Devido a singularidade do povo russo, ao chegarem ao Brasil trouxeram consigo não só o trabalho para desbravar estas novas terras, mas sobretudo uma série de novos costumes e tradições que não eram praticados pelos imigrantes da Europa Ocidental ou nesta região até aquele momento. Neste sentido, os imigrantes russos ajudaram a formar e enriquecer o mosaico cultural de nosso Estado.
Do dia 09 de abril até o dia 15 foi realizada em Santa Rosa a 20ª Feira do Livro, que teve como lema: “Ler é uma aventura fantástica”. Neste ano está sendo homenageada a etnia italiana pelos seus 150 anos. O patrono da feira do livro de 2025 é o escritor campinense Jacob Petry, radicado nos Estados Unidos, que esteve presente na abertura do evento literário…
No dia 11 de abril a partir das 19h30, no palco externo foi apresentado um painel a cargo da Academia de Letras do Noroeste do RS – Alenrio, sobre a literatura regional.
Os escritores Jorge da Luz (Três de Maio), Nair Carpenedo (Tucunduva) Roque Weschenfelder (Santa Rosa) e de Campina das Missões, Jacinto Anatólio Zabolotsky, que discorreu sobre o tema: A diversidade das escritas na nossa região Noroeste.
Após apresentar os seus livros, dentre os quais A Imigração Russa no RS e no Brasil (já na 7ª edição, revista e ampliada, com duas edições traduzidas para o idioma russo), abordou sobre a diversidade das etnias que formam(vam) a nossa região, em especial a italiana (a etnia homenageada), alemã (e alemães-russos), afro, russa, polonesa, portuguesa, dentre outras.
Por fim, focou na etnia russa que também alavancou o progresso de Santa Rosa, considerando de que muitos imigrantes russos e descendentes que se mudaram de Campina das Missões se estabeleceram em Santa Rosa, relatando o seu legado de labor e histórico-cultural-religioso.
Tem marcas profundas na comunidade de Santa Rosa, por exemplo o primeiro prédio construído em 1930, que foi do médico Dr. Etiene Miroslav, chamado de Dr. Russo, onde está localizado o prédio de quatro andares, raro na época, que abriga a Câmara de Vereadores de Santa Rosa, até foi descerrada uma placa no hall de entrada em sua homenagem. A Igreja Ortodoxa, situada próximo a estação Rodoviária.
Também citou a presença e a marca forte das tradicionais casas comerciais que fizeram história em Santa Rosa, por exemplo, a renomada Casa Constante, do imigrante Constante Weremchuk, situada na Praça da Independência e após na Praça da Bandeira. A Casa Gaúcha, de Nicolau Budzinky, Gregório Melnik (residia no centro, ao lado do Centro Cívico, onde estava situada a confeitaria da Dona Ella), Móveis Belaus, o saudoso, Dr. Pedro Fiedoruk, o primeiro ecologista de Santa Rosa e região. O alfaiate André Lachnoff, da tesoura de ouro, confeccionou mais de 50 mil ternos. Citou também as famílias tradicionais, tais como: Bondarenco, Droval, Fiedoruk, Kirichenco, Lachno, Leutchuk, Lukianetz, Kalinin, Nikanovitch, Novosad, Naumchyk, Nicolow, Marianoff, Mazurek, Moscalcoff, Martinenco, Maximenco, Mysko, Pereverzieff, Podgaietsky, Tojevitch, Tritiak, Stepanenco, Tchebotaio, dentre outros, que deixam(ram) marcas profundas no seu legado histórico de labor, que ajudaram a mudar, com a força de seu labor, o rosto de Santa Rosa, do RS e do Brasil.
“Ao saírem, encontraram um cireneu, (1) chamado Simão, a quem obrigaram a carregar-lhe a cruz“.
É Páscoa!
Passou rápido, não?
Os shoppings estarão lotados novamente; gente ansiosa por suas compras, correria para todos os tipos de pernas, gastos, consumo…
Provavelmente, muitos dos presentes que damos ou recebemos no ano passado, ainda estão guardados em um canto de nossos armários; não usados. Mas, agora, temos de dar e receber mais.
Os ovos de Páscoa ficaram menores, mais caros, menos saborosos. Seguimos a tradição, ano após ano e sabe-se lá quem inventou tudo isso. Com certeza, a maioria não tem a menor ideia.
A cada ano que nos foge, percebemos que as igrejas estão mais vazias, com exceção de um pedaço de interior que as mantém abertas. Por outro lado, imaginamos que a fé que se sobressai nesses dias, poderá ser lembrada na casa de cada um: sem igrejas, templos, sem ninguém por perto. Engano!
Percebe-se que quanto maior são os aparatos da Páscoa e quanto mais portentoso é o seu apelo, menos essência encontra-se na comemoração.
Há muito se perdeu o seu sentido real e hoje passamos pela sexta-feira e pelo domingo da ressurreição, com pouca celebração e muito açúcar. O que seria uma grande oportunidade para chamar à reflexão nesse período, investiu-se em festas aparatosas, ornamentadas, desprovidas de quaisquer sentidos do que ela realmente significa. Trocou-se a dor pungente de um sacrifício verdadeiro, talvez o único que possa ser incontestável, por um festival de guloseimas; são dias de falsos banquetes, exagerados, para tudo ser esquecido; já na segunda.
Uma lástima!
Após a ressureição de Cristo, para os que assim o creem, Jesus apareceu à casa de seus seguidores, e, para provar que realmente era ele, pediu algo para comer. Deram-lhe peixe assado e um favo de mel. (2)
Há muito se sabe que o mel é um dos alimentos mais alinhados com os tempos bíblicos. Você pode até permanecer indiferente; mas foi o que Jesus provou. Possivelmente, com suas próprias mãos. Inspirado em suas doces palavras?
Então temos o primeiro constrangimento. Em sua homenagem, neste domingo, poderíamos trocar o almoço fausto por uns pedaços de peixes, uma vez que foi o seu pedido, logo após o retorno do seu sacrifício. Sobremesa: mel. E pronto!
Mas quem se importa?
Em quase dois mil anos, a humanidade ainda permanece muito parecida com o seu tempo, quando Ele chamou os males do mundo e disse que tomaria para si todas as dores. A indiferença é contagiosa e Jesus a provou várias vezes.
Quanta teimosia por amor ao próximo!
No período em que se passou entre a sua morte e ressurreição, e o tempo que se chama hoje, foram-se quase 20 séculos, para vermos com nossos próprios olhos, como seu discípulo Tomé; a mesma incredulidade, a mesma dureza de coração, quase o mesmo desinteresse. Não gostamos de dividir o que temos, não gostamos dos que não tem, pouco compartilhamos. Se não mudamos nossa forma egocêntrica de conviver com o próximo, quanto mais morrermos por ele? Jamais!
Morrer pelos conhecidos é uma tarefa até compreensível. Mas pelo que não se conhece, impensável.
Foi o que Jesus fez!
Tanto que na promessa de sua execução, deu-se por todos: pelos pescadores que mal compreendiam a sua mensagem, pelos hipócritas de seu tempo e pelos de hoje, por incautos e sonegadores, por pobres e ricos. Por você e por mim. Quem acredita de verdade?
Ele mesmo falava: somos uma geração de incrédulos, homens de pequena fé. (3) Se podemos resumir a mensagem de sua vida e história, e sobre os seus ensinamentos, concluímos que a razão de toda a sua existência se resume numa só palavra: o outro.
Incomoda muito o seu discurso e o seu exemplo, sobretudo, perturbam algumas Igrejas que dizem segui-lo. Até é insuportável vermos as diferenças em seus seguidores, inseguros, de sua época, mas que mesmo assim o seguiam, com os messias que hoje vemos por toda a parte, gritando e pedindo graças, clamando por presença, por submissão aos seus cultos, e, claro, implorando dinheiro.
Fica constrangedor imaginar a presença de Jesus, em uma provável volta, novamente evidenciando a sua teimosia em querer salvar uma geração, que não se acha perdida. Se voltar, encontrará pouca fé por aqui. (4)
Pelo menos, que nessas Páscoas confusas, de tantos sabores e de tão pouco sentido, fique claro que ele já se ofereceu por todos: pelos que exploram, ofendem, discriminam, perseguem, e ainda pelos que percebendo a tudo, frente a crueldade de um mundo insensato… Silenciam.
Não se preocupe e não se cobre pelo tamanho de sua fé. Há um sacrifício já foi consumado pelo seu nome.
Jesus, desde sempre, conviveu com a apatia do mundo. Não será a sua ausência que o fará desistir. Até porque, na humilhação e na matança a que foi submetido, sequer os seus discípulos ficaram com ele.
Portanto, ao ouvir falar em empatia, não perca seu tempo procurando exemplos de obras e homens que a ensinam. Pois o maior gesto de empatia que alguém poderia deixar como modelo, Ele nos deixou.
Ahh!
Em se tratando de empatia, lembre-se que na madrugada deste domingo, há dois mil anos, ou aproximados, ao ressurgir dentre os mortos na porta do seu túmulo, poucos o procuraram. Talvez até estivesse um pouquinho frio ou nublado, mas ali estavam: Maria Madalena e a outra Maria. (5) Somente para lembrar, que é com empatia que se planta mais empatia.
Não precisamos de mais nada!
Neste e em todos os domingos, coloque-se no seu lugar e considere o seu gesto. Nem precisa acreditar, mas dê uma chance ao seu ego, por um domingo apenas, siga-o, pondo-se no lugar que quem você julga e precisa do seu perdão. A Páscoa tem muito a nos dizer sobre o outro, em aceitá-lo, e, como Simão o fez, carregar um pouco a sua cruz.
O Poder Judiciário tem a obrigação de rever os atos emanados de seu poder e por isso estamos levando ao conhecimento público o apelo que é feito em nome de Ricardo e Neusa Jones.
Conheço Ricardo e Neusa Jones desde quando eles eram jovenzinhos, cheios de ideais e de planos para o futuro. Viveram sua juventude em busca do conhecimento, estudaram, casaram-se, constituíram família. Ele médico obstetra; ela enfermeira obstetra.
Poderiam ter escolhido uma vida de fausto, riqueza e conforto; optaram por uma vida simples, naturalistas na essência, transmitindo a ideia a seus descendentes, embora causassem espanto geral pela opção feita a favor do humanismo ao invés da associação ao vil metal, escravizando-se na busca pelo dinheiro e amarrando-se às convenções rígidas que não abrem espaço para quem pensa e age diferentemente…
Pessoas honestas, éticas, humanitárias, solidárias com as dores alheias, educadores…
Trilharam seu próprio caminho, abriram portas, transmitiram conhecimentos e “nadaram contra a maré” …
Ao tomar conhecimento do epílogo de suas vidas não pude deixar de relacioná-las com o que aconteceu com o Dr. Luiz Francisco Corrêa Barbosa, afastado da magistratura por ter “transgredido convenções” e enfrentado o Sistema…
Ricardo e Neusa foram condenados por praticarem uma obstetrícia ética, baseada em ciência e respeito às mulheres. Foram punidos “não por erro ou negligência, mas por representarem um modelo de cuidado que valoriza a autonomia feminina”.
Nos meus já extensos anos de vida tenho visto notícias, em órgãos de comunicação social, sobre procedimentos médicos, em ambientes hospitalares ou em suas clínicas particulares, onde a ética nem sempre é respeitada e nunca vi punições com a extrema severidade com que vejo a condenação de Ricardo e Neusa, aqui no Rio Grande do Sul.
Convivi, inclusive, com um caso de pessoa íntima de nossa família que fez uma cirurgia nasal, num hospital; entrou sorrindo e saiu morta: acidentes acontecem… Ninguém foi sequer investigado!
Ao Judiciário chegam as demandas para serem julgadas pela letra fria da lei; passam antes, nos casos penais, pelas mãos da Polícia e do Ministério Público, local onde deveriam ser observadas com critérios todas as evidências. Nem sempre isso acontece. Processos mal instruídos, muitas vezes baseados em convicções pessoais ou de órgãos de classe, acabam jogando a responsabilidade pelo julgamento ao Poder Judiciário.
O Poder Judiciário tem a obrigação de rever os atos emanados de seu poder e por isso estamos levando ao conhecimento público o apelo que é feito em nome de Ricardo e Neusa Jones.
Anexo os links seguintes para um conhecimento do que se está tratando.
Vivemos uma crise sem precedentes na história a humanidade. Faz-se urgente, portanto, uma revisão da atuação humana com relação a natureza. A Educação Ambiental, neste contexto de crise climática, é uma questão civilizatória, política, ética e, talvez, a última esperança.
Muitos assuntos ocupam os debates no campo da educação – IA e CHATGPT na educação, uso Celulares nas escolas, dependência e dominação tecnológica, saúde mental, empreendedorismo, inovação, educação financeira -, porém, neste momento e neste ano de 2025, a Educação Climática e Ambiental precisa romper o “silenciamento” e o “esquecimento” a que está submetida. É uma temática prioritária e emergencial no atual contexto climático.
Neste ano estão programados importantes eventos nacionais e internacionais sobre o Meio Ambiente e a Educação Ambiental. Agora em abril, de 02 a 05, está sendo realizada a Cúpula Global da Juventude pelo Clima 2025, na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Jovens de mais de 40 países discutem as mudanças climáticas nos países do chamado Sul Global, grupo de países que o Brasil é frequentemente incluído. Jovens se importam com a condição climática atual.
No próximo mês é a vez da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, a realizar-se em Brasília de 6 a 9 de maio, abordando como tema principal a “Emergência Climática e o Desafio da Transformação Ecológica”. A Mitigação, Adaptação e preparação para os Desastres, Justiça Climática, Transformação Ecológica, Governança e Educação ambiental constituem os cinco eixos temáticos desta Conferência.
Dos 5.570 municípios do Brasil, a maioria (66%) tem capacidade baixa ou muito baixa de lidar com eventos extremos e enfrentar a gestão de desastres. Essa é uma das questões que a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente precisa enfrentar: como aumentar a capacidade de prevenção e adaptação dos municípios às mudanças climáticas?
De 21 a 25 de julho de 2025 será realizado o VIII Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa, em Manaus, no Brasil, contando com o financiamento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Os eixos temáticos do Congresso serão: Educação Ambiental e Desenvolvimento Humano: os Direitos Fundamentais; Educação Ambiental e Justiça Climática Global e Local; Educação Ambiental no Sistema Educativo e Diálogos Intergeracionais; Educação Ambiental e Respostas Sociais e Ambientais como: sociobiodiversidade, ancestralidade, comunidades tradicionais e grupos em situação de invisibilidade e vulnerabilidade.
Os eixos temáticos da 5ª Conferência e do VIII Congresso evidenciam o quando a Educação Climática Ambiental é ferramenta fundamental para promover mobilizações e engajamentos sociais, ampliando capacidades coletivas no campo e nas cidades, assim como a própria consciência ecológica da população, no sentido de compreendermos a crise climática, ambiental e civilizatória que vivemos. Inclusive, buscando promover a cidadania ambiental e o controle social sobre as políticas públicas.
A COP-30, agendada para ser realizada em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro de 2025, tem como grande missão fortalecer as ações e compromissos globais frente à emergência climática. Este encontro internacional será crucial para os esforços de limitar o aquecimento global a no máximo 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, um limiar considerado vital para prevenir os efeitos mais catastróficos das mudanças climáticas.
Entre os temas serão abordados a Redução de emissões de gases de efeito estufa; Adaptação às crises climáticas; Financiamento climático para países em desenvolvimento; Tecnologias de energia renovável e biodiversidade; Justiça Climática e os impactos socias das transformações climáticas.
A Educação Ambiental (EA) não é um tema novo nem está superado. No ano de 1972, portanto, há 53 anos, ela ganha status de assunto oficial durante a “Primeira Conferência das nações Unidas sobre Meio Ambiente” em Estocolmo. Segundo a recomendação número 96 da Declaração de Estocolmo, a EA tem uma importância estratégica na construção da qualidade de vida.
Já a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental de Tibilisi, realizada na Georgia, ex-URSS, em 1977, reafirmou e reforçou a necessidade de serem considerados os aspectos sociais, econômicos, culturais, políticos, educacionais e éticos nos debates das questões ambientais.
Porém, no Brasil, segundo os estudos de Mauro Grün (2012), a EA é uma área de afetada pelo silêncio, de “esquecimento” proposital, com dimensão histórica e de impacto social. Este silêncio dos sistemas de ensino, das instituições de ensino e dos gestores educacionais a joga na invisibilidade e ausência no curricular escolar e acadêmico.
As reformas educacionais da última década (2015-2025), especialmente na Educação Básica (BNCC, reforma do Novo Ensino Médio, Diretrizes de Formação de Professores), nenhuma relevância ou prioridade lhe atribuem. A legislação de EA vigente é ignorada e as políticas e programas descontinuados e pontuais.
A degradação ambiental tem atingido níveis jamais vistos e imaginados.
Vivemos uma crise sem precedentes na história a humanidade. Faz-se urgente, portanto, uma revisão da atuação humana com relação a natureza. A Educação Ambiental, neste contexto de crise climática, é uma questão civilizatória, política, ética e, talvez, a última esperança.
Para Hans Jonas (2013), as leis da natureza não têm impedido que nas últimas décadas o ser humano tivesse exterminado inumeráveis espécies animais e vegetais. E questiona o pensador alemão: Que consolo podem nos oferecer as leis da natureza para a conservação de nossa própria espécie?
Na perspectiva da nossa Responsabilidade Ética Hans Jonas entende como algo que está vinculado às questões valorativas. “[…] é o cuidado reconhecido como obrigação em relação a um outro ser, que se torna ‘preocupação’ quando há uma ameaça à sua vulnerabilidade”. Não se trata de algo que é um bem para o ego, mas um bem comum, para todos e intergeracional.
Considerando que a transformação humana não é apenas moldada pela natureza, mas é influenciado pela tecnologia, com a ajuda da engenharia genética, da inteligência artificial e da exploração espacial, a nossa espécie está a entrar numa era onde a evolução pode já não ser puramente biológica e, a técnica, está a transformar este ser humano em seu objeto. É sobre este ser humano que repousa a responsabilidade ética com o meio ambiente, as diversas especiais, sobre as atuais e futuras gerações de seres vivos neste planeta.
Diante desce contexto, Peter Singer (2002) acrescenta que “nossa posição traça os limites das considerações morais que dizem respeito a todas as criaturas sencientes, mas deixa os outros seres fora desses limites”. É pergunta: “tenho este direito?” Por isso, é necessário compreender que a ameaça poderá privar as futuras gerações de conhecer e apreciar a diversidade natural que está ao seu redor.
A questão ambiental implica em problemáticas sociais bastante complexas e urgentes.
É fundamental pensar soluções para transformar a maneira como nos relacionamos com o planeta. As infâncias estão intrinsecamente ligadas às mudanças que a sociedade está vivenciando. É preciso reconhecer que crianças e jovens não são meras espectadoras dos acontecimentos. Promover um sentir e pensar relacionados às ideias para adiar o fim do mundo (Krenak, 2019) é mostrar caminhos alternativos para o viver.
Referência
GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. 14ª edição – Campinas: SP; Papirus, 2012;
JONAS, Hans. Técnica, Medicina e Ética: sobre a prática do princípio da responsabilidade. Tradução do Grupo de Trabalho Hans Jonas da ANPOF. – São Paulo: Paulus, 2013.
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Tradução: Marijane Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto : ed. PUC-Rio, 2006.
KRENAK, Airton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1ª edição, – São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
SINGER, Peter. O meio Ambiente. Ética Prática. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Não tenho palavras para agradecer a comenda e a acolhida que sempre tive aqui na Academia Passo-Fundense de Letras. Estou feliz por estar entre bons amigos.
Como sou contador de histórias, devo me apresentar contando uma.
Eu sofria a influência dos textos de Jorge Luís Borges. Em “Evaristo Carriego”, ele escrevera que ser pobre implica posse mais imediata da realidade: “Um choque com o primeiro gosto áspero das coisas”. Quem não é pobre não tem esse conhecimento, “como se tudo lhes chegasse filtrado”.
Realizava uma pesquisa na vila Maria da Conceição (Maria Degolada) em Porto Alegre, sobre gravidez indesejada com a orientação do Professor Aristides Cordioli. Dei-me ao trabalho de passar de casa em casa e encontrei trinta mulheres grávidas. Por sinal, 76,6% dessas gestantes não desejavam ter engravidado. Nessa imersão na vila, achei adequado conhecer mais profundamente a vida de quem lá morava: “o gosto áspero das coisas”. Sem filtros. Visitei terreiros e um bar, no qual só fui duas vezes, ambas no final da tarde.
Na primeira vez, sentei-me em uma mesa próxima da porta, talvez por receio. Começou a chover e a ventar e a porta foi fechada. Os poucos frequentadores estranharam quando pedi um guaraná. Logo voltaram às suas conversas e me ignoraram, a não ser no momento em que um homem vindo da chuva abriu a porta com tamanha força que ela foi de encontro ao meu braço direito e me fez derrubar meu copo, que se quebrou. Aquele que me parecia o dono do estabelecimento exigiu do novo frequentador o pagamento do copo quebrado.
Gerou-se uma certa polêmica, o culpado bem podia ser aquele que não soube segurar o copo com firmeza. Adiantei-me, afirmando que eu pagaria o guaraná e o copo. E assim o fiz.
Deixei o bar e mergulhei na chuva e no vento. Estava frustrado. Talvez imaginasse, como Borges nos bares da periferia de Buenos Aires, ser testemunha de ocorrências pesadas. Ninguém pegou o vidro quebrado e usou-o como arma, não vi, como nos contos de Borges, nenhuma luta de punhal contra punhal. Não fui ameaçado nem nada. Pior, fui ignorado.
Passados alguns dias, retornei ao bar. As poucas mesas estavam ocupadas, em apenas uma havia um só frequentador, o qual me chamou. Sentei-me e ele disse que era morador da vila, funcionário do Hospital Psiquiátrico São Pedro, e que sabia que eu trabalhava lá como médico.
Não cheguei a pedir nada para beber, pois segui de imediato seu conselho: uma coisa era um médico entrar na casa deles para “interrogar” suas mulheres, outra coisa era um cara que eles encontravam no bar fazer isso: “Não vão gostar, e aí…”. Quando me disse os anos em que morava na vila, acreditei: agradeci, levantei e fui embora.
Já estava quase concluindo minha pesquisa quando, ao passar pela frente do bar, ouvi de um homem que estava na porta: “E aí, doutor?! Não vai chegar? Pago um liso e você me diz o que a minha mulher contou!”.
Como jamais eu iria contar e como sua sobrancelha escura parecia pintada com tinta, acelerei o passo, quase corri.
Tempos depois, li de Borges: “Fermín… Fermín nunca me perdoou por ter sido testemunha de sua frouxidão”.
Da minha frouxidão não houve testemunha e eu a escondi dos colegas e amigos da época. Não queria ao encontrá-los ouvir algo do tipo “aí vem o pesquisador cagalhão”.
O fato é que na minha vida sempre estive na companhia de bons escritores. Eles sempre me ajudaram a aliviar e não a me causar medos. Pensando bem… nem sempre.
Em um dos primeiros livros que tentei ler na infância, havia um conto com o título: “Um longo grito irrompe do túmulo”. A história me fascinava, começava a ler e, tomado por medo, não conseguia ir até o fim. Mas gostava demais de recomeçar mesmo sabendo que nunca conseguiria ir até o fim. De fato, nunca consegui.
Depois, não mais encontrei esse texto.
Se alguém dos presentes tem consigo “Um longo grito irrompe do túmulo”, não me empreste. Não vai adiantar me emprestar… eu não vou conseguir ler até o fim.
Mas é fato que na minha vida sempre estive na companhia de bons escritores. Vou relatar uma passagem dela e junto com ela vem… no caso presente… Jorge Luis Borges.
***
Com certeza, de agora em diante terei também a companhia de SANTE UBERTO BARBIERI.
Vai se somar a boa companhia que tenho de meus amigos da Academia. Aos quais quero agradecer por esta exagerada homenagem. Homenagem memorosa, inolvidável e forte.
Meu muito, muitíssimo obrigado. E um… um abração!
Na última sexta-feira, 4 de abril, a Academia Passo-Fundense de Letras realizou a Sessão Solene de Abertura do Ano Acadêmico de 2025, marcando também a comemoração do seu 87º aniversário. O evento, realizado na sede da instituição, reuniu acadêmicos, autoridades, convidados e membros da comunidade em uma noite repleta de emoção, cultura e reconhecimento.
A solenidade teve como destaque a outorga do “Mérito Cultural Sante Uberto Barbieri” ao psiquiatra, escritor e cineasta Dr. Jorge Alberto Salton, em reconhecimento à sua relevante contribuição à cultura local. Também foi concedida a primeira “Medalha de Excelência Acadêmica Delma Rosendo Gehm” ao professor e pesquisador Agostinho Both, por sua trajetória acadêmica e dedicação aos projetos da APLetras.
O importante é que se consiga combater a retórica do ódio, cuja intenção inicial é eliminar simbolicamente o inimigo. Sem esse interdito, a retórica será substituída pela prática, pela ação eliminadora dos que se interpõem aos objetivos dos que têm sede de domínio e de poder.
A quem servem as manifestações de ódio, discriminações e preconceitos? Quem lucra com a guerra cultural? Será que as pessoas imaginam estarem auxiliando nas mudanças sociais, destilando ódio, manifestações racistas e preconceitos de gênero? Atitudes deste tipo assemelham-se às águas poluídas, que transitam pelos corredores do convívio social, produzindo doenças e destruições.
Não é produzindo discursos falsos e raivosos, detratando pessoas, desrespeitando os poderes constituídos da República, que a Democracia irá avançar. Ambas, República e Democracia precisam de pessoas envolvidas com sua afirmação e legitimidade, de modo que seja possível o convívio com as diferenças entre os protagonistas no exercício dos poderes, a partir dos parâmetros da justiça, fundamentos da liberdade ética.
O direito à crítica é fundamental e deve ser garantido, tanto quanto a liberdade de pensamento. O que não se pode confundir, no exercício da liberdade de pensamento e de expressão, é o uso de recursos violentos, traduzidos em despejo de impropérios, calúnias, difamações, chegando à elaboração de planos para eliminar adversários, uma vez que não houve êxito em vencê-los.
Qual é o limite do ódio? Da intolerância? Do preconceito? Tem limite tudo isso? Ou, chegou-se a um momento, cujo desejo de poder e de domínio tangencia o perigo vulcânico, cujas lavas queimam tudo ao redor, resultando em destruições?
Que resultará do discurso de ódio, pronunciado para mobilizar as massas, conduzidas como rebanho? Um país melhor? Uma pátria livre? Ou, escolheu-se viver, como se a esfera pública fosse um grande ringue, em que se estuda o próximo assalto para aniquilar o adversário? Embora saiba-se que até mesmo o ringue tem suas regras e o juiz ali está para evitar excessos entre os lutadores, não permitindo aniquilamento final.
O importante é que se consiga combater a retórica do ódio, cuja intenção inicial é eliminar simbolicamente o inimigo. Sem esse interdito, a retórica será substituída pela prática, pela ação eliminadora dos que se interpõem aos objetivos dos que têm sede de domínio e de poder.
Será preciso analisar os acontecimentos com a serenidade, a lucidez e a justiça necessárias, para que se possa chegar a uma equilibrada avaliação dos personagens e de seus atos, que prejudicaram a Nação. Importa tomar decisões com base nos valores democráticos, garantidos pela Constituição.
A distinção que, ultimamente, tem ocupado minha mente, se dá entre o meio ambiente e os animais. A confusão entre os dois ocorre, até mesmo, em mentes brilhantes e sensibilidades apuradas como é o caso do Papa Francisco que, na encíclica Laudato Si’, fala em crise socioambiental, dando a entender que os animais são meio ambiente e que, portanto, são parte dos recursos naturais ao nosso dispor. Mesmo que o Papa diga que devemos ser responsáveis com o meio ambiente, pois dele dependemos, mesmo assim, a falta de distinção é altamente prejudicial aos animais que merecem um tratamento diferente do que é dispensado a uma pedra, uma estalactite, uma árvore, uma floresta ou a qualquer outro recurso natural.
Um pequeno erro no início de uma construção, diziam os filósofos medievais, redunda em um desastre no final. É preciso consertar na origem, no DNA da nossa inteligência, se almejamos uma prática coerente e correspondente que faça justiça aos animais.
O meio ambiente não se move, não anda, não voa, não corre, não brinca, não sofre e não se alegra. O meio ambiente não tem expectativas, não tem desejos e não sofre frustrações. Meio ambiente é a paisagem que vemos, cheiramos, tocamos, pisamos, transformamos e modificamos pela ação do trabalho. Meio ambiente é a natureza em estado puro, sem sangue. Meio ambiente são os rios, as florestas, as montanhas, as planícies, os minerais, os vegetais. Meio ambiente é a terra e tudo que ela encerra. O meio ambiente é o mundo das coisas e das paisagens.
Os animais, por sua vez, são a terra que anda, respira, tem interesses, sente frio, calor, sofre e se alegra. Os animais não são coisas. Os animais são alguém. Alguns, até, tem nome…Os animais não são recursos naturais, são seres que interagem com a terra, o ar, com o clima, com o meio ambiente, enfim. Os animais, pelo menos os mamíferos, aves e peixes, estão mais para pessoas do que para coisas e recursos ao dispor dos humanos.
Uma pedra não tem mundo e não tem interesse de estar onde está e não deseja estar em outro lugar, tampouco. Uma árvore mistura-se e confunde-se ao lugar em que suas raízes se instalam. Não importa qual seja esse lugar. Se não tiver sorte de estar em terra boa ou em meio ambiente agradável, não faz a menor diferença. Nenhuma árvore tem frustração por não estar num lugar melhor e em condições melhores para viver. A árvore é uma extensão do meio ambiente. A árvore é meio ambiente. Nisso em nada a diminui e nós, humanos éticos, devemos fazer de tudo para cuidá-la, protegê-la e preservá-la. É bom para o ecossistema e é bom para nós.
Agora, animal não. Animal é outra coisa. Animal é pulsão. Animal é coração. Animal é cérebro. Animal é pulmão. Animal é pernas. Animal é asas para voar. Animal é intestinos. Animal é medo. Animal é prazer. Animal é dor. Animal é festa. Animal é convívio. Animal é comunicação. Animal é interação. Animal é senciência. Animal é olho. Animal é ouvido. Animal é atenção. Animal é fuga. Animal é espera. Animal é ansiedade. Animal é indivíduo.
Animal é igual a humano. O humano somos animais. Humanos e animais não humanos somos indivíduos e valemos por nós mesmos individualmente e não como membros de uma espécie. Cada indivíduo tem dignidade e valor em si. Uma pessoa humana não deve ser meio para nada…. Então, por que engaiolá-los? Por que enjaulá-los? Por que causar tanta dor e sofrimento? E por que matá-los? Por quê? Por que? Por que?
Pergunto-me se, no fim das contas, a ignorância não seria mesmo uma bênção. O conhecimento liberta, mas também dilacera. Ele não vem apenas com asas, mas com espinhos.
Acordar dói. Mas dormir pode matar.
Quantos de nós, embrulhados no conforto pegajoso da ignorância, preferimos o abraço sufocante das mentiras ao grito áspero da verdade? Até quando vamos fingir que não vemos? Que não sabemos? Que não ouvimos os gemidos do mundo despedaçando-se à nossa volta?
Há uma violência brutal na lucidez. Ela rasga véus, incinera ídolos, expõe as costuras podres da realidade. Mas será que temos estômago para digerir o que descobrimos? Ou vamos, como crianças assustadas, cobrir os olhos e gritar até que o pesadelo passe?
A verdade não pede licença. Ela invade. Escancara. Arranca máscaras. E aí, quando nos vemos nus diante do espelho, resta a pergunta mais cruel: “E agora, o que você faz com isso?”
Alguns preferem a anestesia do “não sabia”, do “não foi assim”, do “isso não é comigo”. Mas a verdade não some só porque viramos as costas. Ela fica ali, latejando, como um dente cariado que recusamos a extrair. Até que um dia, a infecção se espalha.
E você? Quantos espelhos já quebrou para não encarar seu próprio rosto? Quantas vozes abafou para não ouvir o que não queria? Quantas vezes trocou a libertação dolorosa pela prisão aconchegante da mentira?
A ignorância é uma cela com paredes macias. Você até pode bater e achar que está livre—mas ainda é um prisioneiro.
E quando a verdade finalmente vier—e ela virá—você vai engolir em seco, fingir que sempre soube, ou vai ter coragem de assumir que preferia o escuro?
Porque a verdade não machuca. O que machuca é o golpe de descobrir que você mesmo ajudou a construir as correntes que agora lhe apertam o pulso.
Então, antes de perguntar “quanta verdade somos capazes de suportar?”, responda: quanto de mentira você ainda consegue carregar sem desmoronar?
Quão frustrante e angustiante é perceber que as pessoas à nossa volta estão adormecidas e não logramos despertá-las. Algumas porque não querem. Outras porque simplesmente não podem. Estão presas a uma espécie de hibernação existencial, atravessando a vida como sonâmbulos, sem notar as engrenagens ocultas que movem o mundo.
Sentimo-nos sozinhos nessa vigília incômoda. Como canta Renato Russo em Monte Castelo: “Estou acordado e todos dormem.” Mas será que vale a pena tentar despertá-los? E se, ao invés de gratidão, recebermos ódio?
Pergunto-me se, no fim das contas, a ignorância não seria mesmo uma bênção. O conhecimento liberta, mas também dilacera. Ele não vem apenas com asas, mas com espinhos. Quantas dores evitaríamos se simplesmente fechássemos os olhos? Mas, ao mesmo tempo, qual o preço de permanecer cego?
Se a verdade tem o poder de nos libertar, a ignorância nos acorrenta. Mas eis a grande questão: quanto de verdade somos realmente capazes de suportar?
Um doente terminal tem o direito de saber que está morrendo? Ou seria mais justo poupá-lo dessa verdade cruel? A ignorância não elimina o sofrimento—apenas posterga a preocupação. A dor vem de qualquer jeito. O que muda é se estamos prontos para enfrentá-la.
Somos como crianças que se esticam no banco traseiro do carro e dormem tranquilas, confiando cegamente na destreza do pai ao volante.
Eu mesmo já fui assim. Dormia sem medo em qualquer viagem—de carro, de ônibus, de avião. Até que, certa madrugada, enquanto cruzávamos a estrada entre o Rio e Brasília, a realidade me arrancou desse sono ingênuo. Um boi surgiu no meio da pista. Meu primo, ao volante, tentou desviar, e o carro acabou avançando mata adentro, parando a poucos metros de uma enorme pedra. Por um triz, não morremos ali. Desde então, nunca mais consegui dormir em viagem. Em vez de fechar os olhos e confiar, prefiro me manter desperto, atento à paisagem e aos perigos ocultos no caminho.
Alguns, mesmo quando sacudidos pela verdade, insistem em pedir “só mais cinco minutinhos.” E assim adiam o inevitável. Quando finalmente despertam, o dia já se foi. O ano passou. A década escorreu pelos dedos. E, sem perceber, dormiram a vida inteira.
Se ninguém acordar, quem avisará os demais passageiros do perigo iminente? Quem os preparará para enfrentar os desafios que o futuro impiedosamente trará?
Se a ignorância for uma bênção, então que eu carregue o peso da maldição do conhecimento. Prefiro a dor da verdade ao conforto da ilusão. Se for atingido, quero saber exatamente o que me atingiu e o que poderia ter feito para evitar. Não quero véus, eufemismos ou falsas seguranças.
Não me esconda nada. Deixe que eu mesmo decida como lidar com a verdade, por mais amarga que seja.
Mas antes de sair por aí despertando quem dorme, lembre-se: nem todo mundo quer acordar. E alguns não apenas resistirão—mas odiarão quem os arrancou do sono.
Pergunte-se: você está pronto para lidar com a ingratidão de quem preferiria continuar sonhando?
Autor: Hermes C. Fernandes (Trecho no meu novo livro “Pegos na Mentira”, disponível na A m a z o n). Também escreveu e publicou no site “Do que você jamais deveria se arrepender”: www.neipies.com/do-que-voce-jamais-deveria-se-arrepender/
Escrevo porque me inquieta o retrocesso da Igreja Católica, a perda do profetismo de nossos pastores, o esvaziamento de nossas paróquias, essa nova geração de seminaristas e padres apegada à batina, aos símbolos religiosos, às imagens sacras. Sacerdotes próximos às classes média e rica, mas distante dos excluídos e vulneráveis, apegados ao conforto e à acumulação de bens.
Eminências: O catolicismo era no Brasil a confissão religiosa majoritária na década de 1950, abraçada por 93,5% da população (IBGE). No censo de 2010, declararam-se católicos 64,6% da população. Os evangélicos, 30%. Em 2030, segundo prognósticos, os católicos serão de 35 a 40% da população e os evangélicos, de 38 a 40%. Enquanto os católicos declinam 1 ponto percentual ao ano, os evangélicos crescem na mesma proporção.
Por que o catolicismo retrocede? São várias as razões. A hierarquia católica cometeu dois pecados capitais nos últimos 60 anos: fragilizou o apoio às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), o movimento eclesial mais expressivo da história da Igreja no Brasil e de maior capilaridade nacional.
Mas o 1° pecado foi, após o golpe militar de 1964, levar a Ação Católica à agonia e morte. Onde se encontra hoje o laicato participativo, crítico, apostolicamente ativo entre operários, universitários e intelectuais? Aliás, nossas universidades católicas evangelizam? Em muitas delas se formaram notórios políticos corruptos e legitimadores da opressão social.
De fato, o clero sempre temeu o protagonismo dos leigos. Devem ser apenas cordeiros, cuja lã serve para ser tosquiada pelos pastores, como declarou o papa Inocêncio III. Por que, em nossas missas dominicais em paróquias de classe média, os patrões comparecem, mas seus empregados (cozinheiras, faxineiras, porteiros de prédios, etc.) vão para a Igreja evangélica?
Diz-se que a Igreja Católica fez opção pelos pobres, e os pobres, pelas Igrejas evangélicas…
Aponto algumas causas da redução de nossa grei. Uma delas, com frequência denunciada pelo Papa Francisco, é o clericalismo. Vide uma missa dominical. Tudo centrado na figura do sacerdote.
Quando muito, um leigo ou leiga lê um dos textos litúrgicos. Os fiéis ignoram uns aos outros. No “abraço da paz” saúdam os vizinhos de banco sem sequer perguntar pelos nomes deles. Na hora da homilia, por vezes suportam a pregação aborrecida de um celebrante que nunca fez curso de oratória, não tem conteúdo (não lê e teve formação medíocre em Filosofia e Teologia) e adota um discurso moralista. Procura se salvar com evocações emotivas porque não sabe como abastecer “as razões de nossa esperança”.
Sei que a maioria dos senhores jamais participou de um culto evangélico. Nosso ecumenismo não ultrapassa os limites de algumas Igrejas protestantes históricas. O que é uma lástima.
Os seminaristas não são incentivados a abraçar o diálogo interreligioso e, em geral, têm visão preconceituosa das outras confissões religiosas. O que sabem de nossas religiões indígenas? Alguma vez foram a um terreiro de candomblé ou umbanda? Ou a um centro espírita? A maioria ignora as matrizes da religiosidade brasileira.
Se os senhores bispos fossem a um culto evangélico veriam os motivos do crescimento exponencial desse segmento cristão.
Há cultos que duram duas ou três horas sem aborrecer os fiéis, ao contrário de muitas de nossas missas. Sabem por quê? Porque os fiéis têm participação ativa. Dão testemunhos de vida, vídeos atrativos são exibidos, os músicos e cantores aprimoram seus talentos, há escolas bíblicas.
Os fiéis se conhecem pelo nome, o aniversário de cada um é comemorado em comunidade, há forte corrente de entreajuda (um dentista ou médico atende irmãos e irmãs). Ali as pessoas não são anônimas; ganham autoestima. Um cuida de arrumar emprego para o outro. Há entre eles forte vínculo afetivo. E a pauta de costumes leva-os a conhecer a prosperidade, pois abandonam os vícios, e assim aumentam a poupança familiar.
Não me sinto afinado com a teologia da maioria das Igrejas evangélicas, porque enfatizam mais o Antigo que o Novo Testamento; o diabo mais que Deus; o Deus da punição mais que o Deus do amor; o pecado mais que a graça. E muitas Igrejas estão politicamente alinhadas ao conservadorismo, à naturalização da desigualdade social, à exaltação das riquezas. Incutem nos fiéis a “servidão voluntária”. Fazem uma leitura equivocada da Bíblia ao retirar o texto do contexto, como também acontece entre nós, católicos. Porém, conseguem criar forte senso de pertença e comunidade, imprimindo sentido à vida de todos.
Não escrevo aos senhores para suscitar espírito de competição entre Igrejas. Temos muito a aprender com nossos irmãos evangélicos. Escrevo porque me inquieta o retrocesso da Igreja Católica, a perda do profetismo de nossos pastores, o esvaziamento de nossas paróquias, essa nova geração de seminaristas e padres apegada à batina, aos símbolos religiosos, às imagens sacras. Sacerdotes próximos às classes média e rica, mas distante dos excluídos e vulneráveis, apegados ao conforto e à acumulação de bens.
Escrevo porque sinto que Francisco, como João Batista, é um papa que clama no deserto…
Será que dentro da Igreja Católica ainda há salvação para o Evangelho de Jesus?
Deus nos encoraje e ilumine!
Autor: Frei Betto escritor, autor de “Jesus Rebelde” (Vozes), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org Assine e receba todos os artigos do autor: mhgpal@gmail.com
Uma mancha em minha pele poderia ser indício de uma doença grave! Desde Platão, passando pelo cristianismo, as palavras são dotadas de grande poder. Cuidemo-nos! Adoecer também é um aprendizado!
Especificamente, algumas palavras, a exemplo da referida para qualificar uma hipótese de doença grave, que poderia destruir meu corpo, são carregadas de poder emocional e material. Em linguagem da ciência quântica, do século XXI, com a qual eu compactuo e reproduzo, as palavras têm energia. Eu Acredito!
Mesmo orientado a rejeitar e negar algumas palavras, me senti obrigado a procurar o Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer um diagnóstico. Fui no Cais da Petrópolis e, após transcorridos seis meses, fui chamado no Cais da Vila Luiza (Passo Fundo- RS).
Vale registrar que na minha condição de professor da rede pública do estado, além do SUS, pago um plano de saúde (IPE), denominado de regime próprio, no qual está incluído atendimento de profissionais e instituições vinculadas com saúde/doença, mas que apresenta restrições de profissionais para o atendimento e realização de diagnósticos, no caso de doenças de pele (dermatologistas).
Com a lentidão, mais de doze meses esperando pelo diagnóstico do SUS e a pressão causada pela hipótese de gravidade da possível doença, concordei em pagar consulta particular.
A primeira consulta resultou no encaminhamento para nova consulta. O pagamento da nova consulta, resultou no encaminhamento para uma consulta, com um cirurgião. Marquei e paguei uma nova consulta que indicou encaminhamento para um exame cirúrgico, que apresentou, após repetição de exames, a hipótese com laudo positivo.
Com a hipótese laudada, fui “embretado” a aceitar uma nova cirurgia, altamente agressiva, para averiguar se a doença, além da pele, não estava alastrada em outros órgãos do meu “templo sagrado” (alguém está interessado em saber quanto eu paguei pela cirurgia?). Pois então…
Me senti sem opção, paguei, mesmo sendo um negacionista (em muitos aspectos da existência).
Admito, por exemplo, que sou um negacionista da epistemologia “cartesiana dualista materialista reducionista”, mas não tive convicção para negar a importância de um novo exame cirúrgico, que agrediu profundamente minha pele e sistema nervoso do meu braço, incluindo a extração das minhas glândulas linfáticas sentinelas, antecedidas pela introdução de fármacos radiológicos (por óbvio agressivos) de alto valor financeiro, situadas entre meu braço e minha caixa toráxica.
Por fim, cabe informar que a cirurgia, antecedida por uma anestesia geral, foi agressiva, maior do que estava registrada na minha imaginação, pois eliminou uma grande área da pele, com uma profundidade que atingiu terminações nervosas periféricas, bem como a destruição de glândulas sentinelas, localizadas entre o braço e a caixa toráxica.
Os exames realizados a partir da segunda intervenção cirúrgica, para a extração de glândula sentinela, comprovaram que a “hipótese da doença” roubou uma parte preciosa do meu “templo sagrado”, mas comprovou, também, que a referida não foi além da pele!