Você quer que eu empilhe troféus? Já pensou em conquistá-los comigo?

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“Para subir uma montanha você não precisa da montanha.  Precisa de imaginação.” (Autor desconhecido)

_ Não me ensine como eu devo resolver o enigma do cubo mágico. Eu não quero saber os passos para girar duas ou três vezes e ver as suas cores alinhadas. Quem falou que eu busco a eficiência da solução?

Eu estava feliz, passando as horas para combinar cores, virando o cubo centenas de vezes.  Mas alguém publicou um vídeo, sem graça, dando pistas em como conseguir solucionar rapidamente.  Mas por quê?

Qual o sentido de ter eficácia no meu jogo e estragar a minha conquista? Eu queria continuar insistindo, mesmo que aos poucos… E resolver sozinho. E não é que destruíram a minha descoberta?

Já que estou protestando contra soluções que não solicitei, dispenso outras, como as sugestões em vídeos para conquistar uma pessoa com mais facilidade.  Sentando-me de uma maneira específica ou olhando bem nos seus olhos, por alguns segundos, terei a posse mágica da sua atenção.  Em segundos?

Mas eu não quero segredos que me impulsionem a quaisquer troféus.  Quero me aproximar de alguém com as dúvidas, possibilidades, negações e incertezas de cada olhar. Quero aguardar o retorno de um gesto, que traz indiferença ou aceitação, para poder aprender a viver com rejeições e acolhidas, como em tudo o que terei de sentir e viver.

Eu não quero conquistar ninguém em cinco passos.

Também não pretendo estar no topo de nada. O que me interessa é apenas caminhar, subir, escalar, andar junto; ao lado de muitos, por exemplo.  Não há visão melhor do que estar no topo.  Mas a vida não acontece quando apenas contemplamos.  Daí que viver de altos e baixos não deveria ser tão ruim e a escalada diária é a que vale.

No topo da montanha, a vista sempre é plena. Mas nunca será melhor que a subida! Principalmente, na solidariedade dos muitos outros que o fazem ao nosso lado. Aqui, vale mais a presença do que a eficiência. 

Quem consegue as coisas, quem realmente conquista, sabe da inutilidade de troféus e bens que se segue às medalhas. Porque o segredo não está no topo de nada; mas somente na caminhada.

Quando Jesus falou eu sou o caminho… ele falou em caminhada, em andar, seguir, passear com ele.  Não falou que seria o topo de algo. Jesus falou em movimento, em se caminhar e buscar   – conviver. Não disse: _ o topo é nosso objetivo.  Ele sabia que a vida está na renovação das manhãs. Que a verdade, a vida, e até mesmo o caminho, estão em consonância entre si e são inseparáveis – todas as horas. Viver, tentar, buscar, bater, pedir…Receber, é a lógica de se estar vivo. Alcançar, é consequência…

Como vivemos e andamos na direção contrária, nossas conquistas são artificiais e rasas.  E, então, uma vez que nossos frágeis objetivos são alcançados, precisamos de mais.  Não nos basta cativar em nossos desejos de cristais, pois uma vez empilhados, queremos outros e mais outros. A eficiência apressa a morte da conquista.

Caso você dê quatro passos, girando o cubo e seguindo as regras, você consegue alinhar todas as cores. Pronto!  Conseguiu.  Grau máximo em rapidez!  Mas, e agora? 

Como conquistou um segredo que tanto encantava e custava horas de tentativas, chegou o agora. O que vai fazer?  Desfez-se o mistério, acabou a mágica, tudo ficou sem graça e o cubo vai para a gaveta.

Neste mundo de resultados apressados, após a eficácia extrema, pode-se encontrar o vazio e a ausência de mistérios.  Há satisfação, mas não fruição.  Resta a solução fácil -em cinco passos para ser feliz – e a resposta em sua nudez sem graça, sem contemplação, sem complexidade e sem deslumbramento.

Há desolação e desencanto logo após se conseguir o que se quer e nossos desejos falam mais de nossas faltas do que realmente admitimos. 

Queremos que tudo funcione, perfeitamente, sem lugar à imperfeição, o atraso, a falta, como se a natureza humana só soubesse conviver com suas demandas.  A amargura de quem pede e busca o tempo todo, não é maior daquele que já alcançou o que queria, mas agora flutua no vácuo do vazio…Em busca de um novo desejo.

Perseguir algo é melhor que a sua posse. Andar é melhor que chegar, e, tentar, muito melhor do que ficar olhando. Mas se me ensinarem atalhos fáceis eu perco o caminho.

O prazer de se ‘conquistar’ alguém e ser ‘conquistado’, de igual forma, em todos os atos e circunstâncias que se seguem, jamais será substituído na paixão e nos mistérios que se entrelaçam. Sem regras ou dicas. A eficiência no amor pode ser a sua separação.

No amor, não há necessidade de perfeição.  Apenas se quer andar e viver: lado a lado. Os ideais e todas as ausências são substituídos, lentamente, pela simples presença do outro. Não se precisa chegar a lugar nenhum, nem partir. Apenas ficar!

O amor, assim como a fé, é caminhada pura, é subida e descida, é companhia, é cooperação. Não há caixa de ferramentas ou remédios a prescrever. Em cada busca, uma surpresa.

Abandonando as curiosidades de como viver melhor, em algumas dicas excêntricas, ou em como chamar a atenção de um pretenso amor, com gestos e segredos ardilosos, há um mundo a conquistar e viver plenamente, sem máscaras, nestas inúmeras montanhas que teremos de escalar ao longo da vida.

Com ou sem troféus!

Autor: Nelceu A. Zanatta. Também escreveu e publicou no site “O santo mel de cada dia”: www.neipies.com/o-santo-mel-de-cada-dia/

Edição: A. R.

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