Dia do trabalho: há o que comemorar?

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“O desemprego do homem deve
ser tratado como tragédia
e não como estatística econômica”.
(João Paulo II)

A cada primeiro de maio as marcantes histórias de luta dos trabalhadores são lembradas. Senso de cidadania, união popular e reflexão sobre direitos adquiridos fazem parte desta data.

Marx descreveu o movimento dos padeiros irlandeses contra o trabalho noturno e dominical no século XIX, nos “comícios de maio”. O proletariado moderno começava a se organizar, mesmo antes da consagração da data.

Foi nos Estados Unidos que o contemporâneo significado de 1º de maio se consolidou, com as greves que estouraram em 1832, reivindicando a jornada de oito horas e que culminaram em tragédia. Em 1886 foi convocada uma greve geral para 1º de maio. A polícia reagiu com violência deixando um saldo de seis mortos e 50 feridos.

No dia seguinte em um ato contra a violência policial, uma bomba foi arremessada na direção de policiais. O episódio determinou uma perseguição a líderes do movimento operário. Um processo suspeito, com forte caráter político, (alguma novidade ??), condenou sete deles à morte por enforcamento.

A luta pela comprovação da inocência dos acusados transformou os “mártires de Chicago” em símbolo mundial da injustiça do Estado capitalista contra uma classe trabalhadora oprimida. Em 1889, a 2ª Internacional dos Trabalhadores, organização criada em Paris, decretou o 1º de maio como Dia Internacional do Trabalho. Assim, a data nasceu sob o signo da revolta e da luta.

É bem verdade que a imprensa, o Estado e até a Igreja, tentaram elaborar outras interpretações para a data, fugindo do discurso do proletariado. No Brasil, um discurso unificado sobre o 1º de maio veio na Era Vargas, modelado pelo Estado e não pela sociedade civil.

O governo, sob a égide do trabalhismo, se apropriou da data e a utilizou para fins políticos e, evidentemente, propagandísticos, ao lado das políticas concretas – jornada de oito horas, férias, carteira do trabalho, CLT e criação do Ministério do Trabalho.

O protagonismo deixou de ser do operariado e sim do Estado, da Nação e do seu dirigente máximo. Os anos 1930 foram de repressão ao movimento operário livre e de criação de sindicatos atrelados ao Estado.

No início da década de 1980, entretanto, o sindicalismo ganhou força com o surgimento da CUT e da CGT que foram fundamentais para o processo de redemocratização do país. Lideranças como Luis Inácio Lula da Silva, representaram a ascensão de um novo, independente e poderoso sindicalismo no Brasil.

Agora, neste 1º de maio, os trabalhadores brasileiros tem muito pouco a comemorar. O desemprego massivo é, possivelmente, a maior fonte da angústia que os aflige.

A massa assalariada está conhecendo na prática os estragos sobre seus direitos: celetistas estão sendo trocados por contratados temporários, sem férias e 13º, sem licença de gravidez, FGTS, aviso prévio, seguro-desemprego, etc. O subemprego se espalha rapidamente sem amparo sindical.


 O futuro do trabalho.


Há hoje no Brasil um projeto que visa desmontar a legislação trabalhista, asfixiar os sindicatos, extinguir a aposentadoria pública universal por repartição e acabar com a justiça do trabalho. Afinal, como disse Bolsonaro, “é difícil ser patrão no Brasil”. Então, vamos facilitar sua vida. Ulala!

No caso da aposentadoria, com a implantação de um regime por capitalização, empregadores e Estado livram-se de contribuir de maneira universal para o bem-estar da população na velhice. É o cenário ideal: cada um por si. A reforma só é boa para quem ganha com o dinheiro dos outros.

Assim, esperança é um bem escasso no Brasil de Bolsonaro. Os que mudaram ilegitimamente os rumos do país, impondo um ultraliberalismo, estão assassinando a esperança do trabalhador brasileiro. As medidas tomadas só penalizam as grandes maiorias que veem as conquistas sociais e históricas sendo literalmente desmanteladas.

Está na hora do trabalhador resgatar o papel que exerceu no século XIX. Isto é, de ser o sujeito da história, o transformador social. O primeiro de maio deve voltar a ser, mais do que história, mas um presente em constante transformação.


Dia do trabalhador 2019: não há nada a comemorar!

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