Espiritualidade Holística

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Para quem vive dentro de uma realidade cultural dualista ou de visões parciais da espiritualidade, de visões que mais dispersam do que unem, é importante recuperar ou buscar a espiritualidade da inteireza, da integração, da visão holística, recuperando um centro que possa nos unir e ser fonte de vida para todos os viventes.

“Que uma das funções da nossa capacidade de compreensão seja esta: uma compreensão simbólica, mística, sapiencial, que entre em comunhão com a sabedoria  do cosmos, que cante as estrelas como diz o salmo, escute a mensagem e decifre aquele elo último que tudo amarra, que é o Espírito Criador, que é Deus, entranhado na realidade.” (Leonardo Boff)

Leonardo Boff sobre a Dimensão Espiritual através da Arte e da Natureza.

Que uma das nossas capacidades seja também, buscar a integração, a centralidade da espiritualidade superando dicotomias e dispersões.

Muitas e muitas vezes eu ouvi: “A gente vive como pensa”, por isso, é importante pensar o quê se pensa para saber por que temos certas práticas? Por exemplo, que compreensão temos da espiritualidade e a que práticas ela nos leva?

A espiritualidade deveria ser fruto da inteireza do ser humano, pois tudo o que é inteiro é belo, é justo, é sagrado. Portanto, a espiritualidade, se quer ser inteira, bela, justa, sagrada, deve contemplar todas as dimensões do ser humano, segundo Jean-Yves Leloup, correspondentes a quatro questões: O quê, Quem, Por quê, Para quem?

É na integração entre a sensação, o sentimento, a razão e a intuição, é na conexão entre estas quatro propriedades, que podemos encontrar a centralidade da espiritualidade.

Para ter uma melhor compreensão, de cada uma dessas propriedades, dou uma rápida explicação de acordo com Jean-Yves Leloup:

a) O quê: A verdadeira espiritualidade não pode ignorar a matéria, a materialidade do corpo, da terra (Nossa Casa Comum) a materialidade do universo. A saúde espiritual, do nosso ser, depende da saúde da matéria, depende da saúde da nossa casa comum, do universo, expressão de toda a matéria.

O ser espiritualizado, no sentido holístico, tem uma profunda preocupação com a ecologia, com a saúde plena do universo.

b) Quem:  A espiritualidade da inteireza tem como segunda questão: Quem? Quem convive comigo? Qual a relação que vivo com os outros? Não posso me sentir feliz se os outros não estiverem sentindo a mesma felicidade.

Assim como a minha saúde espiritual está ligada à terra, está ligada ao universo, porque eu sou terra, eu sou universo, assim também a minha saúde espiritual está ligada à saúde psíquica da sociedade, porque eu sou sociedade.

c) Por quê?  A espiritualidade holística não deixa de se colocar uma terceira questão: O por quê desta vida? O por quê desta vida jogada dentro de um espaço-tempo? Esta questão ajuda o ser humano a descobrir o sentido da sua existência, a ter consciência sobre tudo o que acontece ao existir humano. 

d) Para quem? Por fim, a quarta questão: Para quem nós vivemos? Com esta questão chegamos ao campo das religiões ou das tradições espirituais, cuja finalidade é estabelecer uma profunda conexão com o SER. Uma das maiores angústias do ser humano é não estar conectado à Fonte do Ser.

“Minha alma está inquieta enquanto não repousa em Deus”. Santo Agostinho.

Para quem vive dentro de uma realidade cultural dualista ou de visões parciais da espiritualidade, de visões que mais dispersam do que unem, é importante recuperar ou buscar a espiritualidade da inteireza, da integração, da visão holística, recuperando um centro que possa nos unir e ser fonte de vida para todos os viventes.

Com esta compreensão, certamente cultivaremos um profundo respeito e cuidado ecológico. Com esta compreensão, jamais nos fecharemos numa redoma egoística, pensando exclusivamente na nossa felicidade. Com esta compreensão certamente a justiça social não será apenas uma expressão, tantas vezes repetida, sem maiores consequências, mas um motivo forte para lutar pela causa dos que sofrem injustiças. Com esta compreensão, certamente saber-se-á colocar o Espírito Divino como Elo de integração e como essencial animador da vida, reconhecendo sua beleza, sua sacralidade e seu dinamismo interior e exterior.

Autor: Pe. Euclides Benedetti

Edição: Alex Rosset

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