Triste é ter de lamentar que ideias criativas dos professores e professoras sejam abandonadas e substituídas por um trabalho excessivamente burocrático para quem tem somente um período de aula semanal. Perdem os estudantes, comprometem-se as aprendizagens significativas e mata-se a possibilidade de criação de atividades pelos próprios docentes.
Há pelo menos 08 anos, trabalho com Projeto “Anotações filosóficas” numa escola da rede municipal de Passo Fundo, em todas as séries finais do Ensino Fundamental. Uma ideia que nasceu com a perspectiva de praticar a filosofia do cotidiano, a partir de anotações que possam incentivar o pensamento crítico e filosófico e de fazer registros para que ideias e pensamentos não se percam, por falta de anotação, como já sugeria o escritor e palestrante Rubem Alves.
Os estudantes, de sexto ao nono ano, ao modo artesanal, produzem uma capa no Caderno Especial de Anotações Filosóficas. Trimestralmente, recebem orientações novas para registros que incluem conceitos, tirinhas, poesias, pequenas histórias, pensamentos de autores, dentre outros. E fazem com muita dedicação, esmero e responsabilidade. Recebem, também, incentivo para que, voluntariamente, façam anotações livres de pensamentos, charges, tirinhas ou pequenas histórias que julgarem importante guardar.
Leia, a seguir, depoimento de estudante que, ao longo dos últimos quatro anos, desde 2022, vem produzindo seu Caderno de Anotações Filosóficas.
“Eu tenho o meu Caderno de Anotações Filosóficas desde 2022. Nele não faço somente anotações solicitadas pelo professor, mas também gosto de registrar refrão de músicas que gosto, parágrafos de livros que achei interessantes e até uma receita de minha mãe que deixei registrado lá.
O caderninho tornou-se muito mais que uma atividade avaliativa, mas sim, um hábito de anotar memórias que não quero esquecer”. (Estudante A. D. da L, Nono Ano)
Contudo, nos últimos anos, esta ideia está sendo inviabilizada por absoluta falta de tempo para que o professor possa visualizar, observar e fazer devolutivas motivadoras para os estudantes. Vejam que sempre foram em torno de 200 Cadernos de Anotações Filosóficas recolhidos em cada trimestre. Mas o que mudou de alguns tempos para cá na rotina e no trabalho dos professores e professoras?
A falta de tempo para fazer as devidas observações e retornos junto aos Cadernos de Anotações Filosóficas deve-se pelo aumento de demandas burocráticas que vem sendo impostas à nossa profissão. De alguns tempos para cá, nosso cotidiano de professores foi ocupado por exigências burocráticas que não nos permitem mais tempo para ler, planejar e estruturar metodologias e aulas mais dinâmicas, produtivas e interessantes.
Estamos resistindo para não abandonar a ideia, mas está ficando praticamente insustentável trabalhar com tão pouco tempo para mantê-la com a qualidade necessária.
Com profunda tristeza, lamentamos que ideias criativas dos professores e professoras da rede pública, em especial, sejam abandonadas e substituídas por um trabalho excessivamente burocrático para quem tem somente um período de aula semanal. Perdem os estudantes, comprometem-se as aprendizagens significativas emata-se a possibilidade da criação de atividades pelos próprios docentes.
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Autor: Nei Alberto Pies. Também escreveu e publicou no site “Nunca somos: sempre estamos sendo professores e professoras”: www.neipies.com/nunca-somos-sempre-estamos-sendo-professores-e-professoras/
Edição: A. R.
Nei, temos de resistir. A prioridade dos barões e ‘líderes’ na educação não é educar. Apenas controlar.
Continue a expor porque sempre haverá janelas a espiar, portas a empurrar.
Um dia, elas abrirão!