Em defesa dos professores

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Sou a favor de um país que se desenvolve investindo de verdade na Educação. E contra qualquer postura que afete negativamente essa maravilhosa classe: os professores.

Estou recebendo dezenas de mensagens de pessoas, do Brasil todo, revoltadas com a postura dos professores e, consequentemente criticando minha defesa a essa classe. Dizem que os professores estão dando uma de “deuses do olimpo” se achando melhores do que outras classes profissionais por desejarem receber a vacina prioritariamente.

Então seguem algumas explicações, já que minha função como professor que sou é ensinar:

1 – Não queremos ser vacinados antes que ninguém, pois justamente por termos estudado, sabemos ser humildes e reconhecer o valor de todos. O que estamos dizendo é que não queremos ser obrigados a voltar a dar aulas presencialmente sem a vacina.

Podemos esperar sim, basta que o poder público nos vacine antes de nos obrigar a voltar. Querem que as aulas recomecem? Vacinem os professores antes!

2 – Dizer que “os professores são pagos com os nossos impostos” é de uma injustiça ainda maior. Os políticos incompetentes (não são todos, graças a Deus) não agilizaram a vacinação, não conseguiram investir no lugar certo, e agora obrigam os professores a pagar pela falta de planejamento deles. E também os políticos são pagos com os nossos impostos.

Ah, só lembrando, do salário do professor é retirado uma porcentagem (com o nome de impostos) que vai para a Educação, ou seja, os professores também pagam para que seus filhos e os nossos estudem em escolas públicas.

3 – Se um professor for contaminado, ele (como as pesquisas já mostraram) contamina praticamente todos os alunos antes de perceber os sintomas. As crianças contaminam os pais e os avós e um surto aumenta quase imediatamente. Vários países voltaram a cancelar as aulas apenas algumas semanas depois do retorno presencial. Aprendemos com a história? Creio que não.

4 – Acreditar que as crianças vão obedecer aos protocolos de segurança (máscaras trocadas a cada duas horas, álcool em gel sendo utilizado sempre que outra criança tocar em seus pertences, manter a distância interpessoal e lavar com frequência as mãos) é de uma ingenuidade impressionante. Convido essas pessoas a ver como funciona uma escola para que vejam de perto como é. Nem sabão a maioria tem. Bem, não é uma boa ideia, pois essas pessoas podem estar contaminadas.

5 – Sei que as crianças em casa são outro problema, talvez muito grave, mas por que colocá-las numa situação de perigo ainda maior? Se a promessa é de que logo todos estejam vacinados, porque não permanecemos nas aulas virtuais apenas mais um tempo? Está difícil, cansativo, improdutivo em alguns casos, mas é uma solução menos perigosa.

6 – Valorizamos todas as classes profissionais e certamente contribuímos para a formação desses profissionais, mas um empregado numa empresa, isolado numa mesa tomando todas as precauções e com colegas que fazem o mesmo é MUITO diferente de obrigar um professor a dar aulas para crianças que simplesmente não vão obedecer tais regras. A maioria porque são crianças vivas, alegres, animadas e de bem com a vida, mas muitas porque simplesmente não obedecem nem aos pais, imagine obedecer a normas de saúde como essas.

7 – Cuidado para não colocar a sociedade contra os professores. Dar aulas online é chato, amamos dar aulas presenciais. Mas amamos nossa vida e a vida de nossos familiares. Não nos recusamos a educar, muito menos nos consideramos superiores, mas queremos que sejam justos com a gente. E, por incompetência do nosso país que não investiu adequadamente em pesquisa não temos a vacina a tempo (apesar disso parabéns aos pesquisadores brasileiros que estão à frente da maioria dos países) e também por incompetência não compramos as vacinas a tempo. E tendo a vacina estamos vacinando 24 horas por dia para acelerar a vacinação? Duvido que seja realidade.

8 – Dizer que os professores não querem trabalhar é não ter acompanhado nenhuma das aulas dos próprios filhos, pois se tivessem acompanhado teriam visto o enorme esforço dos professores em criar materiais novos, adaptar metodologias e ser criativo em todo o resto. E se a pessoa não tem filhos, poderia ter perguntado antes para então criticar.

9 – E dizer que eu defendo os professores não é crítica, pois eu defendo sim. Amo a classe e sempre defenderei cada professor desse país. Quer saber o valor de um deles?

Quando estivermos vacinados vá assistir uma aula presencial numa escola (a maioria) sem papel higiênico, sem sabão para lavar as mãos, sem materiais adequados e sem manutenção. MUITAS escolas são assaltadas com frequência e seus professores são ameaçados caso chamem a polícia.

Vá lá. Passe uns dias conversando com professores e com alunos. Veja a realidade. E não são só escolas do Rio de Janeiro (como são mais divulgadas pela mídia), mas da quase totalidade das capitais e de uma boa parte das escolas das outras cidades. E se por sorte você visitar uma que tem pelo menos um cafezinho na sala dos professores, pergunte de onde veio o pó. Com certeza de uma vaquinha entre os mestres.

10 – E por último, vamos confrontar NÃO OS PROFESSORES que estão desde o início ao lado da população, mas os responsáveis por nosso país estar assim. E pelo amor de Deus, não estou falando que o problema é só da atual gestão federal, pois há centenas de anos nosso país não tem um plano nacional de valorização da educação (onde os professores fariam parte).

Ou seja, o problema continua sendo de cidadãos que preferem atacar-se uns aos outros que criticar quem realmente merece ser criticado.

Esquerda contra direita deveria ser apenas no campo das ideias, mas pessoas morrem porque a defesa de um ou outro medicamento toma viés político. Meu Deus! Deixem os médicos decidir.

E a ordem de prioridade para a vacinação?

NUNCA deveria ter sido objeto de decisão política, mas de um plano bem fundamentado por uma equipe multidisciplinar da Defesa Civil, dos ministérios de Saúde e de Planejamento, dos especialistas em pandemias, endemias e epidemias e principalmente de profissionais experientes que realmente poderiam ter trazido informações científicas relevantes para a produção de um plano excelente. Essa equipe apresentaria o plano para o governo federal e aí sim teríamos sua execução. Mas, da forma como foi feito, prefeitos e governadores ficam de mãos amarradas por não terem autonomia, mesmo tendo mais competência que muitos “federais”.

E por último, atenção: vou excluir, nem vou comentar, comentários a favor ou contra qualquer partido político. Não sou contra nem a favor a nenhum deles.

Sou a favor de um país que se desenvolve investindo de verdade na Educação. E contra qualquer postura que afete negativamente essa maravilhosa classe: os professores.

Autor: Marcos Meier

Edição: Alex Rosset

1 COMENTÁRIO

  1. Amei o artigo! É bem isso! E pior ainda acham que a panemia e culpa do professor!
    Querem que o professor volte a dar aula presencias sem segurança e sem vacina! E impõem que eles aceitem servir de cobaia! Muito triste! Como se fossem apenas um número a ser substituído! Como se sua vida não importe!

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