X Colóquio de Direitos Humanos em Passo Fundo: Amorosidade em pauta

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A luta pelos direitos humanos precisa continuar e com maior intensidade. Diante de um mundo alimentado pelo ódio, pela guerra, pela violência, pela discriminação, a necessidade de realização dos direitos humanos permanece como uma das principais tarefas da educação.

Nesta última semana, Passo Fundo sediou a décima edição do Colóquio Nacional de Direitos Humanos.  Com o tema “Direito ao Amor e Direito de Amar”, evento aconteceu nos dias 13, 14 e 15 — na Universidade de Passo Fundo (UPF).  A programação reuniu autoridades, representantes da sociedade civil e estudantes de diversas instituições de ensino superior para discutir a defesa e o fortalecimento dos direitos humanos.

O coordenador-geral do evento, Paulo Carbonari, explicou que o tema foi escolhido para promover uma reflexão sobre as relações humanas, suas dinâmicas e os desgastes que vêm afetando negativamente a vida em comunidade.  Segundo Carbonari, a proposta surgiu com o objetivo de problematizar a amorosidade como fundamento para a construção de uma sociedade mais justa.

O evento contou ainda com a entrega do Prêmio Direitos Humanos ao ex-professor da Universidade, Eldon Mühl, que atuou por mais de 46 anos na área de educação e filosofia da UPF, prêmio Personalidade. Além dele, a Associação Cultural de Mulheres Negras (ACMUN), representada pela professora Francisca Bueno, foi premiada na categoria “Instituição”. 

Assista aqui Conferência de Abertura do Colóquio: https://youtu.be/F-9XE5uo1HE?list=PLEjSLAG1BLQ8mSjWrDvNUFqJmtOvhjICG&t=9094

Destacamos a fala do professor Eldon Henrique Mühl, que assim se manifestou aos presentes.

Senhor Presidente da Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo, Ésio Francisco Salvetti.

Autoridades e representantes de organizações mencionados pelo protocolo.

Estimados membros e associados da CDHPF.

Estimados colegas da Universidade de Passo Fundo e de outras instituições.

Caros professores, alunos e participantes deste X Colóquio Nacional de Direitos Humanos de Passo Fundo

“Quero iniciar expressando minha alegria pelo recebimento deste prêmio e agradeço à Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo por esta homenagem. Foi com surpresa que recebi a indicação e confesso que fiquei muito angustiado pela responsabilidade que tal distinção exige. Entendo que uma distinção como esta não é resultado de mérito unicamente pessoal, mas fruto de compartilhamentos de preocupações e lutas com pessoas comprometidas com a causa comum dos direitos humanos e da educação libertadora.

Fui sendo formado, desde a infância, em me sentir responsável por uma relação de respeito e de acolhimento dos outros. Ainda que tenha crescido que em um ambiente de muitas dificuldades, de predominância de visões machistas e autoritárias, aprendi de meus familiares, especialmente de minha mãe, a importância da convivência solidária e de respeito aos outros.

Esta formação foi se solidificando pela educação recebida nos seminários da Congregação da Sagrada Família, em que vivi dos 11 aos 24 anos. O seminário, mesmo tendo um ambiente rigoroso, disciplinador, patriarcal, possibilitou uma convivência fraterna e compartilhada com muitos colegas.

Sob a influência das primeiras lições da Teologia da Libertação e de algumas experiências com professores e colegas que alimentavam críticas ao regime militar vigente no Brasil, senti-me desafiado a compreender a importância da liberdade e da democracia e a me preocupar com as questões sociais, especialmente com a pobreza. No período final de minha vinculação com a congregação, tive a oportunidade de conviver com um Padre Roque Zimmermann, que foi um dos principais incentivadores de uma formação voltada às questões sociais e políticas e um dos responsáveis pela criação da Comissão dos Direitos Humanos de Passo Fundo. Meu reconhecimento e agradecimento à Congregação da Sagrada Família.

Outra instituição a quem devo reconhecimento pela minha formação é a Universidade de Passo Fundo, especialmente à Faculdade de Educação e ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, que atualmente integram o IHCEC. A oportunidade de atuar como coordenador do Centro Regional de Educação, como professor e como gestor, possibilitou-me a convivência como inúmeros mestres e com diversos projetos diretamente atrelados às questões de direitos humanos e de educação em direitos humanos.

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Uma importante referência desta minha experiência, não posso deixar de mencionar: Professor Elli Benincá. Sua capacidade pedagógica, sua disposição permanente ao diálogo, seu poder de acolhimento e sua amorosidade foram marcantes na formação minha e de inúmeros colegas. Sua luta pelos oprimidos, pelos indígenas, pelos sem-terra, pelos injustiçados, marcou a vida de muitos educandos e educadores.

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Quero expressar também meu reconhecimento e agradecer o apoio do Programa de Pós-Graduação em Educação, cujos colegas e alunos ofereceram uma convivência acolhedora e amiga e oportunizaram a realização de muitas pesquisas e atividades relacionados aos direitos humanos, especialmente à educação em direitos humanos, ao feminismo, a questões étnico-raciais, problemas ambientais, justiça social, dentre outros.

Compartilho esta homenagem também com os colegas do Centro de Educação e Assessoramento Popular, cuja luta pela educação popular e, especialmente, pela efetivação do direito humano à saúde, vem se revelando como um dos maiores desafios em uma sociedade cada vez mais competitiva e mercadológica.

Não posso deixar de agradecer e compartilhar este momento com minhas filhas, Sofia, Julia, Vivian e Ângela, de saudosa memória, e meu filho Leonardo. Minha gratidão especial a minha esposa Elisa, uma das responsáveis principais pelo meu envolvimento com a questão da educação em direitos humanos. Que a amorosidade continue a alimentar nossas vidas.

Por fim agradeço, especialmente, à Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo e a todos que criaram a mantiveram esta importante entidade na região. Destaco todo o apoio e a amizade do Paulo Carbonari e dos colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação em Direitos Humanos, que desenvolveu suas atividades por mais de 10 anos.

A luta pelos direitos humanos precisa continuar e com maior intensidade. Diante de um mundo alimentado pelo ódio, pela guerra, pela violência, pela discriminação, a necessidade de realização dos direitos humanos permanece como uma das principais tarefas da educação.  Ainda estamos precisando aprender a amar e, por isso, ainda precisamos lutar pela realização dos direitos que nos torna amorosos. Afinal, como afirmo Bell Hooks, o amor é o que nos faz seres humanos.

Obrigado!

Fotos: Divulgação/ CDHPF

Edição: A. R.

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