Ah, a etiqueta das redes sociais! Que complicada de se entender. Quanto mais a gente tenta colaborar, parece que mais piora.
Ultimamente, temos passado mais tempo no convívio social cibernético do que no convívio social pessoal. Aqui adivinhamos emoções, não há toque, não há olhares silenciosos cheios de significados, não há presença, não há corpo. Há apenas o teclado, o mouse, a tela, o curtir, ou compartilhar, o tweetar, retweetar, participar, excluir, bloquear, responder, perguntar.
Apesar de serem espaços sociais diferentes, igualmente vale a etiqueta que aprendemos em casa antes de sair para o mundo. Todos têm suas manias, receios, ideias, caráter, costumes e essa coisa toda, mas todos devem ser, acima de tudo, RESPEITADOS. Assim como há aquele que nunca postam nada, existe a menina que se expõe demais, para ela, pode não ser exagero, mas para os outros, sim.
Vale o mesmo para caso inverso: existem pessoas sem noção de ambos os sexos, ignorem as estatísticas. Não tem essa de mulher trair menos, homem é mais cafajeste. Aqui é todo mundo igual. Junta a quantidade de gente sem noção, de puritanos, de revolucionários, de revoltados, de ignorantes e de ignorados. Cada um tem algo a dizer, sempre.
Na realidade, o chato começa quando um reclama de algo, daí aparece o fulano reclamando do que o ciclano está reclamando, e um monte de gente começa a reclamar dos dois que estão reclamando, uns começam a reclamar dos outros, e daí já aparecem outros status reclamando… e eu estou reclamando dessa gente que, como eu, só reclama e não faz nada.
Vamos trocar ideias? Porque reclamar não acrescenta em nada, só desabafa e daqui a pouco o vazio do desabafo vira mais reclamação, chateação e falta do que fazer.
Mas aparece um ser reclamando daquele que posta algo produtivo, que reclama daquele que não posta algo produtivo, segue reclamando, e assim por diante.
Ah, a etiqueta das redes sociais! Que complicada de se entender. Quanto mais a gente tenta colaborar, parece que mais piora. Pedir perguntas no Ask não significa se expor totalmente, compartilhar no Facebook não significa que concorda plena e totalmente com o que está escrito (todos têm o direito de achar legal, simplesmente), curtir não significa “dar em cima” e assim por diante.
Temos de entender que, assim como temos nossas preferências e manias, também há pessoas com suas particularidades, ter uma rede social não significa mostrar sua intimidade para o mundo. Ninguém é obrigado a nada.
E sabe o que é uma boa etiqueta, um comportamento muito refinado? Educação. Sim, apreciam-se a boa educação, o respeito e a igualdade. Isso faz falta. Assim como faz falta um bom diálogo frente a frente e sair para dar uma pedalada num dia de sol. Pense nisso!
Proposta de Atividade Pedagógica – componente curricular Filosofia
Esta atividade destina-se a estudantes de oitavos e nonos anos do Ensino Fundamental ou estudantes do Ensino Médio.
Segue, como sugestão de aprofundamento desta temática, a realização de uma atividade individual, seguida de um diálogo com a turma de estudantes (de preferência em círculo) sobre como os mesmos utilizam suas redes sociais e como poderiam aperfeiçoar o uso das mesmas para uma melhor comunicação e convivência em sociedade.
Questões que podem fomentar a discussão, de forma individual:
1. Enumere pontos positivos que as novas tecnologias proporcionam no dia a dia. Além de enumerar, justifique.
2- Na sua opinião, as redes sociais possuem mais pontos positivos ou negativos? Por quê?
3- Porque a palavra “respeitados ” foi escrita de forma diferente no texto?
Habilidades que podem ser trabalhadas nesta atividade:
(EF08FL01PF04) Analisar e compreender a relação dos jovens com as mídias, grupos sociais;
(EF09FL04PF02) Analisar temas e problemas que envolvem a vida cotidiana do adolescente;
(EF09FL01PF01) Compreender o ser humano como ser individual, social e cultural que se modifica na sua ação;
Conheça também: Roteiro com conteúdo de apoio que conecta Filosofia e Cultura Digital no combate ao Bullying e Cyberbullying. Trata-se de uma oportunidade para gerar percepções valiosas e promover mudanças positivas na forma como interagimos com os outros e nos comportamos no mundo digital.
“Nenhum casamento é suportável se as pessoas não se modificam, não mudam. Por isso, case-se várias vezes, de preferência com a mesma pessoa”.
A necessidade renovação, transformação e mudança para se adaptar às distintas fases da vida, em especial no que diz respeito à vida amorosa, é um dos mais antigos axiomas sobre os casamentos. Afinal, quando casamos com alguém certamente esta pessoa se transformará em outras pessoas dentro daquele mesmo sujeito; igualmente quando nos separamos esta será uma pessoa muito distinta daquela com quem iniciamos uma jornada de casal. Portanto, a mudança é mandatória.
Nada há de novo nestes conselhos, inclusive a ideia de “casar muitas vezes” com o mesmo parceiro. A questão é que esta perspectiva sobre as uniões parte de uma visão rígida sobre o casamento, tratando-o como se fosse um evento social sagrado e por demais precioso, que precisa ser preservado a todo custo.
É inegável a importância que as civilizações emprestaram à união dos casais, pois que o reconhecimento do Estado garantia compromissos de cuidado por parte dos maridos, e de fertilidade e fidelidade por parte das esposas. Estes são, sem dúvida alguma, valores primordiais, essenciais para a sobrevivência de qualquer grupo. Não seria possível a grande revolução da agricultura e do sedentarismo ocorrida no paleolítico superior não fosse a adoção destas medidas de controle social.
Não à toa, as uniões de casais são descritas como o ápice e o centro da estrutura social, pela sua importância na continuidade da espécie. Entretanto, é possível que hoje exista um exagero sobre esta forma de ver a vida “a dois”. Talvez a forma como vemos os relacionamentos precise ser refeita.
No ano passado, o número de uniões civis no Japão caiu pela primeira vez desde os anos anteriores a segunda guerra mundial. Ao lado disso, e por consequência, os nascimentos caíram 5.1% , chegando a 758 mil por ano, números que o Instituto Nacional de Pesquisa Populacional e Previdência Social esperavam só ser alcançado em 2035. Ou seja: a baixa de casamentos leva à baixa de natalidade.
A falta de jovens e o envelhecimento da população é um problema grave para a economia de qualquer país. Em 1982, o número de nascimentos no Japão foi de 1,5 milhão, quase o dobro do que se vê agora. A taxa de fertilidade – a média de nascimentos por cada mulher – caiu para 1,3, um valor trágico se levarmos em consideração que a taxa necessária para manter uma população estável; é de 2,1. Os falecimentos ultrapassam os nascimentos por mais de uma década. Assim, no Japão mais pessoas são enterradas do que paridas há mais de 10 anos.
Em uma aldeia japonesa chamada Kawakami não houve o nascimento de nenhuma criança em 25 anos. Esta localidade já teve 6 mil moradores nos anos 80, e hoje não tem mais do que 1.150 habitantes. Será o Japão um fato isolado? Serão os japoneses o tubo de ensaio de uma crise de natalidade grave que atingirá o mundo inteiro?
Talvez o casamento não seja tudo isso. Apesar da importância que ainda vemos neste tipo de união civil – que pode ser medida pelos custos de uma cerimônia para as classes abastadas – é possível que o casamento como o conhecemos, que inclui os filhos, a monogamia, a coabitação, os projetos compartilhados, etc., tenha sido uma moda passageira na história da humanidade, uma forma intermediária para acomodar necessidades específicas, e tão somente um subproduto do patriarcado, criado para manter o controle sobre as mulheres, a procriação e a descendência.
Hoje em dia o casamento é criticado como nunca e duramente questionado sobre seu real valor, e para alguns parece evidente que ele tem seus dias contados por não oferecer aos casais a liberdade e a autonomia que tanto almejam.
A lenta decadência do modelo patriarcal talvez leve consigo alguns elementos que hoje são comuns, mas que talvez se tornem raridade no futuro: as parcerias eternas, os casais de velhinhos e o almoço de domingo na casa dos avós. Quem sabe que tipo de sociedade diferente vai surgir quando desta instituição sobrar apenas uma vaga memória.
Por fim, a questão dos casamentos, seu significado e seu futuro, são determinantes para as sociedades contemporâneas. Por mais que existam questões sobre os valores inseridos no casamento, ainda haverá a necessidade de ajustar os afetos, o desejo sexual e a criação das crianças, fruto destas uniões. Sem a figura do casal heterossexual como a única forma de expressão dessas uniões, como vai ser a construção desta nova sociedade? Sobre quais valores se assentará e como será a arquitetura das famílias do século XXII?
As pessoas da minha geração, em especial aquelas contaminadas pelo romantismo e que nasceram sob a égide da família nuclear, por certo não terão a oportunidade, ou o tempo de vida suficiente, para testemunhar este mundo sem casais e sem juras de amor eterno; não teremos a chance de vivenciar as dores e os sabores deste mundo novo e desafiante. Entretanto, é inevitável a curiosidade em saber se o modelo que virá para garantir o afeto e o cuidado das crianças terá tanto sucesso quanto o amor romântico teve na história do planeta.
O menino de Portinari só foi para a tela porque existia e existe no mundo. Um mundo tão frio que até o sol pode ser confundido com a lua. O menino está só de gente, e não tem rosto. O pior é que tudo está diante de nossos olhos sob a claríssima luminosidade do dia.
Menino do Papagaio foi pintada por Portinari em 1954. Vi a tela original de perto no Museu Ruth Schneider, aqui em Passo Fundo-RS, há muito tempo, em um projeto de interiorização do MARGS-Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Raramente teríamos oportunidade de sentir o cheiro perturbador da tinta, se não fosse esse projeto de arte extra-muros. Ainda não tenho um Portinari na sala da minha casa para ter dispensado esta oportunidade singular.
Menino do Papagaio parece uma mancha de fogo no mar. Também seria possível dizer que o menino de Portinari é uma miragem de sol no deserto. O menino que não tem rosto é o único em cores quentes, rodeado de cores frias. Até mesmo a ovelha que lhe dá aconchego é feita de cores frias. Tudo é árido. Não há uma única planta. Só areia e rochas. Não esperem brotação. O céu está extremamente límpido. Não háverá possibilidade de chuva por muitos dias.
O menino do papagaio é um menino de fogo no meio de um mundo frio. Até o sol é frio. Não lembro de ter visto em outras pinturas um sol tão gelado. Tem gente que diz que o sol de Portinari não é um sol, mas uma lua. Não parece ser razoável. Primeiro, porque a cara do objeto azul no céu azul é de sol e não de lua. Segundo, um menino jamais soltaria papagaio na noite. Outra coisa, as figuras têm sombra refletida no chão de areia. A lua não sabe fazer sombras tão marcantes.
Não há dúvidas que ele está num mundo de cores frias, que tudo é frio; que ele está num deserto, que tudo é árido. Mas não há dúvidas que tudo acontece durante o dia. Então, não pode ser uma lua, embora o sol de Portinari parece não ter luz própria.
O menino está só num mundo de cores frias, no meio de um deserto, com um sol apagado. Este menino não tem rosto e é o único vermelho. De companhia apenas uma ovelhinha. Quem sabe o calor do menino venha dessa ovelhinha, como se fosse o Menino Jesus esquentado no presépio. No mundo frio de Portinari, o menino está só. E não tem rosto. Podendo, portanto, ser qualquer menino ou menina do mundo tentando fazer um papagaio para brincar, um papagaio que também é de um papel extremamente frio.
Poucos entendem a arte. Ou, no máximo, se endinheirados, compram arte pra decorar a sala. Só sabem dizer se combina ou não com o resto dos móveis. Ou dividem tudo em feio e bonito. E o quadro de Portinari está mais pro feio, além de parecer ter sido feito às pressas, sem esmero no acabamento.
Nossos meninos e meninas podem não ver a terra no futuro, por excesso de frio em alguns lugares, por excesso de calor em outros, por desastres climáticos em quase todos os lugares.
O menino de Portinari só foi para a tela porque existia e existe no mundo. Um mundo tão frio que até o sol pode ser confundido com a lua. O menino está só de gente, e não tem rosto. O pior é que tudo está diante de nossos olhos sob a claríssima luminosidade do dia.
Um mundo que elege um mentiroso contumaz, que não acredita nas mudanças do clima, que vê a terra apenas como planeta a ser explorado, escolhe matar meninos e meninas. São escolhas.
Eu estava com a bola do meu time. Ele pediu para olhar. Havia uma parte que a tinta havia descascado. Vendo-a, ele se exasperou: — Você acha que meus atletas vão jogar com bola rachada!
Conheci, pelo Rudi Armin Petry, como era ser dirigente de um grande clube e ter relações educadas, afáveis, amigas com aqueles que labutavam nos clubes pequenos. Lembro-me da vez que fui com meu pai, Wolmar Salton, receber a delegação do Grêmio no nosso aeroporto. Petry fez questão de vir até a cidade no carro do meu pai.
Queria saber das dificuldades de comandar um time do interior como o S.C. Gaúcho. Inspirava amizade, era bom estar com ele. Mesmo que em campo a disputa fosse forte, muito forte, a gentileza, a civilidade nunca foram sequer arranhadas entre ele e meu pai.
Pois, quando chego com a equipe dos meninos de dez anos do S.C. Gaúcho às finais do campeonato estadual da categoria, encontro, como diretor do Grêmio, alguém no mínimo o oposto. Mais que o oposto: assustador.
Tivemos uma reunião no meio do campo antes de a partida iniciar. Ele me disse, de saída, que nossa disputa nem graça teria. O único time que poderia confrontar o Grêmio, “dar jogo”, eram os próprios reservas do Grêmio.
Eu estava com a bola do meu time. Ele pediu para olhar. Havia uma parte que a tinta havia descascado. Vendo-a, ele se exasperou:
— Você acha que meus atletas vão jogar com bola rachada!
Ato contínuo, jogou a bola ao chão com tanta força que ela picou e passou por cima do alambrado. Um dos nossos atletas, menino de dez anos, correu atrás e conseguiu recuperá-la. A nossa bola era mesmo “rachada”, reconheci, mas só por fora.
Como não estava a tratar com um Rudi Amim Petry, preferi ficar calado, aguardar o início do jogo. Se não levássemos uma goleada acachapante, como o diretor assustador havia afirmado que levaríamos, já estava bom.
Havia a nosso favor o fato de nossos meninos terem vencido vários quadrangulares disputados em inúmeras cidades até chegarem à final. Fora uma maratona de jogos vencidos, sempre com placar apertado.
Tínhamos contra nós os poucos recursos, as chuteiras humildes, a torcida composta apenas por três mães – o Grêmio contava com carros, ônibus, charanga – e a bola rachada. Só por fora, mas rachada.
Futebol é futebol: vencemos o jogo por 2 x 1 e conquistamos o título de Campeão Estadual do Rio Grande do Sul. Sim, ganhamos, apesar de tudo. Tivemos de sair de lá fugidos, nosso adversário estava incrédulo e – pior – raivoso.
Acredito firmemente que, vendo aquilo tudo, Rudi Armim Petry torceria por nós.
Em outro ano, com o mesmo grupo de meninos, cruzamos com o Internacional numa semifinal.
Havia uma abertura no alto da parede que separava os dois vestiários. O treinador do Inter falava tão alto que ouvíamos a sua preleção:
—Vocês vão jogar com um time do interior, nem bola direito tem, não tem noção do que é futebol de alto nível como o nosso! No mínimo seis a zero é o que eu espero hoje!
Não me lembro tudo o que ele disse, mas esculhambou com o nosso time. Éramos, segundo ele, do interior do interior. Do mato!
Bem… final do jogo: Gaúcho 2 x 0 no Internacional. Nossos treinadores, Moacir Della Valentina e Adair Bica, aproveitaram a escuta da preleção infeliz para motivar o nosso grupo. A prepotência tira nossos pés do chão…
Felizmente, encontramos “Rudis Amins Petrys” no Grêmio, no Internacional, no Caxias, no Juventude. E boas amizades foram construídas.
O documentário de 98 minutos narra histórias reais de superação e pergunta: “O que é a vida?”. Título da canção-tema de Paulo Reichert e da banda PRR.
Quando não encontrarem filme para assistir à noite, convido-os a darem uma espiada no nosso documentário. Basta entrar no Youtube e escrever: Oito Quatro: a afirmação de uma possibilidade” ou usar o link de acesso: https://youtu.be/ZN1v9rvWMRQ?si=R2Uy9UVH9IAMu705
Em novembro de 2024, a luz é um acordo mundial para terminar com a fome e com as guerras.
As parábolas, metáforas, narrativas ou fábulas são tipos de linguagens que devem ser apresentadas como ferramentas conceituais para a melhor interpretação possível do contexto que estamos vivendo. Qual é o principal assunto, objeto de comentários, neste novembro de 2024? Ouso afirmar para a avaliação de quem está nos lendo que a maior parte do tempo das pessoas é ocupado com temas centrados na própria sobrevivência e na sequência sobre o comportamento dos seus animais de estimação.
A expressão “trabalhar de dia para comer de noite” veio à minha mente, nesse momento, para ilustrar o que tenho observado na parte da minha trajetória que se dedica para interpretar o comportamento. Essa expressão se apresenta como uma metáfora, representando o comportamento predominante na atualidade é uma ferramenta para explicar por que temos dificuldades para distinguir a luz das sombras.
A parábola “Mito da Caverna” é uma história criada por Platão na Idade Antiga para mostrar que as pessoas estavam presas em uma caverna, pois a realidade das sombras é mais cômoda e confortável do que o mundo verdadeiro da luz. Esse aprisionamento se apresenta em correntes que são objetos materiais mas, em uma perspectiva evolutiva, a prisão deixa se ser física e passa a ser mental. Na Idade Moderna, “Matrix” é uma construção mental permanente que impõe uma dissonância cognitiva, na qual a visão das pessoas retrocede a um estágio mental anterior ao descrito no mito da caverna, nos aprisionando ao comportamento instintivo da sobrevivência.
Em novembro de 2024, a luz é um acordo mundial para terminar com a fome e com as guerras. A sombra é saber que estivemos muito próximos de um golpe de estado e de uma guerra civil em 2022 e 2023. A “Matrix” é constatar nas palavras e comportamentos predominantes a centralidade de orientações primitivas e primárias, vinculadas com a própria sobrevivência.
“Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei…porque me arrependo de os haver feito.” (Gênesis 6:7)
Calma ai!
Acredite ou não em Deus, é isso mesmo! Um dia, um pouco distante do tempo em que se chama hoje, Deus se arrependeu feio. Aliás, além se arrepender, disse que ia fazer desaparecer tudo.
Mas voltou atrás.
Foi Noé quem achou graça diante de Deus e o fez mudar de ideia, conforme o Texto Bíblico. E o resto nós sabemos, pois o dilúvio acabou por salvar a todos e, enfim, chegamos até aqui. Mas o estrago foi grande, com violência e matança de toda ordem, por todos, descendentes de Abel ou Caim.
Logo, estamos todos a beira do colapso, pois somos fruto da criação de Deus e do seu arrependimento, igualmente. O que pode ser sido um erro em nos poupar, para céticos e desamparados.
Pensando bem, Deus deve estar perplexo com a nossa capacidade de esfolar e matar. Mata-se Mãe e Pai, mata-se a esposa, filhos e vizinhos. Mata-se a todos e ainda a tudo o que existe ao seu redor. Não há dia em que não se vê a crueldade humana em ação. Não há dia ou noite, em que não nos é oferecida a maldade humana à mesa do jantar, muitas vezes, vendo crianças dilaceradas na banalização de uma mortandade, entre terroristas ou matadores autorizados. Uma guerra sem fim, justamente nas terras onde Noé caminhava.
Mas há outras brigas por aí e o estoque de mísseis não para de crescer. Hoje, é grande o número de vendedores da morte pelo mundo. Que criador teria orgulho desse impulso fraticida?
Mas por que será que Deus se arrependeu de se arrepender?
Não ouvimos ou lemos que tenha se arrependido do resto de sua criação, exceto animais e répteis. O mar, o céu, crisântemos, jasmins, cinamomos e tudo o mais. Isso não! Parece que o que se move é o que destrói.
Ele se arrependeu justamente do homem, de você, de mim, consequentemente. Não gostaria de ser um errante pela Terra, fruto de um Criador que viu em sua frente, o poder da liberdade humana, concedida, para em seguida suspendê-la.
E que tem aquilo, né? Dando as costas, um de seus netos, digamos, Caim, matou de imediato a seu irmão.
_Onde está Abel, seu irmão? Perguntou o Senhor.
_Não sei: acaso sou tutor de meu irmão?
_A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim, disse Deus, resumindo a trágica dualidade de violência combinada, que acompanharia a humanidade para sempre: terra e sangue.
Além de o matar, mentiu! Vemos o primeiro homicídio em curso. E de brutalidade e atrocidade chegamos, enfim, a agressão final; nossa casa.
Todas as razões do paraíso para o Seu arrependimento, portanto. Não só continuamos a nos matar como destruímos o que ele criou. Uma casa que não nos pertence, uma vez que aqui, estamos de passagem. E por estarmos nesta hospedaria, deveríamos pelo menos não destruir o que não é nosso, motivo na qual nascemos, respiramos, dançamos e saímos para trabalhar.
Mas à ira de sua criação não haveremos de escapar. Vale para crentes e incrédulos. Destruindo o nosso meio, ou apenas assistindo e calando, enquanto outros o fazem, haverá um preço. Porque não paramos reclamar do que pode vir!
_Nossa, como tudo está mudando! E é somente o começo.
O fato de crermos ou não, não altera o prato; todos respiramos o mesmo ar, olhamos as mesmas paisagens. E os rios e pássaros que desaparecem a cada dia, diz respeito a todos os nossos amanheceres. Os que defendem a vida e seu esplendor, o meio ambiente ou os indiferentes. Todos molharão seus pés um dia, em todos os dilúvios que virão.
Estamos sentindo apenas o que vem por aí. O paraíso em que vivíamos agora se torna um clima ameaçador. E os tempos nunca mais serão os mesmos. Na Espanha, carros empilhados nos deram um ‘spoiler’ do que chega. Chuvas em horas que deveriam cair em meses. Reis são vaiados e ameaçados em público, algo impensável em alguns anos atrás, eles mesmos, sempre a salvos do banquete da devastação e suas consequências.
Por aqui, vimos o que os rios podem fazer. Cercar a todos até que confessemos nosso ódio à natureza e ao que nos entorna. Após cortar até o último tronco choramos pelas vidas arrastadas nos beirais do seu leito.
A violência banalizada agora tem outra aliada: a violência climática. O termo é forte. Ficamos nas explicações, quando alguém, em sua indignação, chama os cortadores de árvores ou lançadores de esgoto em terra alheia de criminosos. Pois é o que são! E, por fim, a violência gerada na ausência de empatia, finalmente chegou ao meio ambiente: cortar e matar.
Mas vem do Norte as notícias trágicas de que tudo deve retornar ao seu lugar: a glória dos anos 50. Intrusos que não têm documentos, os que lavavam latrinas, tem de sumir de seu país adotivo. Velhas térmicas a carvão serão ativadas. Estupradores nomeados a cargos públicos. A verdade reinventada. Em breve, seus cidadãos sentirão falta de quaisquer acordos que lhes devolva um amanhã.
Bem falou a Greta, quando afirmou, que os poderosos que hoje sujam o planeta estarão mortos em 20 anos. Nossos filhos e netos é que terão de respirar a sujeira toda.
Um dia, sendo improvável, gostaria de perguntar ao Criador, no que pensava e no que viu quando falou que iria destruir a todos. E por qual razão não o fez. Bastaria me explicar qual foi a sua esperança neste homem recém-criado e que já dava mostras horrendas do seu caráter. Preciso desta conversa!
Agora, o próprio Deus tem de nos dar forças para enfrentar as incertezas dessa jornada, com os degraus da violência climática crescendo, que começou não faz muito e que quase nem existiu. Porque a vida vale a maravilha que é, a cada segundo, a ela dedicamos os nossos suspiros de alegria e vertigem.
Dará forças o mesmo Deus, então!
A quem pedir, claro.
Referências:
1) Viu o Senhor que a maldade do homem havia se multiplicado na Terra…e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei…porque me arrependo de os haver feito. Porém, Noé achou graça diante do Senhor. A Terra estava corrompida à vista de Deus, e cheia de violência. (Gênesis 6: 5 a 11): Diálogo do Senhor com Caim. (Gênesis:4 a 10)
2) Greta Thunberg, ativista climática sueca.
3) O texto Bíblico utilizado foi o da tradução de João Ferreira de Almeida, versão atualizada.
Para nós, do Rio Grande do Sul, festejar pela primeira vez o 20 de novembro como feriado nacional tem um gosto especial. Pois foi aqui que surgiu a ideia do 20 de novembro ser a data icônica do combate ao racismo, pois é da data de Zumbi dos Palmares.
Deixei passar a data do 20 de novembro de 2024, primeiro feriado nacional para marcar a Consciência negra. Data muito cara para os lutadores sociais, no combate ao racismo, no resgate das ancestralidades, porque foi o dia da morte do Zumbi dos Palmares.No Rio Grande do Sul, Oliveira Silveira, professor e poeta de grandeza, já falecido, foi quem sempre defendeu esta data.
Ela, com alguns outros bravos como os jornalistas Emilio Chagas, Jeanice Dias Ramos, entre outros criam em 1978 a Revista Tição, que está num processo de retomada a partir desta data.
Lula
O presidente Lula quando das enchentes no Rio Grande do Sul se mostrou perplexo pelo número de negros encontrados. Estava na cidade de colonização alemã São Leopoldo.
Para quem vive nosso cotidiano rio-grandense não tem como ficar admirado, porque o Rio Grande do Sul sempre teve um grande contingente de negros, desde sua formação.
Por isso, já escrevi e sustento que Porto Alegre, a capital, é mais negra que açoriana, apesar do mito fundante ser da vinda dos 60 casais açorianos nos primórdios do seu nascimento.
Desde os primeiros aventureiros paulistas que para cá vieram fazer riquezas, prear gado, vinham com negros escravizados e até indígenas.
Um caso raro, talvez, é terem usado os indígenas por eles dominados para lutar contra seus irmãos indígenas daqui. Uma verdadeira “barbaridade” como se diz pelo Sul.
Num censo de 1814, Porto Alegre tinha 47% de sua população adulta negra. Registros se somem ou são apagados.
Quilombos no Rio Grande do Sul
Segundo os dados do governo federal, o Rio Grande do Sul tem 130 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Espalhadas por 58 municípios (de um universo de 497). No entanto, apenas quatro comunidades possuem a titulação das terras.
O Censo de 2022 do IBGE apontou que o Rio Grande do Sul tem 14.496 quilombolas, o que corresponde a 0,16% de sua população. O Estado é o 13° com maior população de quilombola absoluta. Estes e outros dados fui confirmar com a doutora em educação Eliane Almeida, do Instituto Apakani.
Em Porto Alegre
Oito quilombos já foram reconhecidos pela Fundação Palmares, e os demais estão com o processo em curso.
A administração local reconheceu quatro deles. O Quilombo da Família Silva foi o primeiro do Brasil a ter suas terras regularizadas.
Norte do RS
No Norte do RS temos sete comunidades quilombolas. Há 112 anos, grupo criou “clube para negros” para driblar segregação em Passo Fundo. O local tinha como objetivo incluir afro-brasileiros que não eram bem-vindos em outros espaços sociais do município.
Este tipo de clube era uma resposta contra a proibição em outros clubes, aqueles dos brancos. Estes espaços eram para receber os negros barrados nos clubes sociais, fomentado pelo racismo da época, segundo reportagens locais.
O movimento teria começado em 1912, com 11 homens negros, quando criaram a Sociedade José do Patrocínio, em homenagem ao abolicionista brasileiro.
Quatro anos depois, em 23 de abril de 1916, o grupo passou a se chamar Clube Visconde do Rio Branco — que, além de guardar a memória do movimento negro da cidade, também foi o primeiro clube com uma diretora mulher, Dona Madalena.
Para muitos parece estranho a vinculação de José Maria Paranhos, o Visconde, com os negros, é que a Lei do Ventre Livre foi aprovada por seu gabinete em 1871, reduzira substancialmente o contingente de escravos no país.
Em Porto Alegre, a tradicional Colônia Africana, não por coincidência, é o atual Bairro Rio Branco.
Memórias
Os maus tratos aos negros, escravizados ou não, em Porto Alegre foram sempre muito cruéis. Como de resto em todo o país.
Quem estudar a História das Charqueadas, em Pelotas e na região, vai se deparar com a situação deplorável dos escravizados.
Temos casos de açoitamentos no Pelourinho que ao contarmos nos dias atuais soam inacreditáveis. Temos os negros que foram levados ao Largo da Forca, muitos deles inocentes, e mesmo assim enforcados.
Muitos deles fugiam para os arrabaldes, tanto que temos os Campos da Redenção, hoje o principal parque público, oficialmente chamado de Farroupilha, mas que todos nós aqui chamamos de Redenção.
Havia também a Colônia Africana, onde hoje está o Bairro Rio Branco, de onde os negros foram expulsos pela força da exploração imobiliária que sempre foi desenfreada em Porto Alegre.
Como os negros foram sendo enxotados da sua Colônia Africana, um grande gueto negro da capital, o mesmo aconteceu com os negros da Ilhota, do Areal da Baronesa levados à força para os confins da cidade, mais de 30 quilômetros do centro, o Bairro Restinga, tanto que este criou sua fisionomia e cultura com largos traços do povo negro.
Esquecimentos e apagamentos
Censos são esquecidos ou desdenhados. São esquecidos os homens que fizeram antigas edificações e que se tornaram patrimônio histórico e cultural.
Em Porto Alegre, a cúpula da Igreja católica mandou demolir a antiga Igreja do Rosário sem qualquer razão para fazer desaparecer aquela que fora uma verdadeira obra de arte, fruta da luta da comunidade negra, para em seu lugar levantar uma nova com péssimo gosto estético.
Poucas eram as ruas com nomes de negros. Em todo o Centro Histórico, só há uma rua com nome de negro: José do Patrocínio.
Estudando as denominações de ruas, vamos verificar que os/as negros/as começam a aparecer em nomes de ruas e ruelas na periferia a partir das lideranças locais que queriam ver nomes de suas gentes.
Não se fala que Luciana de Abreu, professora, poeta e lutadora feminista do século XIX, fosse negra. Mas era.
O enforcamento do inocente escravo Josimo foi sendo esquecido, mas pude resgatar a sua história e de outros em crônicas muito antigas. O mesmo foi o caso da escrava Páscoa raptada por um ricaço da cidade.
Avaliação da situação do negro no rio grande do sul
Entrevistei o jornalista e ativista da luta antirracial Emílio Chagas que me disse o que segue:
Fotografia: Divulgação/rede social
Pergunta: como você vê a evolução da luta antirracial no RS da década de 70, época da Revista Tição, até hoje?
Emílio Chagas – Quando surgimos, em 1978, a Abolição da Escravatura ainda não tinha completado nem 100 anos ainda; a imprensa negra era praticamente inexistente, com referências dos anos 30 ou 40, com jornais voltados para temáticas clubísticas ou associativas. A Tição surge no bojo da luta contra a ditadura, como um produto da imprensa alternativa, também chamada de “nanica”. E trazia como o grande objetivo a conscientização das camadas negras da sua raça e etnia. Então, eram duas frentes: a questão racial e a luta política.
A receptividade foi enorme, o que era para ser uma publicação acabou se tornando um movimento. A revista surge antes do próprio Movimento Negro Unificado e 10 anos da criação da Fundação Palmares. Não existia rigorosamente nenhuma política pública governamental para a questão negra, nem municipal, nem estadual e muito menos federal.
O racismo estava instituído em todas as suas formas e frentes, mas a que mais nos impulsionaram para a luta foram as questões da discriminação racial e a violência policial. Além delas, ou talvez, decorrência delas, a exclusão social em todos os níveis, no ensino e no mercado de trabalho, principalmente. O negro era duplamente segregado, racial e socialmente.
Na dita sociedade, o racismo era velado e praticamente oficializado. Eram tempos em que se dizia que o negro “sabia o seu lugar” – ou seja, subalterno e nas camadas inferiores. O que mudou, os poucos avanços em relação aos dias de hoje, foi fruto da luta e da pressão social conquistada pelo movimento negro. É visível o avanço na questão da educação com a questão da política de cotas, que garantiu mais espaço aos negros e pardos nas universidades, a introdução do Prouni, etc – embora ainda falte muito.
Outro evolutivo se aloja dentro da própria comunidade negra, com seu autorreconhecimento como tal, exercendo o seu orgulho racial e estético. Existem outros avanços, sem dúvida, mas a questão do racismo estrutural ainda permanece – e aflorado pelo crescimento da extrema-direita nos últimos anos. Nesse sentido a questão da violência se tornou ainda mais agudo, assim como perseguição policial, a discriminação mais visível e as camadas negras ainda mais periféricas, fruto da brutal desigualdade social do país. A diferença é que os negros hoje estão mais organizados e oferecem mais resistência.
Pergunta: E o registro oficial de quilombos, o que achas?
Emílio Chagas: A luta quilombola é outro grande avanço, embora enfrente as grandes dificuldades típicas da questão da terra. Uma luta que remete diretamente à questão histórica dos direitos e da própria identidade negra. Ganhou força a partir da Constituição de 1988, mas ainda são grandes as suas dificuldades como o baixo número de quilombos titulados, a resistência e ataques do agronegócio, da especulação imobiliária e do próprio poder público, como se viu no governo Bolsonaro, a falta de infraestrutura nos quilombos e de acessos às políticas públicas existentes, como emprego e renda.
Nosso 20 de Novembro
Para nós, do Rio Grande do Sul, festejar pela primeira vez o 20 de novembro como feriado nacional tem um gosto especial. Pois foi aqui que surgiu a ideia do 20 de novembro ser a data icônica do combate ao racismo, pois é da data de Zumbi dos Palmares.
Já tínhamos aqui o Largo Zumbi dos Palmares, um espaço público quase no Centro da capital, onde há feiras e outros eventos.
E no mês da Consciência Negra, em Porto Alegre é lançado o livro “LUA – um griô de Porto Alegre”, no qual a autora Letícia Núñez Almeida, celebra uma das figuras mais emblemáticas da luta contra o racismo em nosso Estado e também no país.
Museu do percurso do negro
Há mais de uma década, Porto Alegre tem o seu museu ao ar livre do percurso do negro. Até o momento, são algumas obras em locais públicos, passando pelo Bará do Mercado, homenagem a este orixá, bem no centro do Mercado Público da cidade, o Painel Afro-brasileiro no muro do Chalé da Praça XV, a Pegada Africana em plena Praça da Alfândega e o Tambor, na Praça Brigadeiro Sampaio, onde fora no passado o Largo da Forca.
Parque Harmonia
O Parque da Harmonia, em Porto Alegre, que foi concedido à iniciativa privada e que gerou muitas polêmicas tem o Piquete Pelo Escuro em homenagem ao já citado poeta rio-grandense Oliveira Silveira, até porque ele foi um dos poucos negros que se vinculou a tradição local das cavalgadas, dos CTGs, da cultura da pampa gaúcha.
E, neste 20 de novembro, várias atividades culturais serão realizadas na cidade, como no Largo Zumbi dos Palmares, aonde já vinham sendo realizadas atividades na Semana que antecede esta data, na Câmara Municipal e, neste 2024, atividades da Prefeitura, organizações diversas, com atividades neste local.
Uma cavalgada estava programada pelos percursos dos negros será realizada, como do Viaduto Abdias do Nascimento, outro lutador da causa, muito conhecido, terminando neste Parque com uma churrascada coletiva. Porém, dado ao mau tempo foi postergada.
Escravidão contemporânea
A cada tanto, a mídia noticia casos e mais casos de escravidão contemporânea, com trabalhadores e trabalhadoras sendo resgatados sejam de fazendas nos fundões do país, em obras públicas terceirizadas, em atelieres de costura, como foi o caso na Vindima em Bento Gonçalves.
Estes casos ensejaram dois livros deste autor: “Escravidão Contemporânea, o caso da Serra Gaúcha” e “Vidas Roubadas, a escravidão que persiste”. Livrosque podem ser adquiridos com o autor em 051.999335309.
Retomadas contra o esquecimento e contra o apagamento
O “clube de negros” mais antigo do Brasil é o Floresta Aurora de Porto Alegre, fundado em 31 de dezembro de 1872, logo antes da Abolição, antes da República, fazendo agora 152 anos.
Já o Satélite Prontidão foi fundado em 1902 também em Porto Alegre, o José do Patrocínio, depois Visconde de Rio Brande de Passo Fundo, vem em seguida, em 1912.
Os clubes de Porto Alegre continuam muito ativos, sendo que foi publicado aos seus 150 anos uma Revista com a História do Floresta Aurora, seguidas de duas revistas.
Foi criado recentemente o Coletivo de Escritores Negros. Surge com força o Instituto Oliveira Silveira, um piquete em sua homenagem no citado Parque da Harmonia, Pelo Escuro.
Haverá, em seguida, o lançamento da retomada da Revista Tição, já mencionada como pioneira nacional nesta luta.
Não há ser humano órfão de lugar, mesmo que leve uma vida itinerante, isto é, sem lugar fixo. Todos nós sentimos saudade de algum lugar por onde passamos ou moramos.
“Tapera” é a denominação que damos a uma casa que foi habitada por pessoas em um tempo passado. A tapera, a “casa velha”, não é uma casa abandonada e esquecida apenas pelo fato de ninguém mais morar nela. A tapera, ou casarão, como a chamamos, é onde moram as lembranças de tempos próximos ou longínquos. A tapera, habitação em ruínas, é o lugar da nostalgia das vivências marcantes. Mesmo o estradeiro ou o nômade guardam na mente e no coração as paisagens por onde passaram.
Não há ser humano órfão de lugar, mesmo que leve uma vida itinerante, isto é, sem lugar fixo. Todos nós sentimos saudade de algum lugar por onde passamos ou moramos.
A tapera normalmente nos leva a um tempo de convivência familiar, com as memórias da infância e até mesmo da fase adulta. A tapera evoca os sentimentos das partidas e das mudanças. É difícil avistar uma tapera e ficar neutro diante dela, porque não é apenas um amontoado de telhados, janelas e portas caídas, corroídas pelos cupins. Ali permanecem os vestígios das pegadas humanas. Tornou-se um espaço sagrado, como uma liturgia a evocar infinitas lembranças.
A saudade não é um não-lugar. A lembrança é um sentimento afetivo, positivo ou negativo. Por isso, a nostalgia não é uma quimera fantasmagórica ou um “soluço psíquico”. A lembrança é a base antropológica das vivências existenciais, que constitui a espiritualidade do mundo vivido em sua fantasia e realidade. A fantasia e a realidade sempre nos trazem de volta para o chão da vida. Quanto mais estamos na fantasia, mais dentro da realidade estaremos, e só suportamos o peso da realidade por causa do alívio da fantasia. Sem fantasia, a vida se transforma em um peso insuportável.
A tapera, a “casa abandonada”, é a evocação do tempo conjugado no espaço.
A tapera é a estruturação de sentido, porque é sempre o espaço que indica as experiências vividas no tempo. A tapera é uma interpelação das memórias que ali estão presentes. As músicas, poesias e crônicas inspiradas em taperas são o recado do tempo que grita nelas para se evitar a amnésia do humano ausente. É neste sentido que a poesia não é outra coisa senão a rouquidão do tempo. A destruição de uma tapera, “da casa velha”, é a eliminação dos vestígios das pessoas ou grupos que por ali passaram.
Cada parede, telhado e esteio encontrados ao relento do tempo são sinais de que alguém morou naquele lugar, por isso são depositários de memórias. Nossa mente é povoada desses lugares onde vivemos parte de nossa vida. Quem não se lembra da primeira casa, do quintal, do terreiro e até mesmo do campinho das muitas brincadeiras? Os trilhos que davam acesso às casas da vizinhança para os encontros das prosas nos repetidos serões. Ao enxergar uma tapera à beira das estradas, logo nos vem à mente que ali habitaram pessoas que construíram suas subjetividades em muitas vivências tertúlicas.
Quem não fica emocionado quando vê uma fotografia da casa dos bisavós? A imagem expressa naquela foto revela muitas lembranças adormecidas.
Na verdade, a tapera, a “casa velha”, é o lugar onde habita a saudade. Em mim, há muitas moradias que trago “fixadas” na memória e que, geograficamente, não é mais possível encontrar, porque a fúria do progresso na sua fase de modernização destruiu todas essas moradias.
Como é bom sentir saudade da primeira casa onde a mãe nos assistiu e comemorou a vitória de nossos primeiros passinhos. Trago, bem fresquinho, guardado na mente, a minha primeira casa, construída de pau a pique, sem quintal e sem portão. No lugar dessa primeira casa foi construída outra de alvenaria, mas que, na atualidade, é uma tapera repleta de memórias de uma época que se foi.
Autor: José André da Costa , msf. Também escreveu e publicou no site “Do Cansaço”: www.neipies.com/do-cansaco/
Há, no Brasil, leis que combatem a discriminação contra a pessoa idosa. Para serem efetivas, é preciso amplo processo educacional (por Bahij Amin Aur, do Instituto Bonina)
Há, no Brasil, leis que combatem a discriminação contra a pessoa idosa. Para serem efetivas, é preciso amplo processo educacional por Bahij Amin Aur, do Instituto Bonina Sempre que nos detemos na questão dos direitos das pessoas idosas, temos, subjacente, o princípio da não discriminação.
Sempre que nos detemos na questão dos direitos das pessoas idosas, temos, subjacente, o princípio da não discriminação. A rigor, os direitos consagrados em nossa legislação têm implícito esse princípio, do qual pode-se dizer que decorrem os demais.
O princípio fundamental da não discriminação faz parte do Direito Internacional geral, aplicável a todos os países, e integra a Legislação brasileira de defesa e proteção da pessoa idosa, assim como da Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos, de 2015.
Em nosso país, a Política Nacional do Idoso (PNI), expressa na Lei nº 8.842/1994, tem por objetivo assegurar seus direitos, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade, sendo que estabelece no seu Art. 3º, entre seus princípios, que a pessoa idosa não deve sofrer discriminação de qualquer natureza.
Por sua vez, o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003), em seu Art. 4º, reafirma que nenhuma pessoa idosa deve ser objeto de qualquer tipo de discriminação, assim como de qualquer tipo de negligência, violência, crueldade ou opressão, acrescentando que todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
Quais são os direitos da pessoa idosa?
O próprio Estatuto, do Art. 8 º ao 42, os enumera e trata de cada um, chamando-os de “Direitos Fundamentais”.
São eles, os direitos a:
Vida /liberdade, ao respeito e à dignidade/ alimentos/ saúde/ educação/ cultura/ esporte e lazer/profissionalização e ao trabalho/ previdência social/ assistência social/ habitação/transporte.
A estes se agregam disposições referentes ao direito de Acesso à Justiça (do Art. 69 ao 92).
Acrescenta-se, a esta legislação nacional, a relevante norma internacional, já mencionada, que é a Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos, da qual o Brasil, no âmbito da Organização os Estados Americanos (OEA), não só foi um dos países signatários, como teve papel de ativo protagonista em sua elaboração e processo de discussão e aprovação.
Lamentavelmente, porém, ainda não a ratificou, apesar de o Poder Executivo, para esse fim, a ter encaminhado ao Congresso Nacional, sendo que, na Câmara os Deputados, recebeu parecer favorável de todas as Comissões pertinentes, estando, portanto, pronta para ser votada, com status constitucional, o que ainda não ocorreu.
Esta Convenção trata explicitamente da questão da discriminação, como pedra angular de seus demais preceitos. Ela afirma que “discriminação” é qualquer distinção, exclusão ou restrição baseada na idade que tenha como objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em igualdade de condições dos direitos humanos e liberdades fundamentais na esfera política, econômica, social e cultural ou em qualquer outra esfera da vida pública e privada.
Mais, ainda, põe em relevo a ocorrência da discriminação múltipla, que vem a ser qualquer distinção, exclusão ou restrição do idoso fundamentada em dois ou mais fatores de discriminação, tais como: sexo, diferentes identidades de gênero e orientações sexuais, deficiência, migração, pobreza, marginalização social, condição de sem teto e de sem-terra, privação de liberdade, origem étnica (afrodescendentes, povos indígenas e outros), pertencimento a povos tradicionais e a grupos nacionais, linguísticos, religiosos e rurais, entre outros.
E acrescenta que os países partes da Convenção desenvolverão enfoques específicos em suas políticas, planos e legislações sobre envelhecimento e velhice, com relação aos idosos em condição de vulnerabilidade e os que são vítimas de discriminação múltipla.
Em resumo, estabelece que os países devem reconhecer, prevenir e proteger as pessoas idosas da discriminação, inclusive da discriminação múltipla.
A não discriminação, portanto, não só é explícita, como permeia todos os direitos a serem protegidos, os quais são indicados, do seu Art. 5 º ao 27.
São eles, os direitos a: igualdade e não discriminação por razões de idade/ vida e dignidade na velhice/ independência e autonomia/ participação e integração comunitária/ segurança e a uma vida sem nenhum tipo de violência/ não ser submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes/ manifestar consentimento livre e informado no âmbito da saúde, do idoso que recebe serviços de cuidado de longo prazo/ liberdade pessoal/ liberdade de expressão e opinião e acesso à informação/ nacionalidade e liberdade de circulação/ privacidade e intimidade/ seguridade social/ trabalho/ saúde/ educação/ cultura/ recreação, lazer e esporte/ propriedade/ moradia/ meio ambiente saudável/ acessibilidade e mobilidade pessoal/ direitos políticos/ reunião e associação/ situações de risco e emergências humanitárias/ igual reconhecimento como pessoa perante a lei/ acesso à Justiça.
Se analisarmos esta enumeração de direitos, vemos que reforçam e não contrariam a legislação vigente no país, seja a constante da PNI, seja a do Estatuto do Idoso, que é mais sintética.
Ela também não contraria a Constituição Federal, que consagra a construção uma sociedade livre, justa e solidária como um dos objetivos fundamentais da República, bem como, embora com diversa redação, enumera, para todos os cidadãos, os direitos e garantias fundamentais, que incluem os direitos e deveres individuais e coletivos, os direitos sociais, os de nacionalidade, e os políticos (do Art. 5º ao Art. 16).
Apesar de, além da Constituição Federal, haver legislação nacional especifica (PNI e Estatuto da Pessoa Idosa), e de haver a possibilidade de a ela ser incorporada a Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos no nosso sistema jurídico garantidor, ainda persistem discriminações contra a pessoa idosa. Como tornar eficaz sua aplicação?
Como combater a discriminação contra a pessoa idosa?
É, sem dúvida, de natureza cultural a persistência do idadismo [1], que é o preconceito baseado na idade, o qual ocasiona diferentes formas de discriminação.
Esse preconceito, que pode ser inconsciente ou deliberado, provoca comportamentos que vão desde insinuações jocosas, até ações violentas contra a própria vida de pessoas com mais idade.
Se, de acordo com o Art. 3º do Estatuto da Pessoa Idosa, é obrigação da família e do Poder Público, também é obrigação da comunidade e da sociedade assegurar às pessoas idosas, com absoluta prioridade, a efetivação dos seus direitos fundamentais, sem discriminação de qualquer espécie.
Nesse sentido, para que a sociedade realize as desejáveis mudanças culturais e comportamentais, promovendo valores, atitudes e emoções favoráveis ao respeito e à dignidade das pessoas idosas, há necessidade de amplo processo educacional junto aos indivíduos, famílias, comunidade e sociedade.
Tais mudanças são difíceis e lentas, mas necessárias, associadas à execução de políticas setoriais e locais que garantam concretamente envelhecimento ativo, com proteção, cuidados e oportunidades para a preservação de sua saúde física e mental, bem como seu aperfeiçoamento intelectual e social em condições de autonomia e dignidade.
E, para isso, a escola tem papel primordial, pois expressiva maioria das crianças, adolescentes e jovens do país frequenta escolas de Educação Básica, além dos jovens e adultos que frequentam instituições de Ensino Superior. E a tripla finalidade de toda a Educação Nacional é o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Tomando-se que o preparo para a cidadania integra essa finalidade, lembra-se que o Estatuto da Pessoa Idosa determina que:
Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria. (Art. 22 da Lei nº 10.741/2003)
Esta determinação já vinha da lei da Política Nacional do Idoso:
(…) inserir nos currículos mínimos, nos diversos níveis do ensino formal, conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma a eliminar preconceitos e a produzir conhecimentos sobre o assunto. (Art. 10, inciso III, alínea “b” da Lei nº 8.842/1994)
São, portanto, duas leis federais repetindo o mesmo mandamento e, nem por isso, sua real aplicação se efetiva nas unidades educacionais dos diferentes Sistemas de Ensino, aos quais cabe fazer com que elas, sejam públicas ou privadas, incluam essa temática em seus currículos, pois cabe a cada uma a formulação de seu Projeto Pedagógico.[2]
No final de 2017, o Conselho Nacional de Educação aprovou a Base Nacional Curricular (BNCC), como referência para os currículos escolares da Educação Básica, pela Resolução CNE/CP nº 02/2017, fundamentada pelo Parecer CNE/CP nº 15/2017, dispondo no §1º do seu Art. 8º que:
Os currículos devem incluir a abordagem, de forma transversal e integradora, de temas exigidos por legislação e normas específicas, e temas contemporâneos relevantes para o desenvolvimento da cidadania, que afetam a vida humana em escala local, regional e global, observando-se a obrigatoriedade de temas tais como o processo de envelhecimento e o respeito e valorização do idoso; (….) g.n.
Deste modo, vemos que as normas educacionais retomaram o mandamento legal do Art. 22 do Estatuto do Idoso, que reafirmou a alínea “b”, do inciso III do Art. 10 da Lei nº 8.842/1994, da Política Nacional do Idoso.
Concluindo:
– Se a Constituição Federal e as leis específicas afirmam e reafirmam o princípio da não discriminação da pessoa idosa;
– Se ainda persistem diferentes discriminações, com consequente violação de direitos;
– Se o problema advém de traços culturais negativos da sociedade que levam a discriminações;
– Se mudanças culturais resultam de alteração de atitudes, atos, comportamentos e, mesmo, de emoções,
O caminho estratégico e privilegiado é o de um processo que promova uma ampla educação solidária, constituidora da cidadania.
E esse caminho é a geral e irrestrita implementação, nas instituições educacionais de todos as etapas e níveis, sejam da Educação Básica, sejam da Educação Superior, de currículos que tratem do processo de envelhecimento, do respeito e da valorização da pessoa idosa, para eliminar o preconceito.
Educação social solidária é o caminho!
REFERÊNCIAS:
[1] Também chamado de ageismo e de etarismo.
[2] AUR, B. A. O processo de envelhecimento e o respeito à pessoa idosa nos currículos escolares. In Márcia Lígia (org.). Academia Paulista de Educação: 50 Anos, São Paulo: Miró Editorial, 2020.
Assim foi que mais de uma centena de autores entraram no barco desta coletânea solidária. Vieram de muitos céus, com o peito ofuscado de sol. Sintonizados num cordão de apoio, porque a alma sabe e vibra na mesma frequência (Nurimar Bianchi, in Sol das águas de maio).
Retomo a ideia de que a aprendizagem não tem limites. Não importa a idade, o lugar e o contexto em que se vive. Ágrafos, agricultores, moradores de rua e pescadores que, por mais humildes que sejam, sempre têm muito a ensinar, pois eles têm o senso pragmático das coisas e da vida.
Até pouco tempo, o nome Rashid era visível somente nos contos árabes. Tratavam sobre o poderoso Sheik Rashid, o fundador de Dubai. Hoje em dia, o termo Rashid foi sublimado para a ideia de solidariedade, compartilhamento, coletividade e por aí vai. Dessa forma, tornou-se comum um grupo de amigos invocarem-no, em caso de rateio de gastos de uma viagem, festa e até de um jogo de loteria. É Rashid pra cá; Rashid pra lá.
– De boa, entra nessa, cara!
Assim, para a viagem se tornar mais econômica e mais interativa, um grupo de cinco acadêmicos que ia ao lançamento do livro Sol das Águas de Maio, em Soledade, decidiu ir com um só carro e cinco pessoas, mais o Rashid. Recolhidas as 5 pessoas, Galheta questionou:
– Motora, falta o Rashid! No carro cabem 5 pessoas. Ele irá conosco?!
– Claro que irá, responderam os quatro ocupantes, mas com sorrisos levemente ironizados.
– Mas 6 adultos neste carro!?
Ao que o Delegado respondeu:
– A gente dá um jeito!
Enquanto o silêncio calava o grupo, a chuva barulhenta descia com tudo.
Wherther Brado, o motorista, ria para dentro de si, segurando a pegadinha do Rashid. No entanto, a novel poetiza do grupo, não se conteve e disse:
– Rashid não é uma pessoa. É apenas a ideia de solidariedade, colega!
Aplausos!
E a viagem seguiu tranquila até a cidade de Soledade, onde a escritora Nurimar Bianchi e a equipe organizadora do livro Sol das Águas de Maio organizou o lançamento da obra. O propósito foi organizar uma antologia que revertesse a favor dos que foram atingidos pelo dilúvio das águas de maio no RS, especialmente as escolas dos alunos que tiveram suas bibliotecas escolares e pessoais levadas pelas forças impiedosas dos rios da terra. Fenômeno nunca visto pelas gerações mais recentes.
O interessante foi a forma como a antologia de poemas e contos foi pensada. Estipulou-se que os participantes contribuiriam com R$ 100,00 por página escrita. No entanto, os exemplares do livro não poderiam ser vendidos, mas sim distribuídos gratuitamente. Como houve mais de cem autores e autoras interessados, bem como empresas patrocinadoras, o valor arrecadado foi usado para pagar as despesas da Gráfica Lupagraf e da Editora Alternativa, restando uma boa grana a ser doada a entidades beneficentes.
Nesse tempo de aquecimento global, inúmeros desastres naturais pegam sem aviso prévio os ribeirinhos dos rios, riachos, lagoas e até as populações das grandes metrópoles, não importando a categoria econômica e social. A fúria da natureza vem na forma de enchentes, secas, tornados e furacões. Desse modo, além do exercício constante de prevenção, há de se organizarem mutirões de solidariedade às pessoas e animais atingidos pelos desastres de tamanha grandeza.
Como se vê, a figura do Rashid, com seu espírito de solidariedade e divisão do ônus e do bônus, constitui um maravilhoso exercício de compartilhar o pouco que se tem com os que, ocasionalmente, tudo perderam, menos a dignidade. Nesse sentido, mais de uma centena de contistas e poetas independentes, invocaram o espírito de Rashid, como escreveu o Professor Mauro Gaglietti, quando se referiu ao poder da literatura e à força da palavra:
A literatura tem o poder de tocar a alma, de restaurar esperanças e de reavivar a força interior. É na criação literária que encontramos refúgio e, ao mesmo tempo, um campo fértil para a reflexão e o crescimento. Em cada conto, em cada poema presente há um pedaço da nossa identidade, uma parte da nossa história, que nos convida a mergulhar nas profundezas do ser e a emergir renovados. (Sol das águas de maio, 2024, p.11).
Quer queira, quer não, Rashid entrou com tudo para representar o espírito de solidariedade em relação ao sofrimento dos atingidos pelas enchentes de maio de 2024 no RS, tanto no que se refere ao ato de ajudar essas pessoas desamparadas, quanto na significação ficcional da palavra.
– Longa vida ao espírito de Rashid!
Autor: Eládio Vilmar Weschenfelder. Também escreveu e publicou no site “Sol Vermelho”: www.neipies.com/sol-vermelho