Futebol: o porquê de tanto sofrimento

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Para que o futebol não faça mal à saúde de tantos brasileiros, é necessário deixar de promover a sua narcização. Aliás, o problema, todos sabemos, vai bem além do Brasil.

Um número significativo de torcedores sofre periodicamente de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). O desencadeante é uma derrota de seu time vivenciada como um evento excepcionalmente catastrófico. Uma derrota inesperada, incabível, geradora de perplexidade.

Num primeiro momento, o torcedor pode apresentar sintomas de um estresse agudo: poucos minutos após o ocorrido surge nele uma sensação de atordoamento, ansiedade, desespero, raiva, retraimento ou hiperatividade.

O TEPT aparece mais tarde como uma resposta tardia ao evento. Caracteriza-se pela volta a mente, sem o comando do indivíduo, da lembrança da derrota fatídica. Ela vem de forma invasiva, como flashbacks. Os sonhos podem ser tomados por pesadelos ligados ao fato estressor.

A dor emocional é muito grande e a sensação é de que não há saída, não há escape. O torcedor tende a se retrair, a evitar situações que lhe provoquem mais intensamente a sofrida lembrança. Às vezes, ele fica hostil, adotando comportamentos incompatíveis com sua boa educação, mas compatíveis com a chamada raiva narcisista.

Ocorre que somos todos sujeitos a busca de prazeres narcisistas, daquela sensação de ser superior e mais poderoso: “papai é o maior”, “imortal”, etc. Uma vez que ocorre a narcização do futebol e do “meu clube”, estou inevitavelmente sujeito ao sofrimento narcisista. Uma armadilha, já que no futebol e em qualquer esporte competitivo convive-se com derrotas.

No Brasil, vice-campeonato não significa nada. Só interessa a posição de campeão. Tal fato atesta o quanto patologicamente promovemos a narcização do futebol, pois o desejo narcisista só é satisfeito se nos sentimos superior a todos.

Para que o futebol não faça mal à saúde de tantos brasileiros, é necessário, portanto, deixar de promover a sua narcisação. Aliás, o problema, todos sabemos, vai bem além do Brasil.

Na famosa série Os Simpsons, a certa altura um personagem explica para outro o que é o futebol, dizendo: “É aquela coisa que detonou a cabeça dos Europeus e dos Sul-Americanos”.

Autor: Jorge Alberto Salton. Também escreveu e publicou no site “Nossa bola era mesmo rachada, mas só por fora”: www.neipies.com/nossa-bola-era-mesmo-rachada-mas-so-por-fora/

Edição: A. R.

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