A quem um dia amou

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É verão, bom sinal, já é tempo de abrir o coração e sonhar…

(Canção de Verão, Roupa Nova)

“O passado faz parte de mim”, pensa ela, ao lembrar do amor que teve. O único amor. De todas lembranças, este amor é o que ela mais ama lembrar.

O dia estava nublado. O mar agitava as ondas e ventava muito na praia tranquila dos Açores, ao Sul da ilha de Florianópolis. Caminhava na areia de faixa larga. Afundava e voltava dos bancos de areia.

Pensava em contorná-la e seguir até a praia da solidão. Estava a sós consigo, solidão e solitude ao mesmo tempo. Não tinha tristeza na alma; aliás, pensava sempre que sua alma era leve. Sentia um vazio que não sabia explicar com o que preencher.

Num dado momento, seu coração se descompassou. Ele caminhava tranquilo, tinha um sorriso nos lábios. Um sorriso discreto trocaram. A proximidade das luzes vivas que vinham do olhar dele ofuscaram seus olhos. Por um momento ela se perdeu. As pernas afrouxaram, já não sabia caminhar, parecia afundar nos buracos de areia e não voltar mais. Ele a segurou gentilmente pela mão. Deu-lhe a outra mão e seguiram juntos…

Barreira nenhuma teve o poder de impedir o encontro. Um pássaro que ali estava cantou um amor que sentia e se juntou a outro pássaro que passava. Eis que isso refrescou o ardor.

De mãos dadas, soltos e livres, seguiram falando sobre coisas que tinham em comum. Uma sincronia perfeita. Ela sempre soube que o amor parte da admiração pelo outro. Nenhuma outra qualidade importa mais que esta, de sentir orgulho de se estar com quem encanta.

Não, ela não estava pensando em príncipes não. Não havia o que inventar – estava tudo ali.

O momento que viviam lhes dava subsídios o tempo todo. Tinham o verão pela frente, como se as árvores fossem ficar cheias de flores no ano todo. Era o tempo dos Ipês Amarelos, e estes luziam ao sol de verão.

De mãos dadas, apaixonados, chutavam água gelada à beira mar. Flutuavam em meio às ondas e ao vento falando palavras de amor.

O mar serenou…

As ondas não se agitavam mais.

O coração estava aquecido. Foi naquele entardecer sereno e colorido por trás do morro onde o sol ia se escondendo que ela conhecera o que é o amor de verdade. Molhada da praia, com a roupa grudada no corpo, deixando transparecer que eles se amaram pela primeira vez.

Sorrindo por entre as lágrimas e sentindo o gosto de sal nos lábios dele.

Por horas ficaram assim, abraçados, contemplando as ondas do mar. Absortos, preenchidos de si e de amor.

Na praia, ensombrecidos por esse verão, esqueceram do tempo. As gaivotas que ali passavam bicavam alguns restos de alimentos de que, por ventura, alguém deixara cair de seu lanche da tarde.

Veio o fim do veraneio. Cada um tomou seu rumo. Tanta coisa aconteceu…

Hoje, a tristeza e a saudade são quem lhe fazem companhia por onde quer que vá.

Várias vezes voltou a mesma praia. Tudo em vão. Onde tenha mar, areia e sol ela contém as lágrimas…

Segue assim, buscando este amor na vida, ou alguém que possa fazê-la sentir-se novamente amada. Ela sempre soube que na vida “vai um amor e vem outro”, mas sabe também, que nem Kairós, nem Chronos irão fazer com que ela esqueça quem um dia amou.

Autora: Elenir Souza

Edição: A. R.

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