Ensino médio de Rondônia. Ulala!!

Autores que têm em comum além da reconhecida qualidade de seus livros o fato de serem nomes estabelecido na literatura.

Já em São Paulo, o governo estadual vetou uma lista de livros doados à penitenciárias. Ora, são apenas livros com “um amontoado de montão de palavras”, na lúcida definição do ocupante do Palácio do Planalto.

É a volta triunfal do Index Librorum Prohibitorum? É a ignorância acima de tudo. Obviamente, em nome da Escola Sem Partido. Convenhamos, trata-se de um despautério imaginar, em pleno século XXI, a retomada de um índice de livros proibidos.

Nenhum livro merece ser proibido, ter seu conteúdo cortado ou alterado, mesmo em polêmicas, pois a atitude configura censura e cerceamento da liberdade de expressão.

Livros são parte fundamental na formação de qualquer indivíduo. Eles ajudam as pessoas a entender seu tempo e tenham seu espaço na sociedade, questionando-se e observando a si mesmos e aos outros de forma crítica, pontua Ann Lee, escritora que teve seus livros listados no Index.

E por aí vai nossa cultura atacada de forma terrivelmente obscurantista, com a negação da evidência empírica, onde Copérnico é contestado, Darwin execrado.

Tribos da direita, prisioneira de preconceitos identitários e religiosos herdados da Idade Média, avançam como hordas bárbaras sobre o que ainda resta da cultura nacional.

O próximo passo será a queima de obras literárias em praça pública?

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