Gládis Pedersen: pedagoga otimista e dinâmica

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Gladis Pedersen é espírita.
Escritora e pedagoga que recolhe
histórias através da Coleção Conte Mais.
Uma exímia contadora de histórias.

Hoje com 74 anos, mantém-se uma grande entusiasta dos potenciais de todo e de cada ser humano e da educação. Em sua atuação, já foi Presidente da Federação Espírita do RS, uma estudiosa e uma “mensageira” dos conhecimentos e práticas da Doutrina Espírita.

Por anos seguidos, participou do CONER-RS (Conselho do Ensino Religioso do Estado do RS), sempre defendendo o Ensino Religioso no paradigma Inter-religioso. Atualmente, desenvolve um projeto que reúne Espiritualidade e Meio Ambiente.

Conheçamos Gladis por ela mesma, nesta entrevista exclusiva ao site. Pedersen contará um pouco da sua história de vida, de seus intensos e importantes trabalhos como pedagoga, dirigente espírita, palestrante e escritora.

NEI ALBERTO PIES: Conte-nos de onde surge e como se mantém este seu grande entusiasmo pela educação e pela literatura?

Eu era muito jovem quando comecei a lecionar, lidando com crianças e adolescentes. Na prática docente, percebi quanto a linguagem simbólica da arte (história, desenho, música, dramatização) era recurso extraordinário para a aprendizagem dos alunos, pois mexia com suas emoções e sentimentos, especialmente a literatura. Notava que os alunos se identificavam com os personagens das histórias, viviam suas emoções: medo, tristeza, alegria, afeto, raiva e quanto essas experiências os aliviavam de seus conflitos pessoais.

NEI ALBERTO PIES: Quando e por que te tornaste escritora?

Sempre leio muito; é meu hobby. Busco, nos diversos autores da literatura mundial, a mensagem positiva que eles passam através dessa arte. Na tarefa docente, seguidamente escrevia textos curtos para trabalhar com os alunos.

No ano de 2.000, junto com uma equipe de educadores, coordenamos o resgaste de cerca de 250 histórias com propósitos morais edificantes. Em 2003 lançamos, pela Editora Francisco Spinelli (FERGS), os quatro livros da Coleção Conte Mais com essas histórias. Logo a seguir, fomos coordenando a edição de livros ilustrados infantis com as fábulas e contos dos livros 1 e 2. Em 2013, lancei o livro “A Literatura e a Magia da Arte de Contar Histórias”, na Feira do Livro de Porto Alegre e, no ano seguinte, na 28ª Feira do Livro de Passo Fundo, que teve com o tema “A Literatura Através das Gerações” onde a capa de meu livro foi a inspiração para o cartaz daquela feira. Foi o primeiro livro de nossa Olsen Editora. Por esta editora continuamos escrevendo livros voltados à área da educação, para pais e professores, dentro de nossa visão de mundo, assim como publicação de obras infanto-juvenis.

Conheça mais da Editora Olsen:olseneditora.com.br

NEI ALBERTO PIES: Fale-nos um pouco da Coleção Conte Mais? Quais seus objetivos? Como a senhora reúne tantas histórias?

A Coleção Conte Mais, nos livros 1,2,3 e 4, reúne cerca de 250 histórias resgatadas no Rio Grande do Sul e que foram organizadas por faixa etária e tema moral para facilitar a utilização por pais e professores.

O volume 1 contém fábulas, do gosto de crianças pequenas; o volume 2, para crianças maiores, reúne histórias que envolvem a família, a escola e a sociedade, com situações de vida real, e algumas fábulas. Os volumes 3 e 4 reúnem histórias fictícias e reais, biografias de vultos da história da Humanidade, que deixaram exemplos de vida que nos servem de modelo. Para a elaboração desse trabalho contamos com a prestimosa colaboração da professora Eloína Lopes e de Sônia Alcade, ambas de Bagé, RS, da professora Lucimar Mantovani Laidens, na revisão dos livros, e de Paulo Afonso Eberhardt na editoração eletrônica, ambos de Passo Fundo, RS.

NEI ALBERTO PIES: Quais questões do Espiritismo a senhora mais gosta e mais aborda em suas palestras, “como mensageira espírita?

A questão da importância da família como primeiro grupo social da criança; a responsabilidade dos pais para educar e encaminhar os filhos; a questão das fases que o ser humano passa na vida: infância, com suas características, adolescência, como etapa de busca inquietante da identidade, época de crises naturais que precisam ser enfrentadas pelos jovens com o apoio dos pais e educadores. Nessas duas fases é indispensável dar à criança e ao jovem o sentido verdadeiro da vida.

A idade adulta e fase da maturidade serão decorrência das duas anteriores. O outro tema é a questão da importância de Deus, como nosso Pai e Criador, e de Jesus como nosso irmão e Mestre, guia e modelo da Humanidade.

NEI ALBERTO PIES: Qual é a importância do Ensino religioso Inter-religioso na perspectiva de uma formação humana integral?

A importância do ER, inter-religioso, é fundamental na formação integral do aluno. Precisamos atender à dimensão moral, emocional e espiritual da inteligência deles. A religiosidade básica inerente a cada um de nós, independe da crença religiosa institucional que abraçamos, ou da não-crença que se adote. A educação no mundo ocidental tem privilegiado a dimensão intelectual da inteligência em detrimento das demais dimensões.

NEI ALBERTO PIES: Quais são as novidades da Nova BNCC para esta área do conhecimento?

Encontramos, na proposta para o ER na BNCC, a relevância no foco da necessidade de o aluno reconhecer-se e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza (Ecologia) enquanto expressão de valor da vida, enfocando a necessidade de estimular o educando a construir seu sentido pessoal de vida, a partir dos valores, princípios éticos e de cidadania que as informações e reflexões desta área de conhecimento propiciam.

NEI ALBERTO PIES: O que significa o Estado do RS estender também ao Ensino Médio, a área de conhecimento do Ensino Religioso?

O RS está um passo à frente neste sentido, em relação aos demais estados brasileiros. A fase de adolescência rica de perspectivas de indagações pelo sentido da vida, a busca pelo transcendental, pelo sagrado, peculiar a essa fase, coloca a colocação do RS na vanguarda da educação integral do aluno do Ensino Médio no Brasil.

NEI ALBERTO PIES: Por que é tão importante “conhecer as diferentes religiões com o propósito de respeitá-las”?

Não se pode respeitar algo que não se conheça nada ou se conheça pouco sobre o assunto. O conhecimento das diferentes religiões, suas cosmovisões, ritos, mitos, adeptos proporcionam maior entendimento e compreensão sobre cada uma e a possibilidade de comparação entre uma e outra abordagem, leva à reflexão e à mudança de comportamento do aluno. Ele aprende a respeitar o outro e à sua crença, liberta-se do comportamento antifraterno, preconceituoso e fanático, fendo empatia e respeito pelo outro.

NEI ALBERTO PIES: O que a senhora aprendeu nestes longos anos de participação no CONER-RS?

O que mais nos marcou nessa caminhada, junto com outras denominações religiosas, foi o diálogo aberto, a fraternidade, a busca de consenso e a luta irmanada pelo direito do aluno do ER como componente curricular da proposta pedagógica da escola. A luta foi vitoriosa. Aí está o ER apresentada pela BNCC como área de conhecimento.

NEI ALBERTO PIES: Que projeto é este, que a senhora coordena, que envolve Espiritualidade e Meio Ambiente?

É um projeto quem está em gestação. A natureza, com suas leis, precisa ser entendida e respeitada como obra da Criação Divina, assim como o Ser Humano.

A interrelação das diversas disciplinas do ER deve estar relacionada com a necessidade de preservação do Meio Ambiente.

Em 2015 lançamos, na Feira do Livro de Porto Alegre, o livro ilustrado infantil “Sapiente, o Sapo Sabido”, pela Olsen Editora. Também lançado na Feira do Livro de Lagoa Vermelha RS, com o objetivo de promover reflexões sobre as consequências da poluição do meio ambiente sobre os seres vivos do planeta. Esta obra está sendo utilizada por escolas coordenadas por Secretarias Municipais de Educação em parceria com Secretarias Municipais de Meio Ambiente para estimular, nas escolas, a criação de hortas escolares, pomares e outras atividades relacionadas à preservação do meio ambiente.

NEI ALBERTO PIES: Na sua visão, por onde e por quem passa o futuro da civilização e da humanidade?

O futuro da nossa civilização está nas mãos das pessoas de bem e de bom caráter, para as quais a vida tem profundo sentido material e espiritual. Percebemos o surgimento de uma nova geração de pessoas voltadas para o bem comum, com mais capacidade de empatia e respeito pelo outro. Este aparente caos vai passar e a humanidade viverá um futuro de paz, alegria e prosperidade. Não é uma visão utópica, é certeza. Continuamos fazendo a nossa parte, trabalhando com a educação infantil e com jovens. Acompanhamos o esforço hercúleo de muitos professores nessa luta pelo bom combate na educação.

NEI ALBERTO PIES: Que mensagem deixas aos nossos jovens, tão ávidos por realização e sentido de vida?

Que os jovens observem mais a natureza, vejam o nascer e o pôr do sol, as estrelas à noite, a lua, respirem fundo o ar puro, encham os pulmões, sintam-se plenos. Plantem sementes e vejam as plantas nascerem. As sementes guardam a vida doada por Deus, indispensável à nossa manutenção.

Desliguem-se um pouco da comunicação virtual. Procurem a conversa direta com os outros. Conversem olhando nos olhos dos outros. Escutem a voz do outro, suas dores, queixas, alegrias. Sejam úteis, colaborem no lar, na escola, na comunidade, nunca percam o entusiasmo. Não esqueçam que todos vocês são cidadãos do Universo.

NEI ALBERTO PIES: Que mensagem deixas aos professores e professoras que vivem tempos tão difíceis para cumprir finalidades de humanização através da educação?

Que não percam a esperança! O professor é o agente que promove a mudança, representa a chave para a melhoria do mundo. Nas suas mãos está o futuro.

NEI ALBERTO PIES: Como te defines numa frase.

Sou uma pessoa otimista e dinâmica.

NEI ALBERTO PIES: O que mais tens vontade de dizer?

É sempre um prazer interagir com pessoas como tu, interessadas no bem da Humanidade. Permaneço à disposição para tratar de assuntos dessa natureza. Obrigada pela oportunidade de trabalho.

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