Violência contra a mulher

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Florbela Espanca, poetisa portuguesa,
disse com muita propriedade: “é pensando
nos homens que eu perdoo aos tigres
as garras que dilaceram”.

De 25  de novembro  a  10  de  dezembro  são 16  dias  de  ativismo  contra  a  violência  sobre  as  mulheres. Período para que façamos uma necessária  reflexão sobre  sua  luta  ao longo da história.

O sistema patriarcal, através de construções ideológicas misóginas e machistas, sedimentou a ideia de inferioridade da mulher em relação ao homem.  Por muito tempo a mulher ficou restringida a uma imagem limitada e distorcida de si mesma. 

Ela foi silenciada; suas aptidões desprezadas, sua capacidade intelectual subestimada; suas ideias, desdenhadas, seus talentos ignorados e desperdiçados.

Ao longo dos tempos do patriarcado, a mulher deveria corresponder, incondicionalmente, às expectativas masculinas e em troca  receber  proteção e sustento. Seus desejos e sonhos foram ignorados. Não eram ouvidas, ou melhor, nem sequer se manifestavam, pois  eram educadas  para o silencio, a resignação e a obediência.

A sociedade brasileira, extremamente conservadora, viu na mulher  ideal  aquela  que  deveria  ser dócil, obediente, fragilizada – bela , recatada e do lar –,para pertencer a um homem.

O nosso patriarcado determinou que as  mulheres  fossem inferiores e, portanto, submissas aos homens  e, estes, superiores, dominadores.

Em pleno século 21, a realidade de crimes sexuais, feminicídios, preconceitos, ameaças e  assédios seguem  fazendo parte do atormentado cotidiano  das mulheres  brasileiras.

Se tudo isto não bastasse  a ministra Mulher, pastora  Damares, promove palestras  contra  o feminismo  e  declara que sua missão  é ensinar meninos  a serem gentis  com as meninas;  os primeiros de  azul, as  últimas de rosa.

Uma das absurdas fixações dos novos cavaleiros da  “moral e  dos  bons costumes” é a tentativa  de disciplina sobre  os corpos  femininos  e  o enquadramento heteronormativo da  sexualidade, no melhor modelo fascista.

Assim, a cultura  da violência  contra a mulher se acentua.  Ela ainda  é vista como mero objeto por boa parte  de nossa sociedade.  E é fácil de encontrar explicações  para tal fenômeno.

A violência pode  ser atribuída  a uma interpretação histórica  tendenciosa  e preconceituosa que a  colocou  na  condição de  mera  servidora  à  sociedade,  ao marido  e aos  filhos.

A violência, portanto, não é casual. Em sociedades estruturadas , como a nossa, sobre a desigualdade e a discriminação contra  as mulheres, as vítimas  são escolhidas precisamente por seu gênero.  É a permissividade social da dominação masculina que conduz  a práticas cotidianas de violência sistemática.

Florbela Espanca, poetisa portuguesa, disse certa vez, com muita propriedade: “É pensando nos homens que eu perdoo aos tigres  as garras que dilaceram”.



Na cidade onde você mora mais da metade da população é formada por mulheres. Engraçado, todas as representações são homens. A única mulher que aparece é a que serve o cafezinho. E, atrás do cafezinho, e apenas ali, está Ela. Única guerreira no meio de tantos. Parece que as coisas mudaram mas nem tanto nos últimos séculos. (Ingra Costa e Silva, jornalista)

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