Casais precisam se reconhecer diariamente. Precisam olhar um ao outro com olhos de quem deseja o bem, e não com o peso de quem cobra ou corrige. É urgente buscar ajuda, avaliar o rumo das relações, reaprender a respirar antes de agir. Pois uma vida pode mudar para sempre em um segundo.
Não há nada de cômico em uma cena onde o desespero toma o lugar do diálogo, onde uma arma substitui a palavra e onde o acúmulo de sentimentos represados explode como um grito silencioso finalmente rompido.
O episódio ocorrido aqui em Passo Fundo, RS, não é apenas um caso policial, é o retrato do grau de estresse, das dores caladas e dos relacionamentos adoecidos pelo excesso, pelo descuido e, muitas vezes, pela opressão.
Quantas vezes essa mulher já foi interrompida? Quantas vezes teve sua autonomia desvalorizada por um comentário, um olhar, uma crítica constante travestida de “palpite”? Em que momento ela deixou de ser parceira para tornar-se subordinada dentro do próprio negócio e da própria casa?
Há, sim, uma cultura machista que naturaliza a invasão do espaço da mulher.
E há um ponto de ruptura: quando a humilhação silenciosa, acumulada por dias, meses ou anos, encontra um gatilho e acende o pavio da tragédia. Um gesto impensado é sempre antecedido por uma dor ignorada. A violência não começou ali, com a arma em punho; começou quando o respeito foi embora e o afeto deixou de ser prioridade.
Este, e outros tantos, não são apenas casos de polícia, mas de saúde emocional, de relações humanas esgotadas, de almas famintas por escuta e por acolhimento. O alimento da alma — esse que vem da espiritualidade, da terapia, do autoconhecimento e do diálogo verdadeiro — parece ter sido negligenciado em nome do acúmulo de tarefas, das metas do comércio, do cansaço cotidiano.
Mas a pergunta que não pode calar é: o que estamos cultivando em nossos lares — amor ou apenas a sobrevivência?
Casais precisam se reconhecer diariamente. Precisam olhar um ao outro com olhos de quem deseja o bem, e não com o peso de quem cobra ou corrige. É urgente buscar ajuda, avaliar o rumo das relações, reaprender a respirar antes de agir. Pois uma vida pode mudar para sempre em um segundo.
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Provérbios 4,23)
Autora: Vera Dalzotto. Também escreveu e publicou no site “Justiça restaurativa: um caminho, não um negócio”: www.neipies.com/justica-restaurativa-um-caminho-nao-um-negocio/
Edição: A. R.