Paulo César Rigo: presente!

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Paulo Rigo sempre será lembrado por sua paciência e generosidade. Sua única preocupação era o caos e a barbárie que o sistema capitalista produz. Os problemas menores ele ajudava a resolver com alegria e otimismo.

No último dia 11 de abril de 2025, deixou-nos Paulo Rigo, aos 65 anos. Paulo César Rigo começou sua militância nos anos 1980, na Convergência Socialista, corrente do PT que deu origem ao PSTU. Foi eleito vereador pelo PT em 1988, exercendo o mandato até 1992. Comerciário, atuou por anos no sindicato de Passo Fundo.

Morava atualmente em Santa Cruz do Sul, onde teve sua casa atingida pelas cheias de 2024. Era dirigente do PSTU e da CSP-Conlutas no Rio Grande do Sul.

O suporte à atuação sindical vinha de sua militância política. Rigo atuou no Sindicato dos Comerciários de Passo Fundo e foi um dos fundadores da CUT Planalto Médio e da CSP-Conlutas, além de ter sido um dos fundadores do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) no município.

A sua despedida foi marcada por um ato político, com presença de pessoas de diferentes regiões do estado do RS e do Brasil, demonstrando a importância do seu engajamento e envolvimento com a política local, regional e nacional. Em diversas falas e homenagens, Rigo foi tratado como um irmão, como alguém que nunca mediu esforços e sacrifícios para travar lutas em prol da classe trabalhadora.

Deixa-nos um bonito legado e um exemplo de militância e engajamento social.

Seguem breves depoimentos de duas pessoas que o conheceram e que com ele conviveram na política e na construção do movimento sindical da região de Passo Fundo, RS, do RS e do Brasil.

DEPOIMENTO DE COMPANHEIRO DE LUTAS E JORNADAS SINDICAIS

Por Nicolau Neri Gomes

Paulo Rigo foi o primeiro Presidente do Sindicato dos Comerciários de Passo Fundo em 1983, ainda na ditadura militar, junto com um grupo de lideranças jovens de várias das principais lojas na cidade.

Esta primeira eleição do Sindicato dos Comerciários foi disputada em dois turnos e, mesmo tendo vencido no voto direto, tivemos que entrar na justiça para conseguir tomar posse.

A direção do sindicato que representava a patronal que vencemos na eleição em 1983 era composta de gerentes de lojas e departamento pessoal, hoje RH, Recursos Humanos. Isso demonstra que o Sindicato dos Trabalhadores Comerciários tinha o controle direto da patronal.

Nesta época, quando era contratado na empresa, já era filiado direto ao sindicato e o desconto era direto na folha de pagamento. Eu mesmo era filiado e não sabia porque quando assinei o contrato de trabalho junto estava a fixa de filiação.

Após assumirmos a direção do sindicato, as empresas pararam de fazer as filiações direto na contratação dos trabalhadores(as) e várias pararam de fazer o desconto em folha, nos obrigando a fazer a cobrança individual, o que tornou nosso trabalho mais difícil. Ainda tinha a pressão das empresas para não descontar mais a mensalidade para o sindicato.

Fomos o primeiro sindicato do norte do estado do RS a se filiar à CUT. Participamos da fundação da CUT Nacional em SP também em 1983. Fomos também articuladores da organização de oposição aos demais sindicatos urbanos já organizados como Bancários, Alimentação e Metalúrgicos, CPERS Sindicato e dos trabalhadores Rurais de Passo Fundo e Região.

Paulo Rigo participou e contribuiu na organização da CUT Regional Planalto. É importante lembrar que já tivemos 3 vereadores comerciários eleitos do PT, que foram: Paulo Rigo, Neri Gomes e Adelar Aguiar. Mais recentemente, também Eva Valeria Lorenzato, comerciária por muitos anos. O Sindicato também ajudou na formação de outras lideranças que também foram Presidente do Conselho Municipal de Saúde, candidatos a prefeitos e deputados sempre por partidos de esquerda comprometidos com a classe trabalhadora.

Legenda: Primeira Diretoria Sindical/Cutista/de esquerda do Norte do RS!

Rigo teve grande enfrentamento contra o horário livre no comércio na cidade, proposta do sindicato patronal que, num primeiro momento, tentaram colocar no dissídio coletivo, não teve aceitação na mesa de negociação e foi rejeitado em assembleia dos comerciários. Em 1993 esta proposta tramitou como Projeto de Lei na Câmara Municipal de Vereadores que tinha a maioria para aprovação.

Paulo também mobilizou e coordenou grandes greves: a primeira greve na Grazziottin em 1985 e esteve junto na greve de 40 dias no HSVP, outras greves chamadas pela CUT em mobilização nacional, em defesa da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, um terço de férias, 40% no fundo de garantia, aumento real no salário-mínimo, salário-mínimo regional, junto com o departamento rural da CUT defendeu e contribuiu na mobilização dos agricultores familiares em defesa do seguro agrícola.

Foi um grande companheiro de lutas em defesa dos direitos da classe trabalhadora. Deixa um legado de compromisso com as mudanças sociais que precisam sempre da organização e luta dos próprios trabalhadores e trabalhadoras, a partir dos seus Sindicatos.

DEPOIMENTO DE AMIGO E COMPANHEIRO DE LUTAS

(Por Cícero Marcolan)

Paulo Rigo, o Revolucionário de Passo Fundo!

Adeus, amigo, sem mãos nem palavras. Não faças um sobrolho pensativo. Se morrer, nesta vida, não é novo. Tampouco, há novidade em estar vivo. (Serguei Iessienin)

É preciso arrancar alegria ao futuro. Nesta vida morrer não é difícil. O difícil é a vida e seu ofício. (Maiakovski)

Éramos amigos de infância, morávamos perto, 100 metros separavam a Alfaiataria do seu Carlos (Pai do Paulinho) do armazém do meu pai.

Paulo Rigo, quando jovem, era ousado, confiante, criativo, tinha muitos amigos. Gostava de vinho e de massa, de preferência à bolonhesa. Quando falava, gesticulava muito com as mãos e, se os cabelos caiam nos olhos, costumava afastá-los com um sopro pelo canto da boca.

Começamos a militar juntos, eu com 20 anos ele com 19. Com o Mosquito e o Rivaldo, fomos companheiros na construção da Convergência Socialista em Passo Fundo. Lutamos pelo fim da Ditadura Militar, fomos fundadores do PT em Passo Fundo.

Queríamos um PT sem Patrões, nem Generais; militamos no Movimento Estudantil e no Movimento Sindical…

Mesmo depois da morte de Nahuel Moreno e da crise da LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores), quando eu parei de militar, ele continuou. Era um otimista, foi um dos imprescindíveis. Lembro-me de que ele gostava de uma música cantada por Talo Pereyra (“Se quiseres me encontrar, dou-te meu paradeiro em qualquer frente de luta, construindo o Partido Obreiro”) e foi assim que Paulo Rigo viveu a maior parte de sua vida, militando pela construção do PSTU e da LIT.

Ele não deixou herança de bens materiais, mas seu legado foi o exemplo de uma vida dedicada à causa da Revolução Socialista. Sempre via nas pessoas mais as qualidades que as limitações; gostava de polemizar, era franco e direto; mas sabia escutar, aprendia, ensinava, aconselhava e com isso ajudou a formar muitos militantes revolucionários.

Assim que o Luisão me avisou de seu falecimento inesperado, viajei de Porto Alegre a Passo Fundo com a Tânia, o Mosquito e o Edemar (que recentemente publicou um livro contando a história da Convergência em Passo Fundo).

Chorei em seu velório com meu afiliado Nauhel, sua companheira Adriana e seus familiares. Mas não estávamos sozinhos, em sua cerimônia de despedida, havia militantes do PSTU de POA, Santa Cruz, Caxias, São Paulo, muitos dirigentes sindicais da Conlutas, metalúrgicos, professores, estudantes, comerciários… todos tristes porque Paulo foi embora muito cedo; mas todos reconhecendo o quanto ele foi importante na construção da Revolução socialista e também como fez a diferença na vida pessoal de muitos que ali estavam.

Como me disse seu filho Nahuel, quando lhe perguntei como estava a relação com o Paulo, e ele me respondeu que cada conversa com seu pai era uma aula. Paulo Rigo sempre será lembrado por sua paciência e generosidade. Sua única preocupação era o caos e a barbárie que o sistema capitalista produz. Os problemas menores ele ajudava a resolver com alegria e otimismo.

Viveu e morreu, lutando pela construção do partido da revolução mundial. Foi feliz!

Autor: Cícero Marcolan (apelido Bibi)

Edição: A. R.

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